O que está por trás da reforma do ensino médio

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* Tânia Medeiros – A Medida Provisória da reforma do ensino médio acaba de ser sancionada pelo presidente Michel Temer. O tema foi recheado de polêmicas e debates, nada sem razão, já que, para todos os públicos envolvidos diretamente na questão – professores, escolas, alunos e respectivos pais – há tanto pontos positivos quanto negativos, que devem ser melhor detalhados.

Uma das mudanças contidas na MP é a forma de se constituir a grade curricular. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) preencherá 60% do currículo. Os 40% restantes poderão ser escolhidos pelos estudantes em cinco diferentes áreas: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas; e formação técnica e profissional.

Nesse quesito, a alteração pode ser vista como positiva para todos os envolvidos, principalmente para os alunos, que poderão focar na área de seus interesses. Isso lhes dará maiores chances de sucesso no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e, como resultado natural, possibilidades maiores de ingresso na universidade. Bons resultados, obviamente, também fazem dessa alteração algo positivo para a felicidade e satisfação dos pais ao vivenciar a evolução de seus filhos, e até mesmo para a escola, que pode transformar tais resultados em um excelente marketing institucional.

Outra relevante mudança contemplada na reforma do ensino médio diz respeito à carga horária, que seria ampliada progressivamente das atuais 800 horas anuais para até 1,4 mil horas por ano, sendo que, no prazo máximo de cinco anos, todas as escolas de ensino médio no país já devem estar com pelo menos mil horas de carga horária.

Nesse quesito, há alguns pontos de vista a serem observados. Para manter os alunos por mais tempo na escola, as instituições de ensino precisarão se aprimorar e gerar mais conteúdo educativo. Acaba sendo, então, uma oportunidade de buscar diferenciais, estes oferecidos pelos sistemas de ensino que hoje são os grandes responsáveis por fomentar as escolas com todo o conteúdo didático. Os professores também terão que se capacitar continuamente, com o objetivo de criar aulas diferenciadas capazes de atrair a atenção dos alunos por mais tempo.

Os alunos, por sua vez, também ganham, já que a extensão da matriz curricular requer, além do amplo material didático, soluções educacionais e recursos digitais para não ficar restrita apenas às aulas expositivas. Tal diversidade de ferramentas certamente os conduzirão para um melhor aprendizado.

Vale ressaltar ainda que, para os professores, a extensão da carga horária também deve ser vista com bons olhos. Como a forma de cálculo de recebimento é por hora/aula, a ampliação de seu tempo de trabalho nas escolas lhes resultará em maior remuneração.

Mas, nem tudo são flores nessa alteração. Para atender a exigência de ampliação da carga horária, as escolas terão elevados seus custos, seja para o pagamento de itens como luz e água, seja para o pagamento dos salários dos professores e demais profissionais demandados, como inspetores, seguranças e equipe de limpeza. É bem provável que esses custos sejam, em algum momento, repassados para os pais, que sofrerão o reajuste na mensalidade escolar de seus filhos. Nesse aspecto, devem sofrer igualmente as instituições de ensino que tenham tíquete médio baixo e que perderão alunos que não tenham condições de arcar com um aumento da mensalidade.

É importante destacar que o maior tempo na escola não necessariamente garante melhor aprendizado. A equipe escolar tem que ser capacitada para oferecer mais conteúdo, bem como a aplicabilidade do mesmo ser mais eficiente, o que exige que a proposta pedagógica deva ser pensada e elaborada de forma mais profunda.

Por fim, a extensão da carga horária traz outras questões: sobrará tempo para que o estudante do ensino médio consiga realizar um cursinho preparatório para concorrer a uma vaga universitária? Os cursos noturnos oferecidos por muitas escolas do ensino médio precisarão ser extintos? E os milhões de jovens brasileiros que, infelizmente, precisam conciliar estudo e trabalho para auxiliar na composição da renda familiar? Estes terão que optar em seguir uma vida de labuta ou uma vida de estudante?

Não há dúvidas que a medida sancionada pelo presidente Temer representa uma grande oportunidade de melhoria no rendimento escolar dos alunos no país. A caminhada, porém, é mais longa e muito mais complexa. Deveria envolver, inclusive, outras etapas da vida escolar. Nada falou-se do ensino fundamental. Como está atualmente, será que tal fase escolar preparará de maneira correta o jovem estudante para a transição de um ensino médio totalmente reformulado?

* Tânia Medeiros é coordenadora pedagógica do Sistema Maxi de Ensino

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