* Dom Pedro Carlos Cipollini – O Papa São João Paulo II, no ano 2000, indicou um padroeiro para os governantes e políticos. Trata-se de São Tomas Morus nascido em Londres no ano 1477. Viveu nos albores do mundo moderno, com a surgimento dos Estados nacionais e as grandes descobertas marítimas.
Era advogado de formação humanística, pai de família, membro do parlamento inglês, tendo desempenhado várias missões diplomáticas. Conseguiu conciliar sua vida cristã autêntica com uma carreira política ativa. Levantava-se cedo para rezar e pedir a Deus o dom da sabedoria. Era um homem temente a Deus.
Foi nomeado membro do Conselho secreto do Rei, em seguida Lord Chanceler ou primeiro ministro em 1529. Morus é autor da célebre obra filosófica intitulada Utopia, na qual descreve um Estado imaginário no qual a preocupação única é a felicidade coletiva, o bem comum. “Com efeito, ser o único a viver em prazeres e delícias, tendo ao redor pessoas que gemem e se lamentam, não é ser rei, é ser guarda de prisão”, ele escreve nesta obra ao falar do governo.
Qual foi o segredo deste político? Ele mesmo responde que foi a fidelidade à sua consciência. Um filme famoso sobre sua vida se intitula a propósito: “O homem que não vendeu sua alma”. Sendo amigo do rei, não cedeu aos seus desmandos, que levou o soberano a se divorciar da primeira esposa e decapitar sucessivamente algumas das outras seis que se sucederam.
Por não ceder ao Act of Supremacy, pelo qual o rei se declarava chefe da Igreja inglesa, usurpando os direitos do Papa, destruindo os mosteiros e confiscando seus bens para cobrir rombos nas finanças do reino, Tomas Morus foi destituído, preso e teve os seus bens também confiscados. Na prisão escreveu uma obra prima da língua inglesa: Diálogo do conforto contra as tribulações, fora as cartas a sua filha Margaret.
Foram inúteis as tentativas de corrompe-lo. O tribunal que o julgou não conseguiu refutar sua defesa, feita por ele mesmo. Para contentar o rei condenaram-no à morte. Foi decapitado em 6 de junho de 1535. Em 1935 foi canonizado e sua festa no calendário litúrgico da Igreja Católica é celebrada dia 22 de junho.
Corajoso, fiel à sua consciência, tranquilo, ao subir o patíbulo usou ainda de seu bom humor, para descontrair o carrasco, pesaroso de ter que executá-lo, disse-lhe: “ajude-me a subir, para descer deixe por minha conta”.
É-nos oportuna a lembrança deste grande político que também foi um cidadão sábio e humilde, principalmente às vésperas das eleições que se aproximam. São lamentáveis os escândalos que envolvem alguns políticos na falta de ética e traição à própria consciência. É a busca de poder, ganância do ter a qualquer custo, menos preocupação com o bem comum. O que define a política: a arte de trabalhar para o bem comum.
O bem comum é o conjunto de condições concretas que permitem a todos atingir níveis de vida compatíveis com a dignidade humana. A corrupção, porém, destrói o sentido do bem comum na sociedade e desmoraliza a vida pública, às vezes eliminando os honestos que se recusam a se corromperem. Parece até que, a única exigência para se ganhar eleição é a arte de fazer a mentira virar verdade e a verdade virar mentira. Mas as falcatruas sempre aparecem, veja estes dias, o caso do senador apreendido pela polícia com dinheiro na cueca, supostamente roubado dos recursos para se combater a Pandemia que nos assola. Barbaridade!
Que Santo Tomás Morus interceda por nossa classe política. Que os bons políticos não desanimem. Que os políticos tenham um mínimo de compostura. Se não inspiram confiança, ao menos possam agir de tal forma que não inspirem desprezo.
Que este santo ensine nossos políticos a praticarem o que ele escreve no seu livro já citado: “Velar por sua vantagem pessoal sem ofender as leis, eis a sabedoria; trabalhar além disso pela vantagem da comunidade, eis a virtude”(Utopia, Livro 1).
Que possamos votar com consciência e responsabilidade, sabendo que muitas vezes o bem possível é o mal menor. Mas não deixemos de votar que é pior!
* Dom Pedro Carlos Cipollini é Bispo de Santo André
Gostei muito desta matéria do Clique ABC, pois eu desconhecia totalmente a história desse Santo. Há que se lembrar que no sistema democrático os políticos não são escolhidos por imposição, tão pouco fizeram concurso público para tal. São eleitos pelo povo.