Entrevista – Professor da Unesp alerta para o aumento de acidentes com animais aquáticos no verão

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Da Redação – O verão faz com que um grande número de pessoas se instale em ambientes aquáticos, devido à busca de atividades de lazer. Estas se somam aos habitantes de áreas de praias, rios e lagos, predispondo acidentes por animais aquáticos. Há anos, Vidal Haddad Junior, Professor Livre-Docente da Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp, procura fazer com que descobertas e tratamentos de primeiros socorros para estes acidentes (por ouriços-do-mar, águas-vivas e caravelas e peixes venenosos como arraias e bagres) sejam passados à população contando com o papel fundamental da mídia no processo.

ouricoNo verão, muitas campanhas são deflagradas prevenindo contra vários problemas, como queimaduras solares, afogamentos, mas praticamente não se fala sobre estas ocorrências, que são comuns em ambientes aquáticos. Estes dados foram obtidos, registrados e organizados de uma forma simples e acessível à população por mais de 25 anos através de atuação direta e folhetos informativos que produzimos http://cebimar.usp.br/index.php/pt/com-flippingbook-menu/com-manage-pages-menu/folheto-animais-marinhos-prevencao-de-acidentes-e-primeiros-cuidados.html). Confira a seguir os principais trechos da entrevista com o especialista da Unesp.

Pergunta – Quais os animais marinhos mais perigosos das praias brasileiras?
Vidal Haddad Junior – Os animais que podem provocar acidentes nas praias são principalmente os ouriços-do-mar, as águas-vivas e caravelas e alguns peixes peçonhentos como os bagres e mais raramente, as arraias e os peixes-escorpião. Outros peixes podem causar traumatismos graves, como os tubarões, em situações ainda mais raras (com algumas áreas do Brasil sendo exceção, como a região de Recife, em Pernambuco).

Pergunta – Como identificar se um animal marinho é peçonhento?
Vidal Haddad – Não há uma regra definitiva. Qualquer pessoa sabe que deve evitar a proximidade de um tubarão, mas algumas águas-vivas são de difícil visualização na água e também podem causar graves acidentes. Uma regra básica é não tocar nenhum animal trazido às praias pelas ondas.

Pergunta – Quais os animais marinhos que mais provocam acidentes nas praias?
Vidal Haddad – Em dados obtidos em mais de 25 anos de trabalho na área e obtidos no litoral da região Sudeste (no Pronto-Socorro de Ubatuba, SP) vimos que 2% dos atendimentos foram por animais aquáticos. Os animais causadores foram os ouriços-do-mar (50% de mais de 2500 casos), as caravelas e águas-vivas (25%) e os bagres e arraias (25%). Entre os peixes peçonhentos, a maioria absoluta dos acidentes em humanos é causada por bagres atirados na areia por pescadores de pequenas redes e pisados por banhistas e caminhantes.

Pergunta – Como evitar acidentes por águas-vivas?
Vidal Haddad – Nos acidentes por águas-vivas, raramente se vê o animal, que é transparente (a menos que seja uma caravela, que tem uma bolsa flutuadora arroxeada). Quando acidentes deste tipo acontecem, a melhor coisa a se fazer é deixar a água, pois pode acontecer de haver um grande número destes bichos chegando à praia (embora animais isolados possam causar acidentes).

Pergunta – Quais as situações que precipitam acidentes por ouriços-do-mar e quais são as medidas de primeiros socorros para um acidentado?
Vidal Haddad – O ouriço-do-mar é recoberto por espinhos. Ele fica em colônias em paredões rochosos ou em pequenas lagoas que se formam nas marés em terrenos pedregosos entre praias. Quando pisados, os espinhos se quebram e penetram profundamente na pele da vítima. O acidentado deve ficar em repouso, evitando pisar sobre a área atingida, o que irá fazer os espinhos penetrarem ainda mais na pele. Deve-se procurar atendimento hospitalar para extração dos espinhos, o que pode ser uma tarefa muito difícil, uma vez que estes se fragmentam.

Pergunta – Quais as medidas de primeiros socorros para um acidente por água-viva?
Vidal Haddad – O acidente deixa linhas avermelhadas e dor intensa, correspondentes aos tentáculos dos bichos. A dor é instantânea e violenta. Os tentáculos ainda aderidos devem ser retirados sem usar as mãos nuas e é fundamental o uso de compressas de água do mar gelada ou cold-packs – gelo artificial – (água doce piora o quadro!). Banhos com vinagre ajudam a inativar o veneno.

Pergunta – O que é mais perigoso para um banhista: águas-vivas ou caravelas? Como diferenciá-las?
Vidal Haddad – Apesar de ambas pertencerem a um mesmo grupo de animais (cnidários), as águas-vivas são transparentes e raramente são visíveis na água, enquanto que as caravelas apresentam uma bolsa púrpura que flutua cima da linha da água, sendo facilmente avistadas. É importante ainda saber que cnidários permanecem com capacidade de envenenar até cerca de 24 horas fora da água, o que deve ser levado em consideração pela possibilidade de crianças brincarem com animais encalhados nas praias.

Pergunta – Em que época do ano caravelas e águas-vivas aparecem mais?
Vidal Haddad – As águas-vivas e caravelas realmente aumentam em quantidade durante o verão, provavelmente devido a épocas de reprodução dos animais e a chegada de correntes frias de alto-mar em nosso litoral (e nesta época os turistas também aumentam nas praias). Os acidentes por ouriços-do-mar também aumentam nesta época, mas somente pelo aumento dos turistas descuidados nas praias.

Pergunta – Quais os peixes mais perigosos para os banhistas?
Vidal Haddad – Os peixes que mais provocam acidentes são pequenos bagres atirados na areia e águas rasas por pescadores amadores e que tem veneno ativo em seus ferrões por horas após sua morte. Deve-se tomar cuidado ainda com arraias, que permanecem enterradas na areia e podem provocar acidentes graves através de ferrões presentes na cauda. É importante se ter em mente que todo acidente por peixe tem a dor aliviada por imersão do local em água quente (mas nunca quente demais). Nos rios, os mandis e bagres tem o mesmo papel dos bagres marinhos. Os acidentes por arraias podem ser graves e existem muitos peixes traumatizantes, como as piranhas, pintados, dourados, etc. Acidentes por peixes marinhos e fluviais causam dor e necrose (feridas) na pele.

Pergunta – Em que praias aparecem tubarões?
Vidal Haddad – Os acidentes causados por tubarões são raros na costa brasileira e no mundo todo. Na região metropolitana de Recife, no entanto, vem ocorrendo dezenas de acidentes nos últimos anos, provavelmente pela mudança do ecossistema local e do ambiente dos tubarões, que vem se aproximando das praias e vitimando surfistas. Em outros locais do Brasil é muito pouco provável acontecer um acidente.

Pergunta – Quais os perigos a que estão expostos os mergulhadores? E os pescadores amadores?
Vidal Haddad – Os mergulhadores estão sujeitos a acidentes com mais espécies de animais perigosos que os banhistas. Por exemplo: o peixe mais venenoso da costa brasileira é o peixe-escorpião, que fica camuflado nos fundos rochosos. Um acidente provoca dor intensa por mais de 24 horas. As arraias também podem causar acidentes, assim como moréias, barracudas e outros peixes grandes. A regra é olhar, mas não tocar, uma vez que quase todo animal marinho possui alguma forma de defesa. Pescadores amadores se acidentam ao retirar peixes venenosos dos anzóis, como bagres ou peixes-escorpião.

Pergunta – Quais os cuidados que um banhista deve ter ao nadar nos rios e lagos?
Vidal Haddad – Não há necessidade de cuidados especiais em relação aos animais fluviais. Os acidentes ocorrem principalmente em pescadores, por ferroadas de mandis, mordidas de piranhas, dourados, etc. Nos rios da Amazônia, no entanto, existe um pequeno bagre parasita que pode penetrar na uretra humana (o candiru) e só pode ser extraído através de cirurgia, razão pela qual quem nada nos rios evita urinar na água e usa proteção para impedir a entrada do peixinho. Outro perigo são as arraias de água doce, que ferroam pessoas que as pisam em águas rasas e causam dor e feridas.

Pergunta – Os frutos do mar provocam alergia? Qual a gravidade?
Vidal Haddad – Os crustáceos (siris, caranguejos, lagostas, camarões) apresentam pigmentos que podem provocar alergia em humanos com certa freqüência. Esta se manifesta por placas avermelhadas e muito prurido (urticária), com ocasionais problemas respiratórios por inchaço na garganta e podem até causar a morte rápida (choque anafilático), de forma semelhante ao que acontece nas picadas de abelhas. Qualquer pessoa que apresente este tipo de alergia deve ser levada ao Pronto-Socorro mais próximo.

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