* Mariana da Cruz Mascarenhas – O cenário não poderia ser melhor. Em 2009, o então presidente Lula celebrava exuberante uma notícia que a priori foi comemorada em todas as partes do Brasil. Após uma acirrada disputa com as cidades de Madri, Tóquio e Chicago, o local escolhido pelos membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) para sediar as Olimpíadas de 2016 foi o Rio de Janeiro.
O ineditismo do local e o positivo movimento econômico foram os pontos levantados pelo Rio nos argumentos de defesa para sediar os jogos. E fizeram jus aos aspectos, afinal, em 2009, o Brasil desfrutava de um cenário de estabilização econômica e, segundo o Fórum Econômico Mundial, era o país que mais havia aumentado sua competitividade no mesmo período, ganhando oito posições entre outros países.
Com a ascensão de classes sociais mais baixas, o aumento do poder de compra populacional e o crescimento econômico de modo geral, não havia motivos para criticar a escolha da nação brasileira como palco das Olimpíadas, pois, ao que tudo indicava, estaríamos mais do que preparados para receber tamanho evento.
Passados sete anos, e com o Rio de Janeiro já recebendo delegações de todos os continentes do mundo para a abertura das olimpíadas, o cenário brasileiro mudou completamente, como que da água para o vinho — ou seria para o vinagre? O Brasil enfrenta uma forte recessão econômica, alta da inflação, desemprego elevado, corrupção política, e medidas como pedaladas fiscais e tomada de decisões sem aprovação do Congresso – que levaram ao afastamento da presidente Dilma Rousseff.
O clima de festa para receber as Olimpíadas se espaireceu no ar e deu lugar a um ambiente repleto de brasileiros indiferentes, ou até revoltados com a destinação de recursos para tal evento. Dados divulgados pelo instituto Datafolha em 5 de agosto de 2016 mostraram que 50% dos brasileiros são contrários a realização dos Jogos no Rio – em 2013 eram apenas 25%. O instituto ainda apontou que 63% acreditam que o evento trará mais prejuízos do que benefícios para os brasileiros em geral – em 2013 eram apenas 38%.
Para o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, a Olimpíada de 2016 não deixará a desejar, proporcionando uma cidade transformada. Mas em termos econômicos, por exemplo, o legado a ser deixado pelo evento não é este paraíso anunciado, idealizado por alguns. É óbvio que a realização de um megaevento como este exige mudanças na cidade sede.
A zona oeste carioca ganhou faixas exclusivas de ônibus, o VLT (veículo leve sobre trilhos) chama atenção de turistas e moradores, foi erguido um Parque Olímpico e a zona portuária teve parte de sua estrutura remodelada. Em termos de infraestrutura, o Rio foi realmente transformado, como disse o prefeito, especialmente em relação a mobilidade urbana. Mas vale lembrar que o governo estadual se encarregou da limpeza da Baía de Guanabara em razão do evento, a qual não ocorreu.
A agência de classificação de risco Moody’s lembrou que foram investidos 25 bilhões de reais na preparação da cidade e região para as Olimpíadas. Mas segundo o pesquisador do COI, Lamartine Pereira da Costa, o impacto nas contas públicas foi limitado em razão da privatização de alguns serviços, como é o caso da construção do Parque Olímpico, que foi quase inteiramente financiado pela iniciativa privada.
A grande questão é o destino posterior que muitas das instalações olímpicas terão, correndo o risco de se tornarem elefantes brancos. Outro entrave que já se concretiza são os problemas encontrados pelos atletas na Vila Olímpica da Rio 2016, como falta de água, luz e gás, entre outros. Em 2007 o Rio sediou os Jogos Pan-Americanos e os atuais moradores da Vila do Pan – que hospedou mais de 5 mil atletas e custou R$ 230 milhões, contando com grande financiamento público – passam até hoje por problemas semelhantes.
Todavia é óbvio que os Jogos conferem benefícios, porém muito mais para o Rio do que para o Brasil. Engana-se quem pensa que tal evento é a solução que faltava para resolver a economia do país. Sem falar que são efeitos a curto prazo, pois as competições durarão apenas duas semanas. De acordo com o setor de RH dos Jogos, foram abertas cerca de 90 mil vagas temporárias de trabalho. Os hotéis e restaurantes, por exemplo, terão muito a ganhar. Afinal são 10.500 atletas de 206 países e mais de 350.000 turistas desembarcando no Rio de Janeiro. Porém a questão é que não é um evento como as Olimpíadas que atrairá investidores para o país, mas sim o panorama econômico nacional de uma forma geral.
Portanto, sediar uma Olimpíada traz sim seus benefícios – no caso do Rio se deu principalmente na infraestrutura e no transporte. Difícil é transferir para esse grande evento a condição de salvação da pátria para resolver os atuais problemas econômicos brasileiros, os quais exigem soluções muito mais duradouras, como reforma previdenciária, corte de gastos, estabilização da economia, entre outros.
Eis o início das Olimpíadas Rio-2016, um registro muito mais marcante para a história do Brasil do que para seu bolso.
Confira no link abaixo um vídeo sobre quanto custa ao país realizar uma Olimpíada. Aqui no Brasil os gastos já chegam a 40 bilhões. Assista ao vídeo
* Mariana da Cruz Mascarenhas é jornalista e especialista em Comunicação Organizacional. Articulista e crítica de Economia e Cultura, já escreveu matéria do Vaticano, além de muitos outros trabalhos jornalísticos realizados em São Paulo.
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