Gabriel Clemente – A guerra, seja na modalidade que for, sempre deixa graves sequelas, tanto no aspecto humanitário quanto econômico. Hoje, o mundo assiste perplexo à invasão da Ucrânia pela Rússia. Por razões óbvias, essa é a pauta que domina a ‘agenda setting’ das mídias de todo o planeta.
Por incrível que possa parecer, até os confrontos militares possuem as suas regras, estabelecidas pela ‘Convenção de Genebra’, que teve as suas diretrizes finais concluídas no pós-Segunda Guerra, a fim de evitar excessos, torturas e crimes, com o objetivo de proteger a população civil e os soldados capturados pelos inimigos.
Por aqui, no Brasil, enfrentamos, há tempos, uma outra guerra que, também, na prática, não cumpre seus protocolos. Os confrontos nas favelas cariocas encrustadas nos morros deixam, a cada incursão policial, muitas vítimas inocentes também.
Quase sempre, a polícia invade as comunidades sem qualquer planejamento logístico. A ordem, na ansiedade de ‘mostrar serviço’ e dar uma ‘satisfação’ à sociedade, transforma muitas operações em verdadeiros massacres, que sempre deixam inocentes na relação de baixas.
Nos morros do Rio ocorre algo semelhante a uma guerrilha, modalidade parecida ao que aconteceu na Batalha de Stalingrado, durante a Segunda Guerra Mundial.
Naquela ocasião, para vencerem os invasores nazistas alemães, os soldados soviéticos foram para o confronto ‘corpo a corpo’, ´rua a rua´, e obtiveram êxito.
Aqui, até por uma questão de sobrevivência, assim tentam agir alguns moradores das comunidades.
Na verdade, o complicador é que os chefões do tráfico, verdadeiros alvos da polícia, embrenham-se nas favelas por que o cenário favorece os seus esconderijos.
Comunidades são verdadeiros ‘labirintos’, onde esses criminosos constroem mansões, fortalezas seguras para se protegerem de invasões policiais mais intensas.
Há muito tempo o país enfrenta essa guerrilha urbana, que deixa um número de vítimas tão significativo quanto uma guerra declarada, como a que acompanhamos atualmente.
A questão é que o Estado precisa preparar melhor os seus policiais e desenvolver estratégias logísticas precisas, de modo que suas operações prendam ou eliminem os criminosos, poupando as vidas de inocentes.
No entanto, num país onde um político goza de remuneração e benefícios muito superiores aos profissionais da Segurança Pública e da Educação, fica extremamente difícil obter resultados mais eficientes e humanos no combate à criminalidade organizada.
* Gabriel Clemente é jornalista graduado pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Atuou como repórter da Rádio ABC, assessor de imprensa político e assistente de Comunicação Institucional do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA)
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