O 5G precisa ser “aberto” e transparente

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* Fabio Rua – A pandemia de COVID-19 trouxe à tona o quanto a conectividade é vital para a sociedade e para a economia. E a adoção generalizada das tecnologias 5G tem o potencial de tornar a conectividade em uma ferramenta ainda mais poderosa, transformando completamente a maneira como vivemos e trabalhamos.

O aumento de velocidade e capacidade das ofertas de rede 5G não só poderá melhorar as tecnologias já existentes, como, por exemplo, o streaming de vídeo, mas também permitirá a adoção de aplicações totalmente novas que as redes atuais ainda não são capazes de suportar.

Com o 5G, será possível explorar soluções para diversas situações que exigem altas taxas de transferência de dados. Na indústria, por exemplo, pessoas e máquinas poderão explorar ainda mais o potencial da inteligência artificial, com o reconhecimento visual e as percepções acústicas, assim como ampliar o uso de sensores IoT próximos da linha de produção para checar a qualidade da operação.

No varejo, as redes de altíssima velocidade poderão oferecer experiências imersivas, como o uso de sistemas de realidade aumentada e análise de big data. E para os usuários como um todo, poderá proporcionar muitos benefícios, entre eles novas formas de mobilidade, monitoramento dos espaços, segurança pública e privada, casas, cidades, fábricas, estádios, veículos, lojas, fazendas eportos inteligentes; e no campo da educação, a realidade virtual e aumentada poderá habilitar novas maneiras de aprendizagem.

É possível afirmar que estamos vivendo um momento extremamente crucial na história da tecnologia, ainda mais após todo o processo de aceleração digital e transformação exigidos durante o período da pandemia de COVID-19. As decisões que tomarmos hoje sobre como as redes 5G serão construídas em nosso país terão um impacto sem precedentes na transformação dos negócios. E para garantir que esse impacto seja positivo e explore todo o potencial da tecnologia 5G, ela deve ser baseada em interfaces abertas e soluções de computação em nuvem orientadas por código aberto, que permitam que os mais variados provedores possam competir, por igual, para oferecer as soluções mais inovadoras, seguras e econômicas.

Enquanto a IBM e outras companhias lideram o desenvolvimento e a implementação de tecnologias abertas para o 5G, o governo pode ajudar a acelerar esta transformação. Os formadores de políticas públicas devem agir desde já para acelerar o desenvolvimento e a adoção dessas redes abertas em benefício dos consumidores, da concorrência, da economia e da segurança nacional.

E antes de tudo isso, os governos precisam desenvolver Estratégias Nacionais de 5G, promovendo a adoção das arquiteturas abertas e das tecnologias de código aberto em nuvem. Isto capitalizaria a força das indústrias de desenvolvimento de software e computação e garantiria que tanto pequenas como grandes empresas pudessem ser globalmente competitivas no 5G.

Como parte das Estratégias Nacionais de 5G, os governos também devem usar as autoridades de promoção e os mecanismos de aquisição existentes para fazer avançar as tecnologias 5G abertas. Por exemplo, no Brasil:

• A ANATEL poderia usar seu poder regulador para estimular amplamente a discussão e promover as tecnologias 5G abertas para aumentar a sua conscientização e adoção. Do mesmo modo, seria importante buscar incentivos para que se desenvolvam políticas públicas de estímulo ao financiamento da compra de equipamentos de telecomunicações 5G que utilizem arquiteturas abertas.
• Os Ministérios da Economia e da Defesa poderiam fazer uso de seu poder de compras para acelerar seus pilotos de infraestrutura 5G e dar preferência às soluções 5G que utilizam arquiteturas abertas, especialmente O-RAN e tecnologias de código aberto em nuvem.

Além disso, os governos precisam incentivar e acelerar a competitividade em 5G. O Governo Federal poderia:

• Acelerar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias 5G abertas por parte da indústria, agências de pesquisa e academia. Isto poderia incluir incentivos financeiros diretos para organizações que lideram estes esforços, tais como subsídios financiados por recursos provenientes de leilões ou outras fontes, ou via empréstimos com juros baixos ou sem juros para investimentos de 5G; incentivos fiscais, tais como um aumento do crédito fiscal para pesquisa e desenvolvimento (P&D) especificamente para investimentos de 5G; e investimentos em capital humano. Isto também poderia incluir uma ênfase em interfaces abertas nas agências federais de pesquisa e incorporar o uso de interfaces abertas em projetos-piloto de 5G. Um sistema consistente de P&D pode ajudar a promover a inovação em rede, bem como desenvolver incentivos para ajudar a garantir um leque diversificado de fornecedores confiáveis a longo prazo.
• Apoiar a rápida implementação de tecnologias abertas de 5G. Isto poderia incluir concessões e empréstimos sem juros para empresas e municípios para a implantação de redes 5G construídas com arquiteturas de código-fonte aberto. Isto também deveria incluir o financiamento de mecanismos de cooperação apoiados e administrados com parceiros internacionais confiáveis para fomentar o desenvolvimento de um mercado robusto e competitivo para as tecnologias 5G abertas.

Se o governo se mover rapidamente para acelerar a adoção de arquiteturas 5G livres, abertas e transparentes, ele pode maximizar os benefícios que esta tecnologia pode oferecer, tanto para os consumidores, como para a segurança nacional e para a economia, da qual a conectividade é insumo básico. Mas se não o fizerem, as arquiteturas fechadas sufocarão a inovação e a concorrência, aumentarão os custos e colocarão em risco a segurança e a resiliência das redes 5G.

Muitos países estão bem posicionados para serem competitivos em 5G, mas isso só será garantido se os formadores de políticas tomarem medidas para garantir que o futuro do 5G seja, de fato, “aberto”.

* Fabio Rua é diretor de Relações Governamentais e Assuntos Regulatórios da IBM América Latina

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