Porquê não ao impeachment de Dilma

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* Dojival Vieira – Que o Governo Dilma Rousseff se tornou indefensável, todo mundo sabe. Até mesmo seus apoiadores. Tanto que o único argumento que levantam em sua defesa é o fato de ela ter sido eleita.

Para alguém que é de esquerda e defende mandatos revogáveis, como é o meu caso, esse único argumento perde sentido como defesa de um Governo incompetente, envolvido com o maior escândalo de corrupção da história do país, e responsável pelo maior estelionato eleitoral já praticado em eleições no Brasil.

Não me alinho ao lado dos que neste domingo (17/04) votarão e ou torcerão pelo impeachment por outras razões. A despeito do passionalismo e da intolerância reinantes de lado a lado – defensores e contra o impeachment -, vale à pena tentar dar um mínimo de racionalidade ao debate. Vamos as razões:

1 – O impeachment, se autorizado pela Câmara no domingo, o que tudo indica que acontecerá, se uma vez instaurado o processo pelo Senado, Dilma for finalmente afastada do cargo, um eventual Governo Temer não muda o quadro de grave crise econômica. Nem a lógica do mercado, a quem o eventual Governo Temer, a exemplo do atual, estará a serviço. A lógica é elementar: o preço da crise gerada por políticas econômicas erráticas adotadas por governantes ineptos, deve ser jogada sobre a maioria dos brasileiros, em especial, os mais pobres e, dentre estes, a maioria negra.

2 – O custo da crise já vem se traduzindo em inflação, desemprego, e cortes de direitos sociais, como é sabido. Esse quadro, repito, não mudará em um Governo Temer, que será mais um “acordão por cima”, costumeiro expediente das classes dominantes no Brasil, sempre que a situação ameaça fugir ao controle. O povo como sempre, deve ficar, por essa lógica, na arquibancada, onde, no máximo, pode torcer, nunca entrar em campo para decidir a partida.

3 – O impeachment, que só passará no contexto deste “acordão”, do “pacto de salvação nacional” já antecipado por Temer, representará a reaglutinação dos grupos identificados pela Operação Lava-Jato como “sócios honorários” do sistema corrupto, que está sendo desmontado com a prisão de políticos e dos principais empreiteiros do país, ainda agora hóspedes da carceragem de Curitiba.

4 – Entre esses “sócios” estão os presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos do PMDB. Alguém, em sã consciência, pode imaginar que Temer vá romper com ambos e que a Operação Lava-Jato, já agora sofrendo dura campanha liderada pelo lulopetismo, não vá perder impulso no eventual novo Governo? Não é razoável pensar que não.

Por isso, ser incompreensível que a esquerda – ou quem se reivindica ou se identifica com essa posição no espectro político-ideológico – endosse e apoie a campanha do lulopetismo contra o juiz Sérgio Moro e contra a Operação, responsável pelo desmonte do sistema corrupto, que não é novo, mas que se sofisticou – e muito – nos últimos 13 anos sob os Governos Lula e Dilma.

Claro que, quando se vê alguém com um discurso conservador apoiando a luta contra a corrupção, e a esquerda, sair em defesa de corruptos notórios e reincidentes, há algo de muito errado. Há algo de muito “podre no reino da Dinamarca”: os sinais estão evidentemente trocados.

5 – O impeachment abrirá as comportas do oceano de forças conservadoras empoderadas pelo lulopetismo, que chegou ao Planalto para fazer mudanças estruturais e traiu as esperanças, as expectativas e a confiança de milhões de brasileiros, optando por se acomodar ao sistema corrupto e as alianças com Sarney, Collor e Maluf em nome de uma governabilidade que, na prática, significava governar para os mesmos que sempre utilizaram o Estado para a manutenção do sistema secular de privilégios.

6 – O impeachment, por fim, justificará o discurso e a narrativa que já vem sendo exercitada pelo lulopetismo, de que é vítima de um “golpe”. O mantra “não vai ter golpe” entoado nos quatro cantos do país é mais do que um contraponto ao impeachment, que todos sabem é mecanismo constitucionalmente previsto em casos de crimes de responsabilidade, praticados com fartura por Dilma. É o pós-discurso; é o discurso a ser usado no day after ao afastamento da presidente.

7 – Foi antecipado por ter mais apelo à chamada “militância”, em especial, essa que se incorporou nos 13 anos de governos de Lula e Dilma, constituída por setores despolitizados e cooptados da juventude, educados sob a lógica do “fla x flu” (PT x PSDB); por integrantes das máquinas partidária e governamental constituídas no entorno do PT e PCdoB; pela máquina sindical azeitada com dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), tendo à frente a CUT, notório caso de correição de transmissão do partido; e por “movimentos sociais” cooptados, beneficiários de projetos governamentais emendas parlamentares.

8 – O mantra, por menos sentido que tenha, acabará se confundindo com o discurso de Lula, já em campanha para 2018, e do PT e PC do B, que se apresentarão como vítimas de um golpe das “elites”.

9 – Por isso, por mais dolorosa que seja a opção de aguentar esse governo por mais dois anos e meio, com todas as consequências que isso acarretará (aumento da crise econômica, desemprego, inflação sem controle e quebradeira de empresas etc), ainda assim acho preferível que o Brasil passe pelo processo pedagógico da educação política pela dor para sair dele mais forte.

10 – A interrupção desse processo só servirá para garantir mais um “acordão” por cima, e de camuflagem para a manutenção do sistema político corrupto. Ainda que essas não fossem razões suficientes, haveria outra indiscutível: o povo brasileiro precisa assumir – até o fim – a responsabilidade e as consequências pelas escolhas que faz nas eleições. Do contrário, continuará repetindo os mesmos erros!

dojivalv00114042016121121* Dojival Vieira é advogado, palestrante, consultor de políticas públicas para a valorização da diversidade. Contato pelo e-mail dojivalvieira@hotmail.com ou pelo site www.afropress.com

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