The American Way Of Life e o Mundo 4.0

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* Virgilio Pedro Rigonatti – “The American Way Of Life” (O modo de vida americano) foi uma expressão cunhada pelo marketing do governo americano para caracterizar e divulgar a superioridade industrial, política, social e ideológica dos Estados Unidos.

Os EUA se tornaram, após o final da II Guerra Mundial, a maior potência do mundo ocidental. Os imperiais países europeus sofreram duramente com o conflito, terminando o confronto com suas economias arrasadas e a sociedade totalmente desorganizada.

No vácuo de poder deixado pelas potências do Velho Mundo, Estados Unidos e Rússia entraram em campo para abarcar o maior espaço possível, quer pelo controle direto quer pela influência sobre os governos locais. Cada qual com sua maneira de organização política, social e econômica.

A Rússia, que logo se transformou na URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), um nome e organização pomposos para indicar que eram um conjunto de países reunidos com os mesmos objetivos de emancipar os seres humanos, dando-lhes condição igualitária dentro da sociedade, garantindo-lhes as condições básicas de existência em troca de suas participações individuais de acordo com suas capacidades e possibilidades. Naturalmente, um sonho grandioso, idealizado por Karl Marx e ideólogos comunistas, de redenção do homem na Terra, mas que, na prática, resultava em domínio imperialista dos burocratas russos, liderados com mão de ferro por um Czar moderno e por ditadores nos governos dos países membros.

Os Estados Unidos eram marcados pelo liberalismo econômico e político, idealizado pelos filósofos Iluministas. Uma sociedade permeável, que valoriza a livre iniciativa e a meritocracia, embora, com o tempo, fortemente dominada pelas grandes corporações e pelos grupos econômicos.

Uma das principais diferenças dos dois modelos era a existência de um mercado interno pujante, no caso dos americanos, e um mercado pobre, no caso russo. A sociedade americana pagava ótimos salários aos seus empregados seguindo a visão de Henry Ford pela qual um trabalhador com bom salário garantia as vendas das empresas. No caso dos países da órbita soviética, os salários eram baixos, apenas para a sobrevivência, com cartões de racionamento pois não havia abundância de produtos para atender a todos, menos ainda produtos de qualidade para atender as necessidades do povo.

A diferença entre os bens de consumo produzidos por um e por outro era abissal. No plano militar e no desenvolvimento das tecnologias que levaram o homem ao espaço, os dois impérios estavam igualados até meados dos anos 1960, a partir do qual os americanos começaram a se distanciar dos russos. Isto devido aos altos lucros proporcionados pela incorporação das novas tecnologias aos produtos que chegavam nas mãos dos consumidores, que geravam novos investimentos em busca de aprimorar os conhecimentos e desenvolvimentos tecnológicos e de bens.

Os EUA foram pioneiros nos produtos desenvolvidos na II Revolução Industrial, a mais impactante de todas, resultantes da descoberta do elétron e da sua utilização prática. A partir de então, a sociedade humana passou a ser movida pelos aparelhos conectados a uma tomada ou a uma bateria. O empreendedorismo americano criou dezenas de produtos que trouxeram conforto e facilidades para os lares.

As inovações foram tantas, que transformaram a maneira de viver, de se locomover, de se comunicar e de se divertir. Foram criados o rádio, depois televisão, o telefone, o carro, a geladeira, as máquinas de lavar, o liquidificador, a batedeira, o elevador, o carro frigorífico….

Na Europa, o movimento industrial nesse sentido foi, também, marcante, contudo duas guerras mundiais em um curto espaço de tempo, atrasou e prejudicou seu desenvolvimento. Portanto, nos anos 1940 e 1950, a cara de um lar moderno era a cara da casa americana. E, disso, o governo e a indústria americanos tiravam proveito, vendendo esta imagem para atrair novos seguidores, novos mercados e se contrapor aos russos. Tanto que ficou famoso, em 1959, o debate entre Krushev, todo poderoso líder soviético, e o vice-presidente americano Nixon em uma feira de tecnologia americana em Moscou. Para deixar patente suas diferenças e seus estilos de sociedade perante os jornalistas que os acompanhavam, os dois entraram em uma discussão de alta temperatura, com Nixon provocando Krushev mostrando os avanços tecnológicos transformados em utensílios domésticos dispostos em um estande representando uma cozinha americana, que o americano sabia que o governo russo não tinha condições de proporcionar ao seu povo. A discussão foi tão acalorada, com os contendores com dedos em riste, com tal agressividade que parecia que iriam se engalfinhar, tal qual dois colegiais. O entrevero entrou para a história como o “Debate da Cozinha”.

Com o fim da União Soviética, com a queda do Muro de Berlim, com a morte de Mao Tse Tsung na China, assumindo novos dirigentes com uma visão diferente e influenciados pela falência russa, os quais passaram a admitir a livre iniciativa e o lucro em território chinês, o “The American Way Of Life” penetrou nos países comunistas e tornou-se um padrão globalizado de viver do ser humano.

A II Revolução Mundial provocou mudanças sociais radicais, principalmente na emancipação da mulher. Primeiro, os novos produtos movidos a eletricidade proporcionaram comodidade e facilidade para a mulher dona de casa, papel destinado para a grande maioria feminina. Com esses meios, mais a entrada no mercado da pílula anticoncepcional, a mulher ganhou liberdade e buscou espaço no mercado de trabalho. Este movimento tomou tal vulto que não se concebe mais a figura da mulher dona de casa. Hoje os casais dividem a responsabilidade de prover sustentação financeira para a família bem como compartilham os deveres de casa.

Hoje em dia, é significativo a formação de casais homoafetivos que trabalham e compartilham um lar. Cresce, também, o número de pessoas que deixam a casa dos pais e vão viver sós.

Para essa nova configuração de modo de vida, em que as pessoas trabalham e compartilham a organização e manutenção da casa, mas têm pouco tempo e têm pouca energia de sobra para os afazeres domésticos, o Mundo 4.0 está implantando a Inteligência Artificial e a Internet das Coisas nos aparelhos que caracterizaram o The American Way of Life, permitindo que várias tarefas caseiras sejam executadas pelas máquinas, trazendo alívio para o ser humano.

Assim, as máquinas de lavar roupa estão sendo dotadas de sensores e Inteligência Artificial que vão fazer a triagem das roupas, dando-lhes o tempo de lavagem próprio para cada tipo de tecido, controlando a quantidade de água, sabão e o amaciante adequados. Basta, para o usuário, o trabalho de colocar e retirar as roupas.

As geladeiras estão sendo equipadas com sensores que escaneiam os alimentos, controlando a quantidade existente, emitindo alerta de compra quando tiverem terminando, controlando validade do produto e, até, sugerindo cardápios de acordo com a disponibilidade, além de acionar uma refrigeração maior para deixar a cerveja no ponto em determinado horário ou ser alertado pelo smartphone do usuário informando que já está a caminho de casa.

Robôs estão sendo desenvolvidos para se ocuparem das tarefas domésticas, tais como abrir ou fechar as cortinas e janelas de acordo com horário ou risco de chuva. Eles detectarão, também, pó e acionarão um aspirador para a limpeza.

As tecnologias revolucionárias do Mundo 4.0 serão, cada vez mais, aplicadas nas aparelhagens movidas a eletricidade desenvolvidas na II Revolução Industrial que caracterizaram o The American Way of Life, mas que hoje está globalizada em todos os recantos da Terra, trazendo mais conforto e praticidade para a vida moderna.

* Virgilio Pedro Rigonatti é escritor paulistano

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