* Raphaela Ribas Lupion Gubert – Recentemente recebi uma ligação da professora do meu filho por conta de um bilhete que coloquei na agenda relatando que ele esquecia com frequência o livro na escola e não conseguíamos realizar as tarefas.
No decorrer da conversa, aproveitei para perguntar como ele tinha se saído em sua primeira prova – ele tinha 6 anos na época. A professora prontamente me contou que ele é uma criança muito rápida, inteligente, e que, apesar de toda a sua agitação, foi muito bem, antes mesmo dela terminar de entregar a prova à turma – o combinado foi que eles fariam a prova juntos – ele já tinha terminado.
Não preciso contar o que aconteceu, não é? Ele, como toda criança ativa, híbrida e amplamente conectada com mundo, não ficou sentado em sua cadeira esperando os outros terminarem. Levantou-se e foi conversar com seus colegas. Porém, era o momento da prova e ele atrapalhou a dinâmica da turma.
Nesse instante, interrompi a professora ao telefone e imediatamente perguntei: você tinha outras atividades preparadas para crianças que finalizavam as provas, certo? Novamente, o esperado: não, ela não tinha. Fez-se um silêncio no telefone, respirei fundo e disse: sugiro que das próximas vezes que precisar que ele fique sentado, quieto e concentrado lhe dê tarefas. Criança que “trabalha”, não dá trabalho.
Ainda encontramos escolas que enfileiram seus mais de 35 alunos e que organizam seus projetos de trabalho por meio de aulas expositivas e provas. Já passou a hora da escola se reinventar. Por que a escola tem tanta dificuldade de inovar? Vivemos o tempo da educação 4.0, do aprender fazendo, da internet das coisas, da inteligência artificial, dos robôs e das crianças e jovens ultraconectados, autênticos, adaptáveis e extremamente criativos, que pesquisam por meio de vídeos no youtube, vivem num mundo sem fronteiras geográficas, usam Uber e Airbnb.
A escola para essa geração precisa ser um espaço vivo, colaborativo, que valorize o seu protagonismo e lhe proporcione experiências valorosas de vida e de aprendizado. O professor precisa ser um tutor que guie o aluno pelas trilhas personalizadas que promoverão seu aprendizado.
As metodologias devem ser ativas, com estratégias que desenvolvam a integralidade do estudante. A avaliação, uma ferramenta que oriente o professor, o tutor, na construção de novos caminhos e trilhas para a promulgação e valorização do aprender a aprender. Ou seja, a escola para a geração Y e Alpha precisa olhar o futuro e pensar: o que preciso desenvolver para que meus alunos sejam profissionais de sucesso daqui 20 anos?
E como estará o mundo? Os cientistas e os Jetsons nos fornecem pistas, mas não nos garantem um cenário – ou seja, estamos formando crianças para um mercado de trabalho incerto. O que dará alta para a escola da UTI? A construção de espaços inovadores que permitam o desenvolvimento da autonomia, da criticidade, da criatividade, da ética e da moral, para que lá em meados de 2034 meu filho, que a propósito tirou 10 na prova, saiba conviver em uma cidade tal qual a de Orbit City.
* Raphaela Ribas Lupion Gubert é coordenadora pedagógica das Escolas Confessionais do Sistema Positivo de Ensino no Brasil
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