A ditadura sequestrou bebês? Por que o Brasil não investigou esse tema?

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12899805_10205120785573151_2041008171_nDa Redação – O Brasil teve bebês sequestrados por agente da ditadura? Havia maternidades clandestinas, como nos países vizinhos, durante os anos de chumbo? Houve algum caso de bebê roubado de mães que lutaram contra a ditadura e entregue a empresários que financiaram o regime de exceção? São perguntas ainda sem respostas na história do Brasil. E nenhum governo civil após os chamados anos de chumbo ousou determinar uma investigação sobre esses temas. Trata-se de uma questão ainda não resolvida da ditadura brasileira e na memória do país.

O jornalista Eduardo Reina pesquisou o tema e relata um caso emblemático, o único registrado oficialmente: é o de Lia Cecília da Silva Martins, empresária de 41 anos (segundo registro feito pelos pais adotivos) que hoje mora no Rio de Janeiro. No início da década de 1970, ela foi sequestrada ainda bebê e levada para um internato na cidade de Belém do Pará por dois militares que atuaram contra a guerrilha no Araguaia. Acabou adotada por uma família paraense, que desconhecia a origem da criança.

Paralelamente à pesquisa, Eduardo Reina escreveu um livro que conta a triste e violenta história do sequestro de bebês por agentes da repressão na ditadura no Brasil – e como essas pessoas viveram depois desse conturbado período. Todos os personagens são baseados em histórias reais de pessoas que viveram, lutaram contra, sofreram ou apoiaram a repressão nos anos de chumbo. São as histórias de Margareth e José Eugênio, Theophilo e Cláudia Prócula, e principalmente de Verônica, personagens criados no livro “Depois da Rua Tutoia” (11 Editora).

É uma ótima base para debates sobre esse momento da história. Afinal, o sequestro de filhos e filhas de militantes de esquerda durante os anos da mais recente ditadura brasileira e entregue a outras famílias, uma ação muito usual nos países do Cone Sul, principalmente na Argentina, também aconteceu no Brasil.

E qual a razão de não ter havido investigação sobre esse doloroso, mas presente, tema da história brasileira, durante os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade? E se houve alguma busca, por que não foi levada adiante?

Depois da Rua Tutoia. O livro de Eduardo Reina é uma obra romanceada com base na história contemporânea do Brasil. Há personagens criados pelo autor e personagens reais que interagem, contando os fatos ocorridos na época e chamando a atenção do leitor para importantes fatos do cotidiano da época.

O romance começa mostrando a vida de Margareth e José Eugênio, militantes de esquerda que lutaram contra o regime de opressão na década de 1960. O casal criou uma célula de resistência no município de Mauá, região do ABC paulista, e trabalhou numa fábrica de porcelana. A mesma onde o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, foi funcionário naquela década.

Juntos com membros da Igreja Católica organizaram os operários e moradores pobres da região. Mas foram localizados por agentes da repressão. Margareth ficou presa no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna), na Rua Tutoia, na capital paulista, centro de prisão e tortura durante as décadas de 1960 e 1970.

A história criada por Eduardo Reina mostra o que aconteceu com a militante presa e a filha que teve no cárcere. São contadas as vidas desenvolvidas depois da prisão no DOI-Codi da Rua Tutoia.

A bebê é entregue a um poderoso e influente empresário paulista, que comandava um grupo financiador de movimentos de repressão, principalmente os clandestinos. A menina cresce e começa a vivenciar uma série de problemas na família adotiva.

Com o passar do tempo, Verônica vai à busca de sua verdadeira origem, enquanto a mãe biológica, morando na Europa, desenvolve pesquisa e trabalhos acadêmicos com famílias de desaparecidos políticos.

Verônica é uma alma atormentada, aprisionada à história, ou à falta de história. Passa a vida à busca da verdade.

“Depois da Rua Tutoia” mostra idealismo, corrupção, tortura, amor, traição, ódio e a convivência entre o bem e o mal escondidos na alma dos homens e na história do Brasil durante aquele período. Com consequências inimagináveis que persistem até hoje, mais de 30 anos após o fim da ditadura.

Serviço – Lançamento oficial: dia 7 de abril, às 19h, no Canto Madalena – R. Medeiros de Albuquerque, 471 – Vila Madalena – São Paulo. O livro já está em pré-venda no site da 11 Editora (www.11editora.com.br)

Eduardo Reina – Atualmente é coordenador do Departamento de Imprensa da Artesp. Trabalhou em vários jornais, revistas e periódicos, rádios e televisão em São Paulo e no interior, desde 1983. Atuou como diretor de redação, editor, colunista e repórter. Também foi assessor de imprensa de entidades, empresas e sindicatos. Ganhou vários prêmios de jornalismo como o Abril, o Estado e o Imprensa Sindical. Este último lhe proporcionou fazer curso de complementação na Organização Internacional do Trabalho (OIT) na Suíça, em 1993. Em 2010, seu blog venceu o prêmio Estado. No mesmo ano também foi menção honrosa no prêmio Excelência Jornalística da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). Autor do livro de contos policiais “No Gravador” (2003). Integrante dos livros “O Conto Brasileiro Hoje”, Volume 5 (2007) e “Contos e Casos Populares” (introdução de Paulo Freire) (1984). Também atuou como ghost-writer em livro-biografia nos últimos anos.

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