Da Redação – Uma série de encontros entre estudantes de Medicina e alunos do 5º ano de uma escola municipal na periferia de São Bernardo rendeu aprendizados valiosos para a formação dos futuros médicos e para as crianças. O contato entre os dois grupos foi mediado pela equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) Alves Dias, uma das cinco da cidade que servem de cenário de prática ao curso de Medicina da Faculdade das Américas (FAM).
As atividades integram o Programa Interdisciplinar em Saúde na Comunidade (PISCO) da FAM, que prevê a presença dos alunos de Medicina em UBSs nos oito primeiros semestres de formação. A grade curricular determina que os estudantes passem três horas por semana na unidade, e dediquem outras quatro horas à problematização da experiência vivida, combinando teoria e prática.
Durante o período, os estudantes acompanham de perto a rotina da UBS e o trabalho das equipes de Saúde da Família, participam das visitas domiciliares e entram em contato direto com os moradores e demais serviços públicos que atendem à comunidade. Em seguida, propõem ações de educação em saúde e cidadania. Foi assim que os estudantes do segundo semestre de Medicina chegaram até a Escola Municipal de Educação Básica (Emeb) Florestan Fernandes, na Vila Ferreira.
Com o apoio da coordenação da UBS, do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Infanto-Juvenil e da direção e de professoras da escola, os futuros médicos se reuniram com as crianças das três turmas do 5º ano do Ensino Fundamental. Em quatro encontros realizados entre os meses de abril e maio, eles conversaram sobre as expectativas dos pequenos em relação ao presente e ao futuro.
“Decidimos em conjunto chamar a atenção dos nossos alunos sobre as condições do bairro em que vivem, e estimular a reflexão sobre os problemas encontrados e sobre as possíveis soluções. A ação deveria se integrar aos conteúdos trabalhados pelas professoras em sala de aula, e foi de grande aprendizado. As crianças passaram a ver o lugar em que vivem de forma diferente, mais responsável e participativa”, disse a diretora da Emeb Florestan Fernandes, Cristiane Oliveira e Silva.
Os estudantes de Medicina acompanharam as cerca de 90 crianças em uma visita exploratória pelas ruas do bairro, onde identificaram e fotografaram situações como o acúmulo de lixo nas calçadas e na quadra usada por toda a comunidade, focos de água parada e vandalismo nos brinquedos instalados na praça. As informações colhidas pelos pequenos foram usadas na produção de textos jornalísticos, que serão publicados no blog da escola.
A estudante de Medicina Isabela Gomes Rodrigues Viana disse que, no início, planejavam uma intervenção que pudesse envolver questões sobre álcool e outras drogas. E que o contato com as crianças mudou os rumos da ação. “Entendemos que era necessário contribuir para que os alunos entendessem como as condições do território afetam a saúde deles e de suas famílias. Foi incrível ver como as crianças se envolveram nas atividades, construindo o conhecimento e a autonomia. Eles perceberam que a água parada pode adoecer muitos moradores, por exemplo. Fez muito sentido para elas a para nós também”, afirmou.
Segundo Isabela, o contato com a comunidade transformou sua percepção da medicina, além de ser oportunidade rica para colocar em prática o que se aprende em sala de aula. “A gente saiu de uma visão mecânica, de procedimento, para outra completamente diferente, que envolve integração.”
O coordenador da UBS Alves Dias, Denis Rossmann Domeniski, elogiou o trabalho dos estudantes e afirmou que a presença deles na rede municipal desde o início da jornada acadêmica é importante para a formação de um novo tipo de médico, que veja a saúde para além da doença. “Sozinho não se promove saúde. É preciso dialogar com os mais diversos setores para fazer prevenção”, avaliou. Outras quatro UBSs recebem os estudantes da FAM – Planalto, Caminho do Mar, Vila Marchi e Nazaré –, com perspectiva de ampliação no próximo semestre.
Parceria – A FAM obteve, em 2014, a autorização do Ministério da Educação para a abertura do curso de Medicina em São Bernardo, depois dea rede municipal de Saúde, onde as aulas práticas são realizadas,ser avaliada com a nota máxima (5). Na cidade, os estudantes aprendem nas Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Policlínicas e nos quatro hospitais municipais.
As aulas tiveram início em fevereiro de 2015 e, atualmente, o curso conta com cerca de 150 alunos matriculados – a faculdade oferta 50 novas vagas a cada semestre, em turno integral. A primeira turma se graduará em 2020.
O coordenador do curso de Medicina da FAM Rodrigo Guilherme Varotti Pereira explicou que a instituição adota modelo de ensino centrado na formação de competência e habilidades, e não apenas no conteúdo. A inserção do estudante nos serviços de saúde, desde o primeiro semestre, é fundamental para que o profissional consiga exercer uma ação humana, reflexiva e crítica, além de técnica.
“Queremos um médico capaz de atuar dentro da lógica de um modelo de atenção integral, que possa acolher seus pacientes de forma adequada. Isso significa considerar aspectos que vão além do biológico. É preciso conhecer onde e como vivem, sua cultura, suas limitações e suas necessidades. Um médico que atue em parceria com as equipes multiprofissionais, e que possa se apropriar também dos valores do SUS”, afirmou.
Ele ressaltou que o PISCO tem grande valor porque aproxima o estudante de Medicina de uma realidade muitas vezes desconhecida. “Um mesmo grupo de estudantes passará os oito semestres do programa em contato com a mesma comunidade. Ao longo desse processo, percebemos a reconstrução de conceitos e valores, o que para nós é primordial”, finalizou.
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