* Amadeu Roberto Garrido de Paula
Brilhante conjectura tornou-me rei
e as subsequentes foram consequentes.
Olhei as capas venerandas dos livros
eternamente folheados, amados
senti meus velhos amigos filósofos
em torno da velha mesa redonda
sorvendo vinhos, cada vez mais ousados,
cada vez mais dogmáticos, impenetráveis,
assim as tertúlias foram noite a dentro
o mundo se apequenou diante de tantos
sábios.
Um falava de ontologia, outro da coisa-em-si,
cada vez mais todos fora-de-si,
ainda assim havia raciocínios perfeitos,
lógicas de premissas e conclusões firmes
mulheres se encarregavam dos canapés
e de não faltar as partículas etílicas.
Pensei deitar e sonhar.
Todos eles retornariam, ou nenhum deles,
mas, de todo modo, se houvesse sonho,
minha esquálida energia seria recomposta
às primeiras luzes do alvorecer.
Será que pensamos mais à noite
Ou a noite é mais pensativa?
O dia é o homem, a noite a mulher,
no reino azul do céu, pleno de estrelas,
a lua é a experiente messalina.
Deixei pensando a casa dos pensadores
lagoa abaixo, sob uma garoinha,
a regar meus neurônios dessarrumados
cruzei olhos apertados e trespassantes
na manhã percebi minhas traições aos pensantes.
* Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.
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