Teatro da Casa Beth Lobo promove reflexão sobre violência doméstica

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Da Redação – Quem assiste Dalvinete Ferreira Leite, de 58 anos, durante o ensaio do grupo de teatro da Casa Beth Lobo não imagina tudo o que ela já enfrentou. Hoje, o choro deu lugar ao riso, o medo à coragem e a timidez à empolgação. Em 13 anos de casamento, Dalvinete sofreu agressão psicológica e moral pelo marido.

“Eu sofria agressão psicológica e moral. Só não sofria física. Meu marido era muito esperto. Ele dizia: ‘quem bate na mulher é burro, cria prova contra si mesmo. Eu não sou besta, quero ver você provar que estou te agredindo’. Ele era dois homens. Um quando estava sóbrio e outro quando estava bêbado. Ele já bebia com a intenção de me agredir”, conta Dalvinete.

A Lei Maria da Penha, que visa proteger a mulher da violência doméstica e familiar, completou, na semana passada, 12 anos. No tempo em que Dalvinete sofria a violência não existia lei para protegê-la, além dos costumes serem diferentes. “Na época eu não tinha como denunciar. Antigamente, a mulher tinha que sofrer calada. Inclusive, eu não podia largar meu marido, senão meu pai e minha mãe iam me desprezar”.

Foi depois de 13 anos que Dalvinete criou coragem para denunciar e ter uma vida melhor. “Fui fazer uma cirurgia no coração e ele tentou me matar para que ninguém descobrisse que todos os problemas que eu tinha eram culpa das agressões psicológicas que ele fazia. Foi nessa época que eu percebi que ele queria me matar de verdade. Eu sofri bastante. Ele, ainda, me perseguiu durante um tempo. Depois que ele foi assassinado, acabou tudo. Hoje, eu me sinto muito feliz e preparada para aconselhar outras mulheres. Hoje sou livre, faço o que quero. Ele não me deixava trabalhar e falava que mulher que trabalhava fora era para trair o marido. Minha sorte foi ele ter arrumado uma amante e se apaixonado, do contrário, ele não ia me deixar em paz”.

Foi a sensação de liberdade e a vontade de ajudar outras mulheres que fez Dalvinete ingressar no Grupo de Teatro da Casa Beth Lobo.  “Como eu sofri violência muitos anos atrás, resolvi entrar no grupo para ajudar outras mulheres. Quando a gente apresenta a peça, mostramos que já sofremos a violência e isso incentiva as mulheres, que estão sofrendo, a denunciarem. Hoje eu me sinto livre e quero ver as outras mulheres livres também. A Lei Maria da Penha funciona. As mulheres precisam acreditar nisso. Precisam denunciar”.

O Centro de Referência à Mulher em Situação de Violência Doméstica, Casa Beth Lobo, acolhe mulheres vítimas de violência doméstica, recebendo demandas espontâneas ou encaminhamentos de diversos serviços. Os principais são Delegacia da Defesa da Mulher, Unidades Básicas de Saúde, Defensoria Pública e todos os serviços da Assistência Social.

“A Casa Beth Lobo oferece serviço especializado no atendimento de mulheres vítimas de violência. As mulheres recebem atendimento técnico por meio de equipe psicossocial e jurídica, além de participar do grupo de teatro que tem por finalidade divulgar, em seus espetáculos, a importância das mulheres lutarem por seus direitos”, destaca a secretária de Assistência Social e Cidadania, Caroline Rocha.

Claudia Cesar Costa, de 43 anos, chegou até a Casa, encaminhada pela Delegacia da Mulher, e hoje faz parte do grupo de teatro. “Na Casa Beth Lobo, eu tive todo apoio psicológico. O acompanhamento foi essencial e de muita importância. A psicóloga trabalhou comigo a autoconfiança que eu não tinha. Eu não acreditava em mim mesma, por causa de toda agressão psicológica que eu sofri”.

Claudia está no grupo de teatro há 3 anos e conta que só conseguiu denunciar o marido depois de muitos conselhos. “Eu tive câncer. Durante o tratamento meu marido não acreditava que eu estava no hospital. Ele achava que eu estava indo me encontrar com algum amante. Até então eu não saía de casa e por causa do tratamento, comecei a sair e tudo piorou. Foi então que minhas vizinhas me aconselharam a denuncia-lo. E assim eu fiz. Fiquei o dia todo na delegacia, contei tudo para a delegada. Eu levei para a delegacia a arma com que ele me ameaçava. Após a denúncia, os investigadores decidiram que eu ia sair de casa”.

Não foi fácil recuperar a autoestima e todo dano psicológico causado pelas agressões, mas foi por meio do atendimento oferecido pela Casa Beth Lobo que Claudia se sente no dever de ajudar outras mulheres. “Hoje eu me sinto muito bem participando do grupo de teatro e podendo ajudar outras mulheres. Eu acredito que, assim como eu não sabia, muitas mulheres não conhecem esse serviço. Elas precisam saber que existe uma lei que protege a gente e que funciona”.

“O grupo é super importante. Levamos a reflexão e a discussão do que é a violência de uma maneira lúdica. A peça ‘As Diversas Facetas da Violência Contra Mulher’ foi construída basicamente por histórias reais das participantes”, destaca a coordenadora do Grupo de Teatro da Casa Beth Lobo, Maria Alzira de Oliveira.

Alzira ressalta que o grupo vai além de uma simples peça. “Após as apresentações, nós aconselhamos, falamos dos serviços oferecidos pela Casa Beth Lobo e fazemos o encaminhamento necessário. Então é muito mais do que uma simples peça de teatro”.

“De janeiro a julho iniciaram 117 casos novos e até o momento já foram atendidas 884 mulheres/família neste serviço. Na Casa Beth Lobo realizamos, também, encaminhamentos para as pessoas envolvidas com a violência doméstica para o Programa “Homens sim, conscientes também”, este grupo consiste o trabalho com homens envolvidos na violência doméstica”, afirma a coordenadora da Casa Beth Lobo, Luciene Rosa Santana.

Casa Beth Lobo – Após a reinauguração do espaço, em 2016, a Casa Beth Lobo teve um crescimento significativo de atendimento. O novo espaço proporciona um local aconchegante para os atendimentos dessas mulheres. Sendo um lugar de fácil acesso, houve o aumento do número de atendimentos.

Serviço – Casa Beth Lobo (Rua Turmalinas, 35 – Centro, Diadema. Tel.: (11) 4043-1918/0737)  Atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h

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