Céu da Chapada Diamantina, Iraquara-BA, julho 2016 Crédito da foto: Alexandre Lobo
Murilo Valle – Neste mês de julho estou em Iraquara, Bahia, Chapada Diamantina, condição que me motivou escrever sobre o tema poluição luminosa. Você já ouviu falar de poluição luminosa? Talvez não, mas, se você mora em uma cidade de médio ou grande porte, certamente vivencia este tipo de poluição diariamente. A poluição luminosa é causada pelo excesso de iluminação urbana, que faz com que o céu não seja observado na plenitude ou quase nada.
É possível mitigar os efeitos da poluição luminosa, a partir do momento que investe-se em sistemas de iluminação externa com a escolha correta dos tipos de luminárias, lâmpadas e instalações. Observa-se hoje nas cidades latente falta de critério nos sistemas de iluminação, uma vez que a luz incide muito além da área que precisa ser iluminada. É preciso técnica e racionalidade. O excesso de luz, além dos prejuízos ambientais e econômicos, impede a observação do céu e das estrelas.
A iluminação excessiva no período noturno pode afetar a migração, reprodução e comunicação de espécies que caçam somente à noite. Também, aves atraídas pela iluminação urbana, voam em torno da luz e, em determinadas circunstâncias, caem pelo cansaço ou pelo impacto com alguma superfície. A iluminação urbana nas praias também pode propiciar a desorientação de filhotes de tartarugas marinhas ao saírem dos ninhos, uma vez que movem-se no sentido contrário aos ambientes escuros, em direção ao oceano, mas, como não conseguem diferenciar os ambientes, acabam desorientados.
A flora também sofre. A incidência luminosa no período noturno faz com que algumas espécies não floresçam se a duração da noite é mais curta do que o período normal, enquanto outras florescem prematuramente. Algumas pesquisas apontam para um desperdício anual de dois bilhões de dólares com iluminação ineficiente.
O custo ambiental da energia elétrica é alto, sobretudo no Brasil, que tem como principal fonte as hidrelétricas. Os impactos socioambientais relacionados a usina Belo Monte mostram o quanto é nocivo o desperdício. O governo federal, no planejamento energético decenal, pauta-se em um padrão de consumo de energia que, notadamente, engloba o desperdício motivado pela falta de tecnicismo, controle e ausência de regramentos específicos nas questões que envolvem a iluminação nas cidades, principalmente nos grandes centros urbanos e, parte do resultado disso, é a necessidade de construção de usinas para geração de energia.
Políticas públicas voltadas para o combate à poluição luminosa precisam ser tomadas, principalmente em municípios, tais como os do grande ABC paulista, que são lindeiros ao rico patrimônio ambiental da Serra do Mar.
Em agosto, Marte e Saturno, planetas visíveis a olho nu a partir da Terra, estarão alinhados; e Vênus e Júpiter ficarão bem próximos no céu. Será que você vai conseguir observar estando onde reside?
Para quem vive na Chapada Diamantina o espetáculo astronômico está garantido!
* Professor Murilo Valle é Doutor e Mestre em Geologia pela IGc (Universidade de São Paulo) e coordenador do Curso de Engenharia Ambiental – FAENG (Fundação Santo André). Contato com o colunista pelo e-mail murilovalle@hotmail.com
Excelente texto Mestre Murilo. Claro, preciso e contundente, infelizmente no nosso País somos pobres em políticas públicas de médio e longo prazo. Numa terra com alto indice de “ensolaçāo” e ventos as energias solar e eólica nāo sāo exploradas e incentivadas. Um grande abraço para voce e também para o fotógrafo.
Perfeito Murilo, adoro ler seus artigos, você sabe o quanto o admiro! Estou tentando fazer a observação por esses dias e está bem difícil mesmo. Durante uma disciplina sobre fontes de energia limpa, foi citada a usina hidrelétrica como uma delas, porém não levaram em consideração o impacto ecológico negativo que ela causa, entre outros… Percebi também que aqui em Santo André estão trocando algumas lâmpadas da iluminação pública por aquelas de LED, são melhores mesmo? Abraço e até mais!