* Marcelo Romeu Dalpino – É comum, no meio educacional, ouvirmos a expressão “sistema de ensino” para se referir ao conjunto de soluções oferecidas pelas escolas para apoiar o processo de ensino. Mas será que esse deve ser o único caminho para a boa educação?
Primeiramente, proponho uma reflexão de ordem semântica e discursiva: afinal, o que é ensinar?
Entendo que “ensinar” é passar algo para alguém. Ocorre que para que pensemos em ensino, precisamos sempre colocar a prática do ensino junto a aprendizagem, criando assim o vínculo ensino-aprendizagem.
Entendemos, portanto, que o ensino e a aprendizagem não são processos separados, mas as duas partes de um único processo. Daí tratar de um “processo de ensino-aprendizagem”.
Assim, se um professor ensina muito bem, subentende-se que seu aluno aprende muito bem. Agora, se o professor ensinou e o aluno não aprendeu, depreende-se que este educador não conseguiu ensinar de fato, porque ele não engajou o aluno na aprendizagem. É a lição freiriana de que não há ensino sem aprendizagem, ainda que possa haver aprendizagem sem ensino.
Penso que as escolas falham ao focar em sistemas de ensino que não levam em consideração as infinitas possibilidades de aprendizagem de seus alunos. Mais que isso: ao trabalhar sobre um modelo vertical, ignoram que o processo educacional só pode existir na troca horizontal em uma comunidade de aprendizagens.
Em sua obra “Pedagogia da Autonomia”, Paulo Freire já nos ensinava: “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Nesse sentido, a escola deve se preocupar com a aprendizagem, não apenas de seus alunos, mas de seus professores. E, dessa forma, os sistemas de ensino só funcionam quando se associam a sistemas de aprendizagem, em uma rede, em que o professor aprende ensinando e o aluno aprende enquanto ensina.
O mesmo ocorre no ensino de línguas. A saudosa professora e estudiosa da língua inglesa, Maria Antonieta Alba Celani, dizia que todo ensino deve levar à aprendizagem. Afinal, se o professor aprende que o aluno aprende de determinada forma, então ele ressignifica sua abordagem de ensino e reaprende a ensinar.
Novas tecnologias, novas possibilidades
E como a tecnologia pode facilitar esse processo focado na aprendizagem do inglês?
Ora, personalizando a jornada de estudos de cada aluno e desenvolvendo ferramentas que engajem os estudantes e os coloque no centro do processo.
É com base nessa filosofia de ensino que a Cultura Inglesa desenvolveu sua própria solução de aprendizagem bilíngue para escolas. Não se trata de uma ferramenta desenvolvida para uma relação “one size fits all”, porque entendemos que cada escola, cada ano escolar e cada aluno possui sua própria cultura de aprendizagem.
A solução também não é um sistema de ensino fechado em si, mas um sistema de possibilidades de aprendizagens, moldadas por culturas de aprendizagens, que permite criar trilhas diversas de conteúdos assíncronos. Nela, cada aluno traça seu próprio trajeto, adaptando os estudos às suas necessidades, além de acompanhar o seu progresso em cada uma das fases de aprendizagem.
É necessário ressaltar, no entanto, que a personalização do processo de aprendizagem não dispensa a escola do seu papel fundamental de mediação do coletivo. A instituição é o espaço que permite a troca de múltiplas aprendizagens para a construção de uma aprendizagem colaborativa. Somente esse intercâmbio entre todos os agentes envolvidos no processo é que permite a expansão da experiência de aprendizagem e, em última instância, a consolidação do processo educacional.
Educação continuada
Ao colocar a aprendizagem no centro do processo, é preciso criar meios para que o professor possa aprender com seus alunos. Assim como o aluno da plataforma bilíngue Cultura Inglesa passa por fases ao longo do seu curso de inglês na escola, o professor também atravessa quatro etapas como forma de espelhamento de experiências dos atores no meio escolar. Insisto: quando o aluno aprende, o professor ressignifica sua aprendizagem.
Dessa forma, a plataforma foi estruturada sobre diferentes fases de aprendizagem para o professor, permitindo que, ao longo de seus trabalhos, ele faça uma autoavaliação de desempenho, aprimore metodologias e reflita sobre sua prática pedagógica. Tudo isso visando estimular o educador a progredir dentro da lógica “aprendendo a aprender”.
Para concluir, reforço que, ao ajustar o foco para a aprendizagem, as escolas vão qualificar o ensino como um todo, porque somente quando olhamos para a evolução de nossos alunos e professores é que abrimos caminho para a prática da boa educação. E, assim, redefinimos o conceito de “ensinar”, dando sentido às eternas palavras de Paulo Freire: “Ensinar é mais que um verbo transitivo relativo. Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa”.
* Marcelo Romeu Dalpino é Gerente Acadêmico Sênior da Cultura Inglesa
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