Transformação digital e o apagão de mão de obra

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  • Mathias Rech Santos A pandemia da COVID 19 avançou em até quatro anos o esperado para a transformação digital. A telemedicina, a crescente em aplicativos de delivery e a automatização de serviços cotidianos, são exemplos básicos de acontecimentos que foram acelerados para atender à população. A disponibilidade de profissionais, por outro lado, não acompanhou a demanda. Na contramão do déficit de profissionais de TI, estão os mais de 10,6 bilhões de brasileiros desempregados. Existe uma oportunidade de aliar a demanda por emprego à demanda por serviços variados em tecnologia. Então, onde entram as políticas públicas?

Constantemente pautada na mídia e em discussões internas de empresas de diversos setores, a falta de profissionais de tecnologia foi fortemente impulsionada pela quarta revolução industrial. Há mais de 10 anos são publicadas análises diversas que preveem o gap de mão de obra, devido à quantidade de profissionais formados atualmente em cursos superiores no Brasil não suprir a demanda do mercado. De acordo com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), o número de vagas necessárias na área será de aproximadamente 797 mil até 2025. 

O apagão de mão de obra tende a desacelerar ou parar os planos das empresas, que estão focadas em expansão e munidas de aportes para projetos de modernização. É necessário o estímulo a pessoas mais jovens e mulheres, que representam uma pequena parcela dos profissionais de TI devido ao estigma e à falta de incentivo observada desde a infância, a buscar formação em áreas relacionadas. Com foco na empregabilidade, é imprescindível realizar também a requalificação de pessoas que já estão inseridas no mercado, visto a rápida defasagem das habilidades devido ao constante surgimento de ferramentas e técnicas mais modernas. 

As questões macroeconômicas impactam a disponibilização e constância dos cursos e qualificações, desde infraestrutura e compromisso do acompanhamento, até o apoio financeiro para evitar desistências. Essas iniciativas se tornam investimentos ao considerar o longo prazo: diminuição dos níveis de desemprego, melhores condições sociais e econômicas para uma parcela considerável da população e o consequente posicionamento do país como referência em serviços de TI. Sendo o 10º maior mercado do mundo no setor, o Brasil precisa reverter a falta de qualificação de profissionais para se manter competitivo e não perder o espaço de prestígio.

No setor privado, derivadas do compromisso com a qualificação constante e do fortalecimento da cultura organizacional, surgem as universidades corporativas. As empresas passaram a disponibilizar treinamentos internos e externos, com o objetivo de desenvolver os profissionais e diminuir o déficit na contratação. Os programas fornecem o suporte técnico necessário para a qualificação desses profissionais, ainda que eles não pertençam à empresa ofertante do curso. De forma gratuita, podem ser oferecidos para qualquer pessoa interessada, com opções para aqueles que não possuem conhecimento prévio.

Os investimentos citados aumentam os níveis de competitividade e instigam outras empresas a implementar mudanças para alocação mais ágil de recursos humanos. A análise constante das necessidades técnicas, econômicas, sociais e emocionais desses profissionais é extremamente necessária para aqueles que pesquisam os incentivos necessários para solucionar o problema, ao invés de esperar que ele se resolva sozinho.

* Mathias Rech Santos é Global Chief Human Resources Officer na Semantix

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