Para a psicóloga Maria Helena Brandalise, é essencial compreender que o aprendizado varia de indivíduo para indivíduo, de acordo com sua formação
Da Redação – Sala de aula cheia e olhares atentos ao que o professor está explicando. Suponhamos que esta sala de aula contenha 30 crianças e que cada uma tenha compreendido a matéria de uma forma diferente. Houve, então, uma incomunicabilidade entre educador e educandos?
Não, necessariamente, afinal é impossível que cada um absorva o mesmo conteúdo de forma igual. O que acontece é que cada indivíduo é um ser diferente do outro que, desde o nascimento, recebe uma série de estímulos e influências sociais formando o seu próprio acervo mental. É, justamente, esse acervo que determinará o modo como cada um aprenderá novos conteúdos.
Essas e outras questões são trazidas pela psicóloga Maria Helena Brandalise no livro Neurociências e Educação, Aspectos Cognitivos da Aprendizagem, que ela escreveu juntamente com Geraldo M. de Araújo Filho. Ela destaca a relevância da neurociência para a compreensão do processo de construção da aprendizagem.
De acordo com Maria Helena, a neurociências da aprendizagem é o estudo de como o cérebro apreende, através das conexões dos neurônios e das sinapses. “Portanto, a aprendizagem é o processo em que o cérebro reage aos estímulos do ambiente, ativando as sinapses que produzem a ligação entre os neurônios por onde passam os estímulos, que vão consolidar os processos da informação”, completa. Foi, justamente, essa compreensão pela psicóloga, a partir do curso de Neurociências, que lhe auxiliou a solucionar a dificuldade escolar de algumas crianças cujos pais recorreram a ela.
Ao realizar um acompanhamento psicológico com as crianças, Maria Helena conseguiu identificar seus problemas e, desde então, elas melhoraram seu desempenho escolar. Tal acompanhamento a inspirou a escrever o livro. “Foi a partir destes atendimentos que pensei em escrever sobre este tema, de modo que pudesse expandir o conhecimento e a experiência clínica com o atendimento das crianças e, assim, colaborar com o importante papel do educador em sua relação com o educando”, ressalta.
A psicóloga afirma que o mais importante e fundamental para o desenvolvimento do ser é aprofundar o conhecimento das neurociências para acompanhar o desenvolvimento cognitivo e psicossocial da aprendizagem, levando em conta as faculdades cognitivas da atenção, da memória, do pensamento, da linguagem, do raciocínio e da criatividade. “Lembrando que as faculdades cognitivas implicam a emoção e o afeto. Ninguém cresce e se desenvolve emocionalmente e cognitivamente sem afeto. O aluno necessita desta atitude de presença amorosa do seu educador para que obtenha um bom desenvolvimento e aprendizado”, complementa.
Portanto, é importante que o educador esteja ciente disso para que possa construir um aprendizado integrado junto ao educando permitindo o seu desenvolvimento completo. Outro fator que deve ser considerado pelo professor são as distintas formas de aprendizado de cada um, considerando os diferentes meios em que estão inseridos. A neurociências é fundamental para essa compreensão:
“A neurociência vem revelar o trabalho mental que o aprendiz realiza através da aprendizagem reflexiva aliada a função social da escola voltada para a percepção dos cinco sentidos: audição, visão, tato, paladar, olfato. Estas células, unidas à percepção dos sentidos, enviam informações para o cérebro, que as interpreta. Parte desta interpretação que cada educando faz é baseada nas experiências da singularidade de cada um e na percepção diferenciada de cada educando”. De acordo com Maria Helena, a neurociência pedagógica orienta o educador na integração das disciplinas, e na direção ao conhecimento, vinculando as atividades neuro-educacionais, cerebrais, em conjunto com o desenvolvimento do educando.
Diante disso, a psicóloga destaca a relevância de uma formação interna do educador integrada com a sua formação intelectual contribuindo para que ele desenvolva sua missão com amor e afeto. “Eu diria também que quando o professor se autoforma, continuamente, através das experiências cotidianas na relação professor e aluno, do ensinar e do aprender, fortalece a sua percepção e atenção, e passa a perceber, intuitivamente, muitos dos problemas de aprendizagem que, muitas vezes, nem problemas são, mas questões psicológicas que envolvem o aluno e que não são percebidas pelo professor”. Em seu livro Maria Helena cita alguns exemplos do tipo vivenciados por crianças que ela atendeu.
A autora conclui que o papel do psicólogo nas escolas auxilia o professor nestas percepções. “O professor lida com a subjetividade de seus alunos e aqui está a importância de preparar os educandos para a vida, para as interpelações, para o senso crítico e para a autonomia através das experiências vividas na rotina escolar em conexão com as experiências do cotidiano, articulando a aprendizagem e as relações sociais e psíquicas”. Para isso, segundo Maria Helena, o psicólogo pode contribuir para que a inter-relação entre professor e aluno possa inspirar os educandos a descobrirem o valor de ser responsáveis pela sua própria aprendizagem, através da mediação dos professores. Por isso, é importante compreender como se dá a aprendizagem e como a neurociência contribui para isso.
Sobre Maria Helena Brandalise
Graduada em Psicologia, Mestra em Psicologia Práticas Clínicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e doutoranda pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) do departamento de Psiquiatria e Psicologia.
Site: www.psicologiaesaudeemocional.com.br
E-mail: mhbrandalise@terra.com.br
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