* Mariana Mascarenhas – O que você faria se encontrasse Deus numa cabana? Esse é o tema abordado numa obra fictícia de grande sucesso, que vendeu 18 milhões de cópias pelo mundo – sendo 4 milhões apenas no Brasil. Escrito pelo canadense Willian P. Young e lançado em 2007 nos Estados Unidos, o livro A Cabana atraiu crentes e até mesmo descrentes, ao propalar questões inerentes ao ser humano, como valores, perdão, morte, sob um aspecto espiritual, mas sem ater-se a qualquer religião. No começo de abril de 2017, a obra chegou aos telões com o mesmo nome do livro e direção de Stuart Hazeldine.
No filme, os espectadores revivem – para aqueles que já leram o livro – ou vivem pela primeira vez as emoções transmitidas pela trama, que conta os dramas e angústias enfrentados por Mack Phillips (Sam Worthington), depois que este perde a sua filha caçula Missy, de 6 anos – que fora sequestrada e possivelmente morta –, enquanto ele tentava salvar seu filho, que havia ficado preso a uma canoa depois que esta tombou. O que era para ser então um feliz acampamento em família com Mack e seus três filhos acaba se tornando uma tragédia.
Passados três anos e meio, Phillips ainda não conseguiu superar a morte da caçula e se mostra alguém indiferente e distante da família, assim como seus filhos, que, apesar de dividirem o mesmo espaço, trocam poucas palavras entre si, sob o olhar apreensivo da mãe (Radha Mitchell), que percebe tudo o que acontece e deseja resgatar a união familiar, como forma de se fortalecer da tragédia.
Mas o que Mack não esperava é que sua vida estava prestes a mudar com a chegada de um bilhete, convidando-o a comparecer à cabana onde ele encontrara vestígios de que sua filha fora assediada e morta por um maníaco. E qual não foi a surpresa ao encontrar no local ninguém menos que a Santíssima Trindade humanizada nos corpos de uma mulher negra, dizendo ser Deus (Otavia Spencer), um rapaz franzino e de traços árabes, apresentando-se como Jesus e uma oriental dizendo ser o Espírito Santo?
A partir de então, Phillips passa por uma espécie de retiro e conversão espiritual, com o intuito de curar as feridas internas que ainda o machucavam muito. São momentos que sensibilizam os espectadores, independente de religião, por tratar de angústias tão presentes na vida de muitos, relacionadas à perda de um ente querido, à culpabilização por tal morte ou mesmo à negação e o questionamento do porquê ser o (a) eleito (a) para enfrentar tal agrura. Um dos cernes que movem a trama é o processo do perdão, que pode muitas vezes libertar as pessoas de feridas do passado, como no caso de Phillips, que, desde a morte de Missy, fora dominado por sentimentos apenas de ódio e vingança contra o assassino da garota.
Uma tarefa extremamente complicada, pois o perdão nada tem a ver em ser desfavorável à justiça dos homens ou esquecer o que aconteceu, mas sim redimir o outro, tendo como maior beneficiário aquele que perdoa, por libertar-se de sentimentos ruins e muitas vezes sufocantes. A Cabana também faz uma boa reflexão sobre a capacidade ágil do ser humano em julgar os demais precipitadamente sem conhecê-los, o que também se revela como um impeditivo para o perdão em algumas situações.
O filme não fica aquém do livro e atrai muito mais pela própria história, que por si só já possui elementos enriquecedores para conquistar o público, já que a encenação do elenco carece um pouco de maior vivacidade e intensidade nos diálogos, nada que as belas palavras de Young não superem.
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