Numa manhã de outono, Dona Flora entra feliz na Padaria do Português e vai ao balcão:
-Bom dia, seu Manoel! “Me dá trezentas gramas” de presunto?
-Sinto muito, mas só poderei dar-te trezentos gramas de presunto
Disse o velhinho esperto, como sempre corrigindo os outros.
Ele ainda completou:
– O pronome pessoal oblíquo átono nunca pode iniciar uma frase, assim como a unidade de medida, o grama, é masculino; no feminino, só as plantinhas.
– Puxa, como o senhor é inteligente! Parabéns pelo “célebro” que “absolve” informações tão bem! “Mais” enfim, que “seje”, eu preciso do meu presunto…
Disse Flora, já impaciente.
Diante de tamanho escândalo, seu Manoel não resistiu:
– Flora, Flora … cérebro se escreve com “r”, cérebro! E neste caso, eu absorvi informações, com “r” de reter e não com “l”, que significa ser livre de alguma culpa. Mas é o correto para indicar oposição: Mais é adição, e “seje” não existe, assim como “esteje” e “veje”, não tiramos o “a”, então fica seja, esteja e veja.
A mulher pegou o presunto, pagou, e já saindo, disse:
– Vou embora antes que “eu perda” a paciência”!
Mas, nem deu tempo de pensar e foi interrompida:
– Neste caso, o verbo irregular “perder” fica “perca”, já que está no presente.
Irritada, a mulher protestou:
– Basta! O senhor não “perdoua” uma?
E sem querer corrigi-la e já corrigindo respondeu:
– Perdoar, perdoo. E você, perdoa-me?
ALVES, Débora Macedo Santos. Padaria do Português. 11 de maio de 2017. VestOn n°08
HARICH, Regiane. Professora de Português. Centro Educacional Cidade El Shadai e Prefeitura de Santo André
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