* Gabriel Clemente – Entramos em setembro, mês de prevenção ao suicídio. De acordo com dados estatísticos, o Brasil é um dos campeões de pessoas que sofrem de ansiedade e preocupações extremas no mundo, pelos mais diversos motivos: instabilidade econômica, desemprego alto, dívidas e problemas de ordem pessoal, como conflitos familiares e o chamado ‘bullying’, que ocorre, sobretudo, nas escolas e, agora, com a internet, estende-se às redes sociais de forma ininterrupta, expondo jovens a ridicularizações e consequentes transtornos de personalidade.
Os números revelam que, no nosso país, cerca de 30 pessoas matam-se por dia. Sem dúvida, um número assustador e preocupante. O fato nos leva a deixar de lado, cada vez mais, esse tabu e falar sobre o assunto de forma transparente, ampla e sem preconceitos.
Quem comete um ato desse é corajoso ou covarde demais ? Para mim, trata-se de um paradoxo. Apesar de querer fugir da existência, da realidade, por pior que ela seja, creio que também é preciso muita coragem para tirar a própria vida, pois se trata de um ato irreversível, sem volta, que não permite arrependimentos.
Pessoas com pensamentos suicidas devem procurar ajuda médica especializada aliada a algum tratamento espiritual e religioso. Já se foi o tempo que psiquiatras eram vistos, apenas e tão somente, como “médico de loucos”. Felizmente, esse preconceito vem caindo gradativamente.
O mundo moderno, a pressão por “sucesso profissional”, preocupações excessivas com o ótimo desempenho escolar dos filhos, vaidade extrema, entre outras razões, expõem as pessoas a determinadas neuroses desnecessárias. As pessoas são diferentes, inclusive emocionalmente. Assim, o que para alguns é bobagem, para outros torna-se um pesadelo interminável.
Atualmente, a psiquiatria e a psicologia tratam com sucesso pessoas predispostas a exigências doentias de infalibilidade. O que é preciso entender é que somos humanos, erramos, logo, falíveis.
Portanto, perdoar e aprender a se perdoar também é um ótimo exercício à saúde mental. Ninguém é perfeito. Ninguém é infalível. Temos de aprender a lidar com as frustrações de modo mais aceitável, sereno e tranquilo, porque a vida não é só feita de sucesso e momentos felizes.
Ainda há muita gente que sofre calada, mas sente uma necessidade imensa de mostrar que ‘tudo vai muito bem’ nas redes sociais. Por quê ? Claro que é preciso cuidado com exposições excessivas e desnecessárias no mundo virtual, mas, também, é preciso encarar a realidade e procurar se manter lúcido para resolver um problema de cada vez, escolhendo as prioridades. Apoio espiritual também auxilia demais, sem dúvida.
Agora, voltando ao chamado “bullying”, pergunto: A troco do que expor a intimidade de alguém publicamente? Para mim, isso é sadismo, frustração, um desvio mental grave que revela uma necessidade imensa de autoafirmação de quem tortura alguém psicologicamente.
Lembro-me que, há poucos meses, li uma matéria que trazia o relato de uma mãe americana enlutada. Sua filha, uma adolescente de 13 anos, começou a mostrar uma mudança de comportamento repentina, mas, por vergonha, evitava fazer comentários em casa. Foi encontrada morta, enforcada. Suicidou-se.
Horas depois, indo à escola, a mãe descobriu que a filha, uma menina bonita e inteligente, era alvo constante de hostilidades de uma ‘turminha’, talvez, até, por inveja. Fotografou a filha no caixão, durante o velório, e, dias depois, levou a foto à escola para mostrar aos alunos e alunas que a perseguiam. Aí, disse-lhes: “Satisfeitos agora ? Conseguiram o que queriam”. Eu me emocionei quando li.
Adolescentes sofrem mais com o problema, porque estão em um processo de construção da personalidade, caráter e sentem mais necessidade de serem aceitos por determinados grupos, de forma a tentarem criar vínculos sociais saudáveis. Quando se deparam com hostilidades e ridicularizações tendem a desenvolver problemas como ansiedade extrema, autoestima baixa e pensamentos suicidas.
Como já relatei acima, é preciso acabar com esse estigma, esse tabu e tornar o assunto amplo, aberto, pois se trata de problema de saúde pública também. Sempre se lembre se duas coisas: “Tudo na vida passa, tanto momentos bons quanto ruins e A SUA VIDA NÃO É SÓ SUA”.
Há muita gente que, certamente, sofreria demais com a sua ausência.
* Gabriel Clemente é jornalista graduado pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Atuou como repórter da rádio ABC, assessoria de imprensa política e na comunicação institucional do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA).
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