* Bruno Toldo – Novamente observamos no começo do ano o aumento de casos de COVID-19 e, por consequência, uma restrição na oferta de insumos, desta vez os testes RT-PCR e de antígeno. Essa não é a primeira vez que o setor de saúde, governo e população precisam lidar com este tipo de problema. No começo da pandemia, em 2020, faltaram respiradores, equipamentos de proteção individual (EPI) e medicamentos como sedativos (essencial para o cuidado do paciente em ventilação mecânica) e o primeiro trimestre de 2021 foi marcado pela falta de oxigênio.
A necessidade de produzir relatórios sobre a quantidade de insumos para informar as autoridades gera mais trabalho e pressão às equipes administrativas e aos gestores, que precisam lidar com o aumento de casos entre os próprios colaboradores da linha de frente de combate à pandemia e a consequente redução do quadro. Este cenário mostra a importância das instituições de saúde pública e privada terem um sistema capaz de fornecer e integrar dados dos registros médicos e do planejamento de recursos empresariais com o objetivo de evitar a sobrecarga de trabalho e erros causados pela entrada dupla de dados.
Os sistemas capazes de interoperar dados podem determinar automaticamente o esgotamento de suprimentos com base na documentação clínica. Além disso, a utilização de suprimentos pode ser prevista com base em procedimentos agendados e internações hospitalares, o que permite planejamento e pedidos proativos, ações essenciais não apenas durante a pandemia, mas no pós-pandemia para evitar desperdícios e escassez de suprimentos.
Transparência nos valores
A interoperabilidade de dados financeiros com informações de recursos humanos e sistemas clínicos ainda ajuda a determinar o custo exato da prestação dos serviços para pacientes ou linhas de serviço específicas, custo baseado na atividade. Atualmente, muitos hospitais têm dificuldade em determinar seus custos reais porque eles geralmente são avaliados pelos diferentes centros de custo e não pelo serviço que é prestado.
Mas já acontece no Brasil a mudança para um sistema de custos baseado na performance, que têm como foco toda a jornada de saúde do paciente, a qualidade do atendimento prestado e o desfecho clínico. Isso aumenta a importância da transparência de preços e os gestores precisarão entender quais são seus custos em comparação com os benchmarks do setor, o que também ajuda a identificar desperdícios, pontos de melhoria e otimizar a cadeia de suprimentos. Além disso, a redução de custos e a eliminação de desperdícios melhoram o atendimento ao paciente e os resultados da instituição que presta o serviço. Esses benefícios ganham importância durante uma pandemia, quando muitos procedimentos eletivos precisam ser adiados e os recursos alocados para o tratamento de pacientes em casos de urgência.
Melhorar a interoperabilidade de dados também ajuda as organizações do setor de saúde a modernizar as interações com os pacientes e a adoção de uma estratégia de Digital Front Door ou em português Porta de Entrada Digital, que requer várias integrações personalizadas para permitir um engajamento maior do paciente. E uma das funcionalidades mais importantes de uma estratégia Digital Front Door é o agendamento online, o que requer um sistema para os procedimentos de agendamento das consultas, que também possibilite a gravação e transcrição da interação, de exames e outros cuidados suplementares, como fisioterapia, vacinação, além da integração da documentação clínica e financeira, sem aumentar a carga de trabalho dos gestores, equipes administrativas e de tecnologia.
Embora a interoperabilidade de dados no setor de saúde ainda seja um processo em desenvolvimento em todo mundo, inclusive no Brasil. Nos últimos anos o HL7 FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resource), padrão de interoperabilidade internacional mais adequado para troca de dados baseada na Web, que utiliza APIs e análise de dados, tem ganhado espaço entre os desenvolvedores de sistemas para a área da saúde. Este padrão permite o desenvolvimento de muitas inovações com altos níveis de proteção e segurança de dados, como por exemplo, aplicativos que permitem o agendamento de consultas sem que o paciente precise fazer uma ligação, o que também reduz a carga de trabalho de profissionais da área administrativa.
Foi necessária uma pandemia para reforçar globalmente a importância estratégica da interoperabilidade para conectar dados clínicos e administrativo-financeiros com o objetivo de evitar a entrada dupla de dados, ajudar a prevenir a escassez de suprimentos, promover a atribuição precisa de custos e o atendimento aos pacientes com uma estratégia interativa de acesso digital.
Apesar da maioria das transações no Brasil ainda ocorrerem em diferentes sistemas que necessitam de uma ferramenta capaz de atuar como uma ponte entre o velho padrão e o novo, executando uma “tradução” em tempo real, essas ferramentas estão disponíveis e permitirão estarmos preparados antes que uma próxima onda da pandemia de COVID-19 ou de outra doença afete o atendimento às pessoas e sobrecarregue os profissionais e gestores do setor de saúde.
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* Bruno Toldo é Chief Medical Information Officer na Infor
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