O que esperar da Economia em 2017?

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* Mariana da Cruz Mascarenhas – Por volta das 23h59 do dia 31 de dezembro aparecerá no céu: ‘Escrito e dirigido por Quentin Tarantino’: essa frase apareceu numa postagem do Twitter, citando o renomado diretor norte-americano, conhecido por seus filmes sobre violência e explosão.

Esses e outros posts viralizaram nas redes sociais, ao conferir um cenário apocalíptico e de crise de 2016: eleição de Donald Trump nos EUA; impeachment de Dilma Rousseff no Brasil, guerra civil na Síria; Brexit (saída do Reino Unido da UE), morte de refugiados em embarcações precárias nos mares de todo o Mundo…

A economia brasileira também sofreu impacto, em meio à “avalanche” de denúncias e ataques da Operação Lava Jato, sendo atingida em cheio pela desconfiança e incertezas geradas por um cenário político instável, caótico, e mergulhado em altos índices de desemprego.

De acordo com o IBGE, o PIB (Produto Interno Bruto) – um dos principais indicadores de uma economia que representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos numa região durante um período – sofreu uma redução de 0,8% no terceiro trimestre de 2016.

A economia brasileira encontra-se em queda há sete trimestres consecutivos numa das maiores recessões do país. Ainda de acordo com o IBGE, trata-se da mais longa sequência de quedas de acordo com a atual série histórica das Contas Nacionais iniciada no primeiro trimestre de 1996.

No trimestre de agosto a outubro, o desemprego atingiu 12 milhões de pessoas no Brasil, segundo o IBGE, um aumento de 32,7% em relação ao ano anterior. Ainda assim, a Economia chegou a ganhar pequenos ares de esperança em outubro deste ano: de acordo com a Confederação Nacional da Indústria, a confiança do consumidor aumentou 1,3% em relação a setembro, pelo quarto mês consecutivo.

A confiança dos empresários do setor do comércio também aumentou 1% neste período, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio. Uma esperança que brota de projeções mais positivas para um futuro não longínquo.

Mas por quê, ainda assim, o cenário econômico brasileiro insiste em patinar na recessão sem previsão de melhoras? Primeiro, porque uma crise não se resolve de um dia para o outro. E segundo, porque a confiança é mais positiva do que a própria realidade: o desemprego está em alta e os consumidores, apesar de se intitularem confiantes, estão comprando menos devido à crise.

Preocupado com o panorama econômico brasileiro, o governo Michel Temer implementou uma série de medidas para salvar a economia. Muitas delas vêm dando o que falar por apresentarem radicalismos em alguns pontos – a PEC 55, por exemplo, é uma das principais propostas do governo de Michel Temer para reequilibrar as contas públicas e viabilizar a recuperação da economia por meio do corte de gastos.

Outro exemplo é a Reforma Previdenciária. Elaborada pelo governo e ainda dependendo de votação na Câmara e no Senado para ser aprovada, a reforma estabeleceu uma idade mínima para aposentadoria de 65 anos, tanto para homens quanto para mulheres. Na visão do governo, a proposta é uma forma de suavizar os gastos com aposentadorias e pensões que, somente no ano passado geraram um déficit de 86 bilhões de reais. Este ano a estimativa é de 150 bilhões.

O problema é que a tal reforma apresenta algumas deficiências, como deixar os militares fora de tal regra. Para se ter uma ideia, esse grupo, junto com servidores do Legislativo, tem as aposentadorias bancadas por regime próprio de previdência, as quais encerraram 2015 com um déficit de 126,7 bilhões de reais.

Há ainda as medidas radicais como a exigência de 49 anos de contribuição para a obtenção de aposentadoria no valor integral – o que inclusive gerou piadas nas redes sociais de que a certidão de óbito virá muito antes da tal aposentadoria.

Economias em crise exigem cautela e cortes. Mas é preciso avaliar a fundo e principalmente planejar sobre como realizar tais ajustes. Afinal, estamos vivendo uma crise, fruto de gastos desenfreados do governo e estímulo ao consumo excessivo e endividamento, sem contar a corrupção. De acordo com o procurador da República Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa do Ministério Público na Operação Lava Jato, a corrupção no Brasil desvia dos cofres públicos algo em torno de R$ 200 bilhões por ano. O valor supera o déficit da Previdência Social.

Afim de dar um alívio aos custos do setor privado, a equipe de Temer apresentou em dezembro de 2016 um pacote de medidas econômicas que inclui a eliminação gradual, num prazo de dez anos, dos 10% adicionais pagos ao governo pelas empresas ao demitirem funcionários; regularização de dívidas por meio do parcelamento de débitos de pessoas físicas e jurídicas vencidos até 30/11/2016; agilização da abertura e fechamento de empresas para amenizar a burocratização; redução do tempo de repasse pelos bancos aos lojistas dos valores pagos em cartão de crédito, entre outros.

São medidas que a princípio podem aliviar o bolso de empresas quanto a questões burocráticas e tributárias, por exemplo. Mas a longo prazo não surtirão efeitos grandiosos na recuperação econômica de modo geral. E o que esperar da economia em 2017? Ela ainda se revela uma incógnita, porém poderá surpreender positivamente se as austeridades anunciadas forem aplicadas.

Mas, infelizmente, entre elas há muitas que sacrificarão o povo, que pagará por erros cometidos por governantes, tornando tais soluções muito mais difíceis de engolir.

 

387123_2534444773026_278597397_n* Mariana da Cruz Mascarenhas é jornalista e especialista em Comunicação Organizacional. Articulista e crítica de Economia e Cultura, já escreveu matéria do Vaticano, além de muitos outros trabalhos jornalísticos em São Paulo.  Saiba mais

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