IESCS: ‘atropelado’ pelo progresso; preservado em nossos corações

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No final do ano passado, eu estava no Facebook falando rapidinho com o Renê, um grande amigo, daqueles das antigas, quando ele do nada me falou:

– Dila você não sabe. Ontem demoliram o IESCS…

Bom, para quem nunca ouviu falar nessas siglas elas foram de super importância na minha história, e nas de tantos outros sul-sancaetanenses. Afinal, o Instituto de Ensino de São Caetano do Sul foi a minha pimeira escola.

Quem me conhece sabe: tenho uma boa memória. E as desses tempos de IESCS, então…

Lembro de muitos professores: a minha primeira professora foi a Elizabeth. Depois a Izildinha, a Dona Irene, mãe da Izildinha, e tempos depois veio o professor Victor, que me fez começar a pensar em política.

Lembro do IESCS antes mesmo da reforma, que foi feita, imagino, nos meados dos anos 80. Foi na cantina da dona Josefa, mãe da professora de Inglês, a Jô, que comi o melhor misto quente da minha vida. Que eu devorava com uma caçulinha, que só de lembrar me vem o cheiro e o gosto à mente.

Lembro dos uniformes. O velho que era uma sainha xadrez, com uma blusa branca com o brasão da escola. Meias 3/4 brancas, ou a calça cinza escura (para os dias de frio) com sapatinho preto. E logo depois da reforma começamos a usar o uniforme cinza e vermelho.

Embora o prédio estivesse abandonado, e acumulando lixo a sua frente, o ambiente era especial. Lembro-me de crianças gritando; carros fazendo filas na Rua Amazonas; o sinal tocando. Mas nada me afasta da minha memória a cena congelada da minha avó na porta da escola para me buscar, ou mesmos dos amigos queridos que juntos subíamos a rua, ou íamos depois da aula no Pão de Queijo da esquina. Mas isso já numa época em que o misto da Dona Josefa era coisa de criança. Íamos conversar coisas muito sérias ‘que só os adolescentes sabem conversar’.

E o que dizer da figura impoluta do seo Vicente Bastos, o diretor da escola? Toda vez que ele me via na Avenida Goiás, afinal ele morava ali do lado da prefeitura velha, o seo Vicente me cumprimentava pelo nome, e ainda perguntava da minha mãe e da minha avó.

Tinha também a Tia Iara, que tinha a fama da mais brava da escola, e que depois de anos eu passei a frequentar sua casa. Ali também na Rua Amazonas, onde fomos vizinhas. E o seo Roberto, o porteiro. Diz a lenda que elem ao sair da sala da entrevista de emprego, com o próprio diretor, voltou para entregar um alfinete que achou no chão e perguntou se era doseo Vicente. Assim, pela demonstração de honestidade, conseguiu o emprego. Seo Roberto ficava na roleta para a gente mostrar a carteirinha.

Desses personagens, nunca vou me esquecer. Da amizade e da personalidade de cada um deles. Até porque posso imaginar o que cada um deles acharia de viver nesse mundo tão desonesto, violento e tecnológico de hoje?

Que saudades do Clube de Poesia, onde todos os sábados eu participava das aulas do Fausto e da Maristela.

Que saudades do Clube de Poesia, onde todos os sábados eu participava das aulas do Fausto e da Maristela. Foi lá que que conheci ‘Terturiano’, ‘O caminho de Parsárgada’, e onde fui alertada que ”no caminho tinha uma pedra”, e antes da idade lia (sem entender muito) Olavo Bilac, Clarice Lispector, Vinicius de Moraes, bem antes de pensar em fazer vestibular.

Foi lá que fiz amigos queridos, como o Rene Raposo, o Alexandre Zapparolli, a Edelice Vitali, Luis Fernando e Paulo de Castro, os irmaos Borsoi, o Negrão, Regina Braido, Luciana Rossi, Alessandra e Ana Paula (filhas da Tia Iara) e tantos outros que continuam na minha memória e fazem parte ativa da minha história.

Foi lá que fiz amigos queridos, como o Rene Raposo, o Alexandre Zapparolli, a Edelice Vitali, Luis Fernando e Paulo de Castro, os irmaos Borsoi, Negrão, Regina Braido, Luciana Rossi, Alessandra e Ana Paula (filhas da Tia Iara) e tantos outros que continuam na minha memória daqueles tempos e alguns fazem parte ativa da minha história hoje.

Lembro do laboratório de química, que ficava do lado do teatro e toda vez que saia das cochias via no vidro um feto, um crânio e uma caveira tímida num canto, onde o destaque era a tabela periódica. Dali só lembro mesmo do teatro. A química ficou na gaveta.

E o que falar da biblioteca? Lugar que adorava – ficava tardes depois do almoço lendo, pesquisando e flertando.

Lembro das festas juninas, dos ensaios do dia 7 de Setembro, do primeiro beijo e do primeiro namorado. Aquelas escadas tortas de ladrilhos vermelhos que ficaram lá de pé, mesmo depois da reforma.

Enfim, hoje eu acordei lembrando da aura que essas tardes e manhãs tinham. Das pessoas queridas que faziam parte desse cenário e de muitos que ainda fazem. Acordei nostálgica por saber que na minha ida ao Brasil, neste ano, não verei mais a minha escola.

Mas em seguida me conforto. Afinal é bom, muito bom saber que ela jamais sairá de dentro de mim…

* Odila Giunta, by London

* Odila Giunta é jornalista, natural de São Caetano, e mora e trabalha atualmente em Londres. Correspondências para a colunista pelo e-mail odila.bylondon@gmail.com

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1 comentário on "IESCS: ‘atropelado’ pelo progresso; preservado em nossos corações"

  1. Silvia

    Querida Odila, navegando nas ondas da internet encontrei seu texto, ao ler, minha memória foi invadida por imagens e aromas, mas o melhor estava por vir… quando procurei o autor e encontrei seu nome!!
    Meu Deus!! Que grata surpresa!!!
    Não sei se lembrará de mim… mas tenho memórias de uma menina que adorava poesia 🙂
    Beijos de um tempo distante

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