Nessa era de nuvens invisíveis e intáteis, na quais se podem armazenar raios e trovões, vira e mexe, lembro-me do meu pai na sacada do sobrado da rua Bom Jesus, na Cidade Alta, em Piracicaba, interior paulista.
Ele carregava o meu imaginário de encantamentos toda vez que me chamava para enxergar as incríveis figuras mutantes que se desenham incessantemente no ritmo de nuvens. Você sabe?! Estou tentando aqui descrever um pouco do eternamente Divino cinema transcendental que jamais nos cobra ingresso algum para ser apreciado. É só levantarmos as cabeças.
A madrinha Lua? Ah! Ela igualmente me é platonismo puro, desde então. Arcanjo manjava das coisas. E tamanhos presságios sustentam a gente vida adentro. Isso é legado real!
Professor de Latim, Português e Assistente Social, Arcanjo Porrelli trabalhava no SENAI quando passou para o lado de lá das nuvens. Eu tinha oito anos. Lá se vão mais de cinco décadas. Ele lia Monteiro Lobato para mim. Produzia e revelava as fotos da família; fazia os nossos brinquedos de madeira. Carpintaria, marcenaria e fotografia eram algumas das suas paixões. Mas, aos 48 anos, Deus o chamou. Pudera, com esse nome.
Vale destacar que os anos eram 60… Entretanto, permita-me: melhorou alguma coisa de lá para cá? Ora! Sejamos sinceros…
Bem! Na inevitável espiral atemporal de todos nós, sigo montando os meus quebra-cabeças. Contudo, a mais enfadonha constatação é que, se não nos cuidarmos, seremos devorados pelo excesso e mal uso de tecnologias. Porque, cá entre nós, as respostas certeiramente não virão das redes sociais. Não mesmo.
Quer saber? Vou para a sacada observar as nuvens.
Paulo de Tarso Porrelli é escritor e jornalista.
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