Especialistas comentam como sucateamento do SUS pode afetar população, principalmente após o início da pandemia
Da Redação – Segundo dados do estudo de Demografia Médica no Brasil, de 2020, realizado pela Universidade de São Paulo (USP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Brasil possui um total de 11,7 mil médicos com especialidade em psiquiatria. Mas esse número de especialistas é suficiente para acompanhar a demanda de pacientes, que também cresce exponencialmente?
O número de pessoas que desenvolveu alguma doença psicológica durante a pandemia, por diversos motivos, foi enorme. Entretanto, o que nem toda a população sabe é que os cuidados da saúde mental estão inclusos no SUS – Sistema Único de Saúde, o que faz com que muitos deixem de se cuidar por conta dos valores das consultas particulares.
Segundo o Ministério da Saúde, um dos princípios do SUS é a integralidade. Este preceito considera as pessoas como um todo, atendendo às suas necessidades integrais, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. O princípio de integralidade pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, para assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na qualidade de vida dos indivíduos, conforme indica o médico psiquiatra Alexandre Valverde.
“A gente tem um desfalque na saúde pública nesse setor atualmente. Temos que pensar num modelo que não considere só o médico como o grande ator da saúde mental, pensando em modelos em que se tem a inclusão de outros profissionais, como da assistente social, terapeutas, psicólogos, e demais profissionais que compõem todo esse bastião de acolhimento às demandas de saúde mental das pessoas”, explica.
Saúde pública x felicidade
Desde 2016 um movimento de precarização da saúde pública mental tem acometido os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Unidades Básicas de Saúde (UBS), Programas de Saúde da Família (PSF’s) e as alas psiquiátricas dentro dos hospitais gerais. O movimento de desvalorização da área da saúde que prioriza a mente pode contribuir para a infelicidade da população, já que, segundo o cientista da felicidade e professor de pós-graduação sobre o tema, Gustavo Arns, saúde e felicidade andam lado a lado. “O conceito alargado de felicidade compreende a nossa saúde física em primeiro lugar, mas também a nossa saúde emocional e mental, bem como a saúde dos nossos relacionamentos e até a nossa saúde espiritual”, coloca.
Segundo Arns, cuidar da saúde populacional através de um “instrumento coletivo, direto e centralizado”, como uma política pública, tem influência “muito forte” no individual, tanto que a ciência estuda a influência de políticas públicas sobre a felicidade, através do relatório mundial da felicidade da Organização das Nações Unidas (ONU), e países também têm adotado políticas voltadas ao bem-estar, como o Ministério da Solidão do Japão.
No Brasil, a falta de investimentos na saúde está levando a um declínio acentuado nos níveis de bem-estar, acima da média mundial. E se o cenário não mudar, a tendência é de crescimento. “Nós vamos ver aumentando a preocupação da população que vai seguir sem os atendimentos e com as dificuldades em cuidar da sua saúde. No longo prazo, vai ocasionar um declínio ainda maior nesse bem estar que nós já estamos sentindo. Quando nós não temos esse amparo governamental, essa responsabilidade do governo sob os cuidados da população em relação à saúde, nós nos sentimos desprotegidos. Nós ficamos fragilizados. Isso, é claro, vai agredir a saúde física, mental e emocional”, afirma.
Sobre Alexandre Valverde
Alexandre Valverde é médico psiquiatra formado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atende de forma online pacientes de todo o Brasil. Especialista em comportamento e doenças psíquicas, Alexandre busca auxiliar as pessoas que estão se descobrindo como ansiosas, depressivas e outros transtornos. Alexandre foi auto-diagnosticado com autismo e TDAH aos 42 anos de idade e utiliza isso como fonte para auxiliar outras pessoas no processo.
Sobre Gustavo Arns
Gustavo Arns é idealizador do Congresso Internacional de Felicidade. Co-fundador do Centro de Estudos de Felicidade com sedes no Brasil, Canadá e Argentina e presidente da Escola Brasileira de Ciências Holísticas. Também é professor da Pós-graduação em Psicologia Positiva da PUC-RS e PUC-PR e professor da Unicamp e coordenador da primeira graduação em Ciência da Felicidade do Brasil.
Nenhum comentário on "Precariedade na atenção pública mental contribui para a infelicidade da população"