Da Redação – A Prefeitura de Santo André inaugurou na tarde desta quinta-feira (28) a sétima residência terapêutica da cidade. O equipamento recebeu pacientes do município que estavam internados em hospitais psiquiátricos no interior do Estado.
Com a abertura da nova residência, Santo André se torna o primeiro município paulista a cumprir o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2012 entre Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Estado de São Paulo, União e municípios, que prevê a desospitalização de pessoas internadas em hospitais psiquiátricos na região de Sorocaba, onde há a maior concentração de manicômios do país.
Durante a cerimônia de inauguração, a secretária de Saúde Ana Paula Peña Dias, comemorou a conclusão do processo, que permitirá acesso a uma vida digna e tratamento humanitário para mais 8 pessoas.
“Santo André se tornou uma referência para outros municípios que ainda não iniciaram o processo de desinstitucionalização. As equipes de outras prefeituras vêm aqui perguntar como fizemos isso. Cuidar de uma pessoa que passou mais de 30 anos hospitalizada não é fácil e isso funciona muito bem aqui porque toda a rede de saúde mental se conversa. Se algum morador precisa de suporte seja de medicamentos ou de atendimento médico, prontamente a rede se articula para isso.”
Apesar de a luta antimanicomial ter início final dos anos 80, durante as visitas nos hospitais onde viviam os 16 moradores que restavam para o cumprimento do TAC, o coordenador de saúde mental da rede municipal, Danny Martyn Van de Groes, disse que se surpreendeu por ver certas cenas ainda em 2017. “Algumas unidades não permitiam nosso acesso aos quartos e outras salas. Na única que consegui circular, ainda vi cenas de pessoas expostas, nuas e jogadas no chão”, relatou.
Navã Tomaz, de 51 anos, era uma dessas pacientes. Quando foi internada, há 38 anos, ela não apresentava nenhum transtorno mental que justificasse o enclausuramento. “Fui acusada de traficar, o que eu não fiz, e me internaram no Pinel [hospital do interior de São Paulo]”. Navã perdeu o contato com a família e foi transferida para outras instituições. Fã do cantor Roberto Carlos e muito comunicativa, a nova moradora de Santo André relatou ter sofrido agressões no último hospital onde ficou, em Franco da Rocha. “Um grupo de mulheres se juntou para me bater. Lá dentro não tinha liberdade. Agora estou muito feliz, já fiz novas amizades”. A única pendência que ainda a angustia é a preocupação com que ficou. “Queria muito que minha amiga tivesse vindo junto comigo, queria poder tirá-la de lá”. A equipe da saúde já encontrou uma irmã da nova moradora e estuda uma reaproximação dela com a família.
A residência terapêutica é um espaço de moradia, acolhimento e reinserção social para os moradores com transtornos mentais, que não possuem referência familiar para possível retorno a suas casas de origem. Para o custeio de cada residência são necessários R$ 48 mil por mês, sendo R$ 20 mil repassados pelo Governo Federal e R$ 28 mil investidos pelo município. Na casa, os moradores desenvolvem tarefas cotidianas como limpeza, organização da casa e alimentação. Os moradores fazem tratamento no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de referência, são acompanhados por uma equipe multidisciplinar e são inseridos na vida profissional por meio de oficinas ofertadas pelo Núcleo de Projetos Especiais (NUPE) e até ofícios com carteira assinada.
Em Santo André, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS ) é composta dos seguintes pontos de atenção: três CAPS tipo III (24 horas com 24 leitos comunitários para adultos); um CAPS III AD (Álcool e outras drogas) com oito leitos; um CAPS infanto-juvenil e oito leitos de enfermaria psiquiátrica no Centro Hospitalar Municipal “Dr. Newton da Costa Brandão”.
Para reabilitação psicossocial há duas repúblicas terapêuticas (unidades de acolhimento, uma para adulto e outra para jovens de acordo com Projeto Terapêutico Singular vinculados ao CAPS III AD); um Núcleo de Projetos Especiais (NUPE), que realiza atividades voltadas a geração de trabalho e renda; o Consultório na Rua (CNR), que realiza atendimento itinerante à população de rua e o CAPS itinerante, uma equipe mista dos CAPS AD, Vila Vitória, Infantil e CNR, que realiza atendimentos em Paranapiacaba e Parque Andreense, com objetivo de promover acesso à Saúde. Com a inauguração de mais uma nova residência terapêutica, a cidade vai passa a contar com total de sete moradias, duas masculinas, uma feminina e quatro mistas, com um total de 57 moradores.
Além disso, há atendimento de referência em psiquiatria e psicologia na USF Parque Miami, Centro de Saúde Escola, Centro de Especialidades III, Centro de Especialidades I, referência de psiquiatria e de psicologia. Na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), são ofertadas mensalmente em média 1.400 consultas psiquiátricas, 1.300 oficinas terapêuticas e 900 grupos terapêuticos.
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