* Murilo Valle – PIB (Produto Interno Bruto) é o tipo de assunto que grande parte da população não entende e não sabe como é calculado, apenas tem a sensação, pela forma de como normalmente é noticiado, que quando aumenta é bom!!! Bom para quem?
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos em um país durante certo período, considerando apenas os bens e serviços finais. As matérias primas utilizadas nos processos de fabricação não são levadas em conta. O consumo da população é o mais expressivo parâmetro que influencia diretamente nas variações do PIB, ou seja, o PIB cresce à medida que as pessoas consomem. Se o consumo é reduzido, o PIB cai. Exerce também forte influência nas variações do PIB o nível de investimento de empresas, pois, se estas movimentam a economia, por meio da expansão de atividades e crescimento, que pode levar à compra de máquinas e contratação de mais trabalhadores, o PIB cresce. Também alavancam o PIB os gastos do governo com infraestrutura, a partir do momento que existem grandes obras que necessitam de contratação de mão de obra, consumo de materiais de construção e insumos, que movimentam a economia. Na mesma toada, o acréscimo do volume de exportações propicia o aumento do PIB, tendo em vista que entra mais dinheiro no país para ser gasto em novos investimentos e consumo.
A fórmula utilizada para calcular é:
PIB = (consumo privado) + (totalidade de investimentos realizada no período) + (gastos do governo) + (volume de exportações) – (volume de importações)
Para o cálculo do PIB são considerados índices de 56 atividades que representam 110 produtos, que irão definir o cálculo da oferta de produtos e serviços. O consumo privado é estabelecido por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) que permite calcular a demanda de consumo da população brasileira.
Esses últimos parágrafos fornecem uma visão do PIB sob uma ótica efetivamente econômica, contudo, é crucial, em meu entender, incorporar variáveis ambientais e sociais no cômputo do indicador. No que concerne às questões ambientais, meu ponto de vista subsidia-se na condição de que os recursos naturais utilizados na produção de bens e serviços, que compõe a oferta, não são considerados, o que leva, frente ao esgotamento dos recursos naturais, ao empobrecimento do país. Da forma como é estabelecido o cálculo do PIB, sobretudo quando o resultado destaca-se como superavitário, tem-se uma falsa demonstração de crescimento das riquezas, tendo em vista que o índice não mensura economicamente o real valor dos recursos naturais.
Pesquisadores da USP produziram uma trabalho intitulado “Balanço das Nações: Uma Reflexão Contábil Sobre o Cenário das Mudanças Climáticas Globais” que demonstrou cenários até 2050 de Balanços Patrimoniais Ambientais frente aos cenários de Mudanças Climáticas e Aquecimento Global apontados pelo Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC) para os países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e países desenvolvidos da América, Europa e Ásia (EUA, Alemanha e Japão). O estudo, que considerou o estoque de recursos florestais e o saldo residual entre as emissões e capturas de carbono estimadas para cada país, mostrou em seus resultados que os cidadãos dos países mais desenvolvidos estariam consumindo recursos não apenas de outras nações, mas também de futuras gerações, diferente de países de baixo PIB per capita e consumo de energia, que possuem altas taxas de mortalidade infantil e analfabetismo. O balanço consolidado indica uma situação em que há um “passivo descoberto” equivalente a US$2,3mil/ano para cada um dos 7 bilhões de habitantes do planeta, representando um passivo ambiental na ordem de um quarto do PIB mundial.
No Brasil, o Plano Plurianual (PPA) divulgado pelo governo para o período 2016-2019 possui latente desrespeito aos compromissos assumidos por nosso país durante a COP-21, realizada em Paris, uma vez que houve veto integral, por parte do governo, no item que trata de “promover o uso de sistemas e tecnologias visando à inserção de geração de energias renováveis na matriz elétrica brasileira”. Por outro lado a China, que viveu acelerado crescimento econômico nos últimos 15 anos baseado na queima de combustíveis fósseis, comprometeu-se, em Paris, a reduzir em 65% suas emissões até 2030, tendo como base o ano de 2005, não obstante, o grande desafio do país agora é antecipar o cumprimento dessa meta, já que seu crescimento econômico, sempre em torno dos 10% no período entre 2000 e 2013, desacelerou nos últimos dois anos.
A minimização do aquecimento global poderia ser efetivo se houvesse a transformação do modelo de desenvolvimento capitalista atual. Os governantes falam uma coisa na COP e fecham outros acordos na Rodada de Doha da OMC que, notadamente, manterão o planeta em níveis de aquecimento fora do prometido. Não há dúvida que, da parte dos governos e, muito menos das grandes corporações em quebrar este tipo de modelo.
É um equívoco empresarial admitir que as questões ambientais “atrapalham” os negócios e que geram custos adicionais, muito pelo contrário, a incorporação dos valores ambientais permitem às empresas melhor competitividade e adequação aos necessários ajustes ante aos desafios do século XXI. As empresas brasileiras estão demorando para entender.
Por outro lado, neste contexto, chama atenção a ação tomada pela General Motors (GM). Apesar ainda de incipiente ante a grandeza da multinacional, a GM mostra importante ação quando reforça negócios e comunidades através da mobilidade. A GM está lidando com as mudanças climáticas em parte por continuar a fornecer aos clientes carros com eficiência energética. É uma tendência a ser seguida. É uma boa iniciativa. Leia matéria neste CliqueABC.
Por fim, essas informações são elementos que sustentam a ideia de que é fundamental incorporar valores ambientais no cômputo do PIB. É preciso também que cada cidadão, à luz de seus valores éticos e morais, reequilibre seus padrões de vida e consumo, frente a ações economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente aceitas e ambientalmente corretas. O governo também precisa fazer o seu papel, mas, infelizmente, não tem feito.
* Professor Murilo Valle é Doutor e Mestre em Geologia pela IGc (Universidade de São Paulo) e coordenador do Curso de Engenharia Ambiental – FAENG (Fundação Santo André). Contato com o colunista pelo e-mail murilovalle@hotmail.com
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