O lucro privado e os danos públicos dos investimentos: o viés perverso do mercado

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* Luciano GurgelO mundo vivencia a internalização de um novo eixo importante para a análise dos investimentos, algo análogo ao que ocorreu após a Crise de 1929 – quando se descobriu que deveríamos pensar que existe risco associado ao retorno esperado.

Naquela época, incorporou-se, portanto, o segundo eixo ao processo de análise de investimentos, que passou a ser uma matriz do binômio risco x retorno. Hoje, vivemos a incorporação de uma terceira chave de leitura, que vai formar o trinômio risco, retorno e impacto. Na percepção do economista Luciano Gurgel, diretor-executivo da Artemisia, os investidores globais demoraram quase 90 anos para entender que não é somente o retorno financeiro que deve ser considerado nas avaliações de investimento; os riscos também entram em cena com um peso decisório considerável, como foi pós-29.

Segundo Gurgel, até hoje, os impactos negativos das empresas foram tratados como não pertencentes aos investidores e acionistas. Os lucros, ao contrário, são privados, enquanto os impactos negativos gerados pelas empresas investidas são públicos, portanto, pertencentes a toda a sociedade. Nesta concepção míope, caberia ao Estado mitigar e prevenir os danos gerados pelas empresas, algo que tem mudado ao longo dos anos, a partir da criação de políticas de responsabilização individual dos danos causados pelas corporações, especialmente os ambientais. Entretanto, os danos sociais ainda não entraram nesta equação; as empresas tabagistas e as de bebidas alcoólicas, por exemplo, não assumem os custos do Estado com a saúde, destaca o economista.

Gerar energia com uma usina termelétrica movida a carvão é bem mais barato do que com uma usina hidrelétrica. Uma estrada que atravessa uma área de gestão demanda menos custo do que uma área preservada para nascentes de rios. Usar metais pesados em processos de mineração é mais barato do que adotar técnicas sem referência. A questão fundamental é que, historicamente, no mundo dos investimentos, os retornos sempre foram vistos como privados – e detidos pelos investidores –, enquanto os impactos socioambientais gerados por decisões de investimento são vistos como públicos. Portanto, pertencentes a toda a sociedade”.

 Na análise do diretor-executivo da Artemisia, essa discussão passa pela dimensão do poder regulatório e punitivo do Estado e pela Taxa Interna de Retorno Social (TIR). Ou seja, ao produzirmos negócios que resolvam problemas socioambientais, aliviaremos a carga tributária futura, que é o meio pelo qual o Estado vai financiar as medidas de mitigação e reparação dos danos causados por decisões de investimento que estão sendo feitas hoje.

Na percepção do economista, os negócios de impacto socioambiental respondem a essa demanda urgente. “São iniciativas empresariais, portanto, sustentáveis do ponto de vista financeiro e que ajudam a resolver problemas sociais contemporâneos. No futuro, essa atuação alivia a carga que seria gerada sobre os ombros de todos os contribuintes e da sociedade como um todo. Ao se analisar a viabilidade financeira e os retornos gerados pelos negócios de impacto, é necessário ir além da empresa e envolver análises de externalidades positivas (impacto socioambiental positivo) que estes negócios geram”, defende.

* Luciano Gurgel é diretor-executivo da Artemisia

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