Fala, Dorival!

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* Paisagens Outras – Hoje começo o meu papo com você, caríssimo leitor e estimada leitora, cheio de gás para dividir histórias e explorar paisagens outras. A ideia é que este espaço sirva para falarmos sobre cultura pop, com ênfase na produção musical, além de causos da vida deste escriba.
 

Para estrear a coluna, penso que seria importante começar pelo meu nome incomum, que já me rendeu alguma diversão e um pouquinho de aborrecimento (não chega a 60 o número de “Dojivais” no Estado de São Paulo, segundo o IBGE).  

A cena se repete com certa frequência, quando sou apresentado a alguém, tenho de preencher uma comanda ou atendo a um telefonema.

– Quem fala? – Oi, é o Dojival. – Doji … quê? Dorgivan? (parece que o cérebro do meu interlocutor trava como numa busca em que o Google tenta corrigir a sua pesquisa com um “você quis dizer…”) – DO-JI-VAL, pronuncio bem devagar. Em seguida, com certa dose de sarcasmo, acrescento que até gostaria de me chamar João ou Antônio, o que facilitaria bastante a minha vida e certamente evitaria momentos improdutivos como aquele.

 
O fato é que não foram poucas as vezes em que meu nome rendeu trocadilhos e até situações embaraçosas. No dia em que entrevistei o Erasmo Carlos, por telefone, fui atendido primeiramente pelo empresário do veterano roqueiro, responsável pelo equívoco. “Eraxxmo, é o Dorival, lá do jornal do ABC.”
 
Segundos depois, o Tremendão, exibindo sua habitual boa vontade com a imprensa, tentou conquistar minha simpatia logo de cara. “E aí, Dorival, tudo bem? Você sabia que eu e o Roberto fizemos uma música nos anos 1970 chamada Fala, Dorival para a trilha da novela O Bofe?”, e começou a cantarolar um dos temas do folhetim de Bráulio Pedroso, exibido pela Globo em 1972. “Fala, Dorival, com um sorriso na mão, pouca grana no pão, mil cuidados com a moça, se não ela cansa e cai…”
Após uma introdução com um tributo desses, diga a verdade, você faria o quê? Iria contrariar o segundo na linha de sucessão da monarquia da MPB? Por acaso, colocaria em risco o bom andamento da entrevista com o “amigo de fé, irmão camarada”? Nem eu, que sou mais tonto.
 
Por isso, nos quarenta e cinco minutos seguintes, bicho, eu fui o Dorival e assunto encerrado.
Em outra ocasião, numa matéria sobre o lançamento de um DVD do Jair Rodrigues, ele atendeu o telefone às gargalhadas, cantando com a característica energia de 440 volts, sambalançando no ritmo do “deixa que digam, que pensem, que falem”. Ouvi do outro da linha: “Faaaaaaaala, Dou-tor Ji-va-go.”
Em 38 anos, já fui Diginal, Djavan, Dojivato, Duji (em uma inesquecível noite no Cavern Club, em Liverpool, tema de uma futura coluna) e outras tantas variações mal e bem-intencionadas de Dojival. Ah, me empolguei e esqueci de explicar: esse nome foi dado ao meu pai em homenagem a um vaqueiro conhecido na literatura de cordel por nunca mentir, o que, para um jornalista, não é nada mal, concorda?
 
* Dojival Filho é jornalista, músico, escritor e sempre pensou que o Mestre dos Magos era um tremendo picareta. Contato com o colunista pelo e-mail:  dojix@yahoo.com.br
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1 comentário on "Fala, Dorival!"

  1. Gabriel Cardoso

    Esse é FERA e sabe do que fala!
    uma grande conquista para a equipe do Clique ABC!
    Grande Doji, muito Sucesso pra você!

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