O que ensinar aos filhos sobre a vida em época de Coronavírus

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* Stella Azulay – É como eu estivesse vivendo uma guerra mundial. Apesar de estar muito longe dessa realidade, com armas e inimigos físicos querendo nos eliminar, ainda assim o clima me remete às incertezas de como vai ser o amanhã, quais as consequências, onde, como e quando tudo isso vai terminar. Quem vai sobreviver e, principalmente, como vai sobreviver a todo esse episódio com toques de apocalipse.

Sou mãe de 4 filhos, duas meninas moram na Inglaterra e estavam com passagens compradas para o Brasil nas próximas semanas. A contagem regressiva para matar as saudades mudou de tom.

Moro em São Paulo, mas meu avô, já com 95 anos, vive no Rio de Janeiro sozinho, estou com passagem marcada para visitá-lo essa semana. Ele estava contando as horas. Agora não sei o que fazer.

Meus pais estão em quase todas categorias de grupo de risco. E a alegria deles é estar com os netos. Alegria que no momento estão privados.

O planejamento profissional mudou da noite pro dia. Estratégias, metas, programações, tudo sendo revisto e refeito.

Eu detesto histeria, e detesto negligência. Estou buscando encontrar lucidez em meio a tantas notícias, tantas opiniões, tantas imagens tristes e chocantes, e tantas responsabilidades.

Portanto, aqui estão algumas orientações para nos aproximarmos de nossos filhos e deixarmos uma marca positiva em suas vidas quando tudo isso acalmar:

– Conversem com eles: ter uma conversa tipo reuniãozinha, todos juntos para explicar, esclarecer e até mesmo expressar seus sentimentos, essa atitude é muito saudável para as crianças e os adolescentes. Torna o momento oficial. A pauta fica aberta. E isso traz um sentimento de responsabilidade e cumplicidade, que são cruciais.

– Assuma o nervosismo: claro que todos ficam tensos, e muitas vezes nós, adultos, descontamos em quem está mais perto, no caso os cônjuges e os filhos. Ao perderem o controle ou sentirem que estão transmitindo nervosismo, tenham a humildade de reconhecer e peça desculpas. Explique ao filho ou ao parceiro que não é nada com eles, apenas nervosismo seu e que está buscando se controlar.

– Crie formas alternativas de contato: muitos netos nunca ligam para os avós. Aparecem de vez em quando. Esse é o momento ideal para que entendam que os avós estão em confinamento por fazerem parte do grupo de risco e que merecem um carinho ainda maior, que pode ser feito por telefonema, mensagens de whatsapp, desenhos deixados na portaria.

– Os não que a vida nos dá: essa situação de estar de férias, porém nada divertidas. Esse é o maior desafio de todos. Filhos sem aula, pais trabalhando com rotinas modificadas, passeios e diversão restritos ao máximo. Hora de recorrer à criatividade. E hora dos filhos entenderem e aprenderem que as coisas não são do jeito que a gente quer. Que sim, a vida às vezes é muito chata, com muitas regras, com limitações e muitos AGORA NÃO DÁ OU NÃO PODE. Como é uma situação global, os argumentos com eles ficam mais fortes. Todos no mesmo barco.

– Colaborando em casa: ótima chance de todos colaborarem em casa, já que muitas ajudantes serão dispensadas temporariamente e, muitos pais, vão acumular funções. A famosa conversinha pode vir acompanhada de uma distribuição de tarefas. Mas tudo isso pode e deve ser feito em clima de equipe. Eles fazem parte dessa equipe. Passar essa sensação de comprometimento com o momento faz com que eles se sintam importantes e com a sensação de que os pais confiam neles para fazerem parte desse mutirão emergencial

– Empatia já: temos a chance de nossas vidas para nos educarmos e, nos educando, educaremos nossos filhos. Muito se fala em empatia. Mas na prática, em casa, em família, em comunidade, como isso acontece? Com o coronavirus essa aula de empatia pode acontecer dezenas de vezes por dia. E a primeira delas é manter a calma, a lucidez, sem histeria, sem entrar no clima de pânico que se instaura em grupos de redes sociais. Um pouco de fé também ajuda muito. Não vai nos faltar nada. Nem comida, nem papel higiênico, nem nada, porque vivemos num mundo colaborativo.

Precisamos apostar nisso em nome das próximas gerações. Se cada um começar a pensar comunitariamente dentro de seu microcosmo, cria-se uma corrente do bem, uma corrente de força, de confiança, de coragem, de amor. Não espere o vizinho começar. Não gaste tempo e energia com discursos na redes sociais, use tudo isso para atitudes que sejam exemplo, que inspirem, que façam desse momento tenso um momento de luz para um mundo melhor.

* Stella Azulay é Jornalista e Coach Comportamental com especialização em Análise de Perfil e Neurociência Comportamental

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