Gabriel Clemente *
Coluna Boa Prosa – Tragédias e notícias de violência em sequência, inevitavelmente, mexem com o emocional de muita gente.
Este ano de 2019 começou nebuloso, tenso, um ‘filme de terror’ que, lamentavelmente, nada tem de ficção.
Vários casos de feminicídio, acidentes traumáticos e, recentemente, o massacre na escola pública estadual paulista “Raul Brasil”, em Suzano, na Grande São Paulo, mexem demais com o nosso espírito, causando uma espécie de ‘paranoia coletiva’, tensão e ansiedade generalizada.
Nos últimos anos, atentados terroristas na Europa e nos EUA também deixaram o mundo perplexo.
Desequilibrados que, em nome de uma causa, seja passional, religiosa ou política, matam pessoas a esmo, aleatoriamente, de forma cruel e bárbara, sem qualquer escrúpulo.
Há tempos parece que o mundo está doente e, por consequência, ninguém confia mais em ninguém.
No caso de Suzano, voltou à tona na imprensa a questão do chamado “bulliyng”, ação na qual um grupo de adolescentes unem-se para humilhar, agredir fisicamente ou ferir moralmente um ‘alvo’ escolhido pelas mais diversas razões que, obviamente, são torpes e vis.
Claro que nada justifica o atentado meticulosamente planejado e colocado em prática naquela escola, ceifando a vida de vários inocentes que nada tinham a ver com os traumas da dupla de jovens assassinos, mas, sem dúvida, é preciso analisar, reavaliar comportamentos e a saúde mental, inclusive de quem comete bulliyng.
Inevitavelmente, vários psicólogos e psiquiatras vieram à mídia comentarem o caso. Afinal, o que se passa na mente de alguém para cometer tamanha barbárie por piores que sejam os seus traumas e frustrações?
O assunto é muito complexo quando falamos de espírito, alma e valores morais.
Para se ter uma ideia da gravidade do tema, estatísticas oficiais revelam que, no Brasil, uma pessoa se mata a cada 40 minutos. Aliás, os atiradores de Suzano cometeram suicídio logo após a chacina.
Agora, imaginem, hoje, como professores entrarão para lecionar em uma sala de aula repleta de adolescentes, logo após essa tragédia e que, inevitavelmente, remete-nos à lembrança da escola pública de Realengo, no Rio, em massacre igualmente terrível ocorrido há quase 8 anos.
Essa sequência de atrocidades, crimes de mando, sobretudo no meio político, e os feminicídios, que vêm transformando o nosso ano em um grande ‘espetáculo dantesco’, criam uma espécie de ‘paranoia coletiva’ na sociedade. Inevitável.
Tudo isso, dependendo de pessoa para pessoa, causa angústia, depressão e uma desconfiança extrema, quase que patológicas. Parece que começamos a ver perigo em tudo, até em ocasiões aparentemente tranquilas, sossegadas e corriqueiras.
Embora seja, apenas, um ‘pedaço’ da realidade, a ‘vida como ela é’, o noticiário anda nocivo, deletério às nossas mentes. Até que ponto vale a pena acompanhá-lo diuturnamente?
Creio que pelo bem da nossa saúde emocional não valha tão a pena querermos saber dos detalhes, pois, para pessoas “normais”, parece soar como um ‘mundo paralelo’.
Às vezes, acredito que ficar meio alheio a tudo isso pode evitar um transtorno desnecessário à nossa alma, à nossa psiquê.
O único fato incontestável é que, infelizmente, o mundo está doente há muito tempo.
* Gabriel Clemente é jornalista graduado pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Atuou como repórter da Rádio ABC, assessor de imprensa político e assistente de comunicação institucional do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA)
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