Os desafios do setor de infraestrutura no pós-pandemia

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* André Marinho –
Quando a pandemia chegou ao Brasil, nos primeiros meses do ano passado, e para impedir a disseminação do vírus foram colocadas em práticas pelos governos várias ações que restringiram a mobilidade de pessoas, portanto, um dos principais setores a sofrer com o impacto foi o de infraestrutura. O fato de ser um setor que intensivo em investimentos de capital de longo prazo sofre muito com incerteza e interrupções do serviço causados pela pandemia.

De um lado, a mobilidade urbana foi consideravelmente afetada pela redução do deslocamento de moradores pelas cidades. Serviços como metrô, trens de subúrbio e transporte de passageiros foram os mais impactados. Além disso, o setor aéreo de passageiros, responsável pelas viagens a lazer e corporativas, também sentiu o baque da queda de demanda causado pelas restrições. A expectativa é que esses segmentos voltem ao normal à medida que a vacinação aumente nas cidades.

Por outro lado, portos e ferrovias não sofreram com a pandemia porque as demandas por commodities cresceram nesse período. Com a disseminação do novo coronavírus começando a ter controle, a elevada demanda internacional por produtos agropecuários e, especialmente, o apetite dos chineses por produtos agrícolas brasileiros voltaram a crescer.

Com o agronegócio registrando um recorde de 100,8 bilhões de dólares em exportações e um crescimento de 18,2% no faturamento no ano passado, a movimentação nos grandes portos e navios registrou um crescimento considerável. Por fim, em meio a esse movimento da indústria, o transporte de carga regional foi o que sofreu menos.

Além disso, o Governo Federal está colocando de pé vários projetos de concessão na área de transportes. Segundo dados do Ministério de Infraestrutura, na carteira de projetos para 2021-2022 estão o segmento de portos com 10 bilhões de reais, aeroportos com 10 bilhões de reais, rodovia com 118 bilhões de reais e ferrovia com 118 bilhões de reais.

Já no que diz respeito aos projetos realizados no modelo PPI (Programas de Parceria de Investimento), o atual portfólio conta com 62 demandas de infraestrutura, entre concluídas e em andamento. Em aeroportos, estes representam o transporte de aproximadamente 125 milhões de passageiros por ano; em ferrovias, estes equivalem a 554 milhões de toneladas transportadas por ano, sendo as principais cargas minério de ferro, grãos (soja, milho), celulose, combustíveis (etanol, óleo diesel, derivados do petróleo), açúcar, entre outros; em rodovias, será contemplada a extensão de 18.571 quilômetros; e em portos, serão mais de 204 milhões de toneladas transportadas por ano de produtos como fertilizantes, granéis vegetais, combustíveis, frango, carne, madeira e derivados, plásticos e borrachas.

Vale ressaltar ainda uma outra questão importante no setor que é a transformação digital que está mudando completamente a área de logística com a implementação de soluções em plataformas digitais como Uber, Rappi, Eats, etc. Este movimento de “digitalização” da Logística tente a gerar maior integração nos modais de infraestrutura (trilhos, asfalto, ciclovias, aeroportos) facilitando o acesso e utilização da infraestrutura por seus usuários.
Mas, apesar desse movimento em curso, a indústria ainda tem alguns desafios a serem enfrentados. O primeiro dele diz respeito à segurança jurídica dos contratos de concessões realizados em parceira com os governos; o segundo é sobre a realização de projetos com locação adequada de riscos inesperados como a pandemia e que causou a interrupção de serviços; e o terceiro é em relação à maior oferta de mais fontes de investimentos não com base em garantas reais, migrando para modelos mais de “Project Finance”, mas com um modelo bem estruturado em que o investidor também participa do risco do projeto.

Em suma, se tudo acontecer como o esperado, as perspectivas são boas para o setor e áreas com maior defasagem de investimento como transporte e logística serão contempladas. A ideia é que os projetos de infraestrutura melhorem a competitividade do Brasil no que diz respeito à exportação e ao escoamento de produtos por portos e ferrovias. São demandas promissoras que dependem também de alguns pontos da reforma tributária para desonerar o setor. Vimos que a pandemia influenciou na redução de demanda na mobilidade urbana, colocou em xeque diversos projetos, especialmente, de moradia urbana, mas apesar disso a indústria está demonstrando ser resiliente frente à crise.

* André Marinho é sócio de infraestrutura da KPMG

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