Deu o esperado: prevaleceu o fisiologismo, a troca de favores…
* Gabriel Clemente – Diante dos rumores do início de um processo de impeachment, o governo preferiu mesmo se render às exigências do chamado ‘Centrão’, o bloco de pequenos e médios partidos do Congresso, que nada tem de ideológico.
Num país com 33 partidos políticos, algo surreal no mundo, não há mesmo que se falar em priorizar ‘ideais’ visando o ‘bem-estar’ social.
Há muito tempo, a política por aqui é um grande negócio, no qual a sociedade é só um pretexto, um ‘pano de fundo’ para a disseminação de siglas de aluguel que só visam o ‘toma lá, dá cá’.
Ao ser eleito, Bolsonaro tinha tudo para cumprir a sua promessa de campanha e tentar pôr fim às negociatas. Afinal, o partido pelo qual se elegeu, o PSL, tornou-se um gigante, a segunda maior bancada na Câmara, graças ao seu apelo popular de tirar o PT do poder.
Tivesse mantido cordialidade e bom relacionamento com a legenda, o presidente poderia governar sem muitos problemas, sem a necessidade de fazer o que vimos nessas eleições legislativas, o ‘mais do mesmo’.
Mestre em colecionar desafetos, Bolsonaro rachou com o partido e se viu, com o passar do tempo, obrigado a descumprir o compromisso de campanha. Assim, sem muitas alternativas, entregou-se ao ‘Centrão’, com a compra descarada do seu sossego no Parlamento.
Preço ? Cargos no segundo e terceiro escalões do governo, liberação de vultosas emendas parlamentares e, talvez, até a recriação de mais alguns ministérios da era PT para abrigar os seus mais novos ‘parceiros’.
Enquanto o país sofre com a pandemia, ainda sem orçamento para o corrente ano e com as contas públicas estranguladas, o governo enche os seus mais recentes aliados de ‘benesses’.
O problema é que a conta pode sair ainda mais cara a partir de agora. Embora mais tranquilo politicamente, Bolsonaro torna-se refém dessa considerável fatia partidária que nunca teve compromissos leais com o país.
No Senado, surpreendentemente, até duas siglas da chamada ‘esquerda’, como o PT e o PDT, renderam-se ao jogo de interesses, entre eles, tentar sepultar de vez a ‘Lava Jato’.
Só o tempo dirá durante quanto tempo o presidente conseguirá conter o apetite insaciável do ‘Centrão’ agora, algo que, em tese, deve se mostrar muito difícil.
A conferir.
* Gabriel Clemente é jornalista graduado pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Atuou como repórter da Rádio ABC; assessor de imprensa político e assistente de Comunicação Institucional do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA)
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