Nas mãos da quase desconhecida Bárbara, a redenção de Marta

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olimpiadas* Wilson Moço – Haja coração, como diz um narrador da TV. Enquanto a meia-atacante Marta caminhava lentamente para cobrar o último pênalti do Brasil na decisão da vaga à semifinal do futebol feminino da Rio 2016 contra a Austrália, já no início da madrugada deste sábado (13), logo veio à mente a recente final entre Chile e Argentina na Copa América. Afinal, tanto uma quanto o outro usam a camisa 10, são canhotos, capitães de seus times, craques inquestionáveis e eleitos várias vezes os melhores do mundo.

E porque lembrar de Messi quando no Mineirão eram as meninas do Brasil a decidir uma vaga na semifinal dos Jogos Olímpicos? Simplesmente porque o maior craque do futebol mundial nos últimos 10 anos, pelo menos, foi para a cobrança da penalidade, mandou por cima da trave e o Chile foi campeão. Bateu mal, muito mal. Será que os deuses da bola reservariam o mesmo para Marta?

Mas craque também erra, e não pode ser condenado por isso. Faz parte do jogo errar. Até porque, se ninguém errasse talvez não houvesse um vencedor. Mas Messi errou, a Argentina perdeu o título e naquele momento ele disse adeus não apenas ao título, mas também à seleção do seu país. Decisão que, ao que parece, pelo bem do futebol, durou poucos meses e o número 10 da Argentina deverá em breve reaparecer em suas costas nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018.

Mas, voltando à decisão por pênaltis entre Brasil e Austrália, quando Marta caminhou para o gol onde ocorriam as cobranças, voltou também à mente uma cobrança de pênalti em jogo decisivo do Triângulo de São Bernardo no campo do Nacional do Vila Vivaldi. Ali também o responsável pela cobrança era um canhoto, um dos craques do time, e ele perdeu – e eu ainda era um garoto que só jogava peladas e estava ali para ver meu irmão mais velho jogar. Talvez por essas coincidências é que bateu o temor, e até ameacei ir para a cozinha para não ver a cobrança.

Resolvi encarar os medos e ver a cobrança. Afinal, era Marta quem ia bater o último pênalti da série de cinco. A mesma Marta que encanta o planeta bola e, como se diz no jargão do futebol, até come grama quando veste a camisa da Seleção Brasileira. Quem pegava a bola naquele momento e ajeitava com carinho na marca da cal é a mulher e craque que também teve de driblar as dificuldades da vida para chegar aonde chegou.

Segundos tensos de espera, até que Marta cobra a penalidade e a goleira australiana defende. Pânico na torcida brasileira e desespero no rosto daquela que é a síntese do futebol feminino do Brasil, porque a Austrália ia para sua última cobrança e a decisão estava empatada em 4 a 4. Nesse momento também veio à lembrança a derrota, também nos pênaltis, da pentacampeã olímpica seleção feminina dos EUA para a Suécia, equipe que na primeira fase perdeu por nada menos do que 5 a 1 para o Brasil.

Tudo levava a crer que o Brasil seria desclassificado e, assim como a Argentina perdeu o título da Copa América porque seu craque errou a cobrança na decisão por pênaltis, seria eliminado porque Marta parou nas mãos da goleira adversária. Não seria justo com Marta, justamente a jogadora responsável por colocar o nosso futebol feminino em patamar acima do modelo amadorístico com que é tratado pelos dirigentes.

Ajoelhada no meio-campo, Marta era o retrato do desespero, do inconformismo, à espera da última cobrança australiana. Quando veio a batida, a goleira brasileira Bárbara se agigantou e fez uma defesa que valeu por 10 gols. O Brasil ainda estava vivo, e Marta respirou um pouco mais aliviada, mas certamente sentindo o peso do mundo de culpa nas costas, sentimento que carregou até que Bárbara fez uma defesa espetacular nas cobranças alternadas e garantiu o Brasil na semifinal.

Bárbara, heroína, evitou que o planeta bola punisse o erro de Marta. Nossa craque não merecia carregar essa culpa para sempre…

Frase:

Eu sou um cara muito competitivo. Depois do jogo, a torcida brasileira começou a me vaiar, e aos meus companheiros. Eu fiz aquele ato apenas naquele momento depois que vencemos. Absolutamente, sei que isso é desrespeitoso. Eu sei que algumas pessoas se ofenderam e para esses fãs, eu gostaria de pedir desculpa

Aaron Russell, ponteiro do vôlei dos EUA, ao tentar minimizar a sua atitude, após o jogo de anteontem contra o Brasil, vencido pelo seu time por 3 a 1, quando, com o dedo nos lábios, sugeriu que a torcida brasileira se calasse


JOGO RÁPIDO

NATAÇÃO ZERADA

  • O Brasil se despediu da Rio-2016 sem medalhas na natação. A última chance que o país tinha era no revezamento 4x100m medley, realizado neste sábado (13), no Estádio Aquático Olímpico, mas o time formado por Guilherme Guido, João Gomes, Henrique Martins e Marcelo Chierighini ficou na sexta colocação da final – inicialmente, a equipe havia terminado em sétimo, mas contou com a desclassificação da China para ganhar uma posição. Essa é a primeira vez que o Brasil deixa uma edição dos Jogos Olímpicos sem medalha na natação desde Atenas-2004. Apesar disso, a edição carioca da competição foi a que o país colocou mais representantes em finais: oito.

SILÊNCIO

  • O ponteiro Aaron Russell, da seleção norte-americana de vôlei, polemizou após a partida contra o Brasil. O ponteiro comemorou a vitória por 3 a 1 e fez um gesto para os torcedores se calarem. Isso foi suficiente para a página do atleta no Instagram ser invadida de fãs que resolveram o xingar. O americano se arrependeu da atitude. Apesar de dizer que fez isso como resposta pela provocação dos brasileiros, ele pediu desculpas.

MAIK FOI DESTAQUE NO GOL BRASILEIRO

  • Assim como nas outras partidas, o goleiro Maik foi um dos grandes destaques do handebol masculino do Brasil, que empatou com o Egito e adiou a definição da vaga para a próxima fase. E se não fosse pela sua atuação, o Brasil poderia ter amargado uma derrota, o que complicaria e muito a classificação brasileira. Mas a atuação do camisa 1 nos minutos finais foi fundamental para a seleção não perder o jogo: além de fazer defesas cruciais em sequência – como em um tiro de 7 metros faltando 30 segundos -, ele agitou os braços várias vezes para pedir o apoio da torcida, que retribuiu à altura com gritos de “Eu acredito”. Novamente, a Arena do Futuro fez a diferença para o time brasileiro.

IBOPE EM ALTA

  • Dados prévios do Ibope indicam que a emocionante classificação da seleção feminina de futebol na noite desta sexta (12) rendeu à Rede Globo 28 pontos de média em São Paulo, maior audiência alcançada com transmissão de partida da equipe da craque Marta nestes Jogos Olímpicos Rio-2016. O resultado, superior aos 26,7 obtidos no empate sem gols com a África do Sul na terça (9), fez a emissora carioca crescer 9 pontos (+47%) em relação à média de junho/julho na faixa (21h53 às 00h48). No horário, o SBT ficou em segundo lugar na audiência, com 9 pontos, seguido de Record (5) e Band (3).

AMIGO DO ALHEIO

  • Um funcionário que trabalhava na Vila Olímpica, onde os atletas que competem na Rio-2016 estão hospedados, foi preso por furtar dinheiro de um dos esportistas. A segurança do local foi reforçada após o caso. O diretor de comunicação do Comitê Rio-2016, Mario Andrada, confirmou que uma quantia em dinheiro foi levada, mas recuperada posteriormente. Disse que a pessoa foi presa e a quantia foi devolvida ao atleta roubado. Essa não é a primeira vez que são relatados casos de furtos dentro da Vila Olímpica. Antes mesmo do início dos Jogos, atletas chegaram a falar sobre objetos que desapareceram. A própria prefeita da Vila, Janeth Arcain, comentou na época que a segurança havia sido reforçada depois dos casos.

BRIGÕES SÃO CONVIDADOS A SE RETIRAR DA ARENA CARIOCA

  • Dois torcedores brasileiros foram expulsos por agentes da Força Nacional após discutirem, entre si, na partida entre Brasil e Argentina, no basquete, disputado neste sábado. Os homens, que não tiveram os nomes divulgados foram retirados do setor de convidados e deixaram a Arena Carioca 1.

MAS QUE PAZ QUE NADA…

  • O atleta egípcio Islam El Shehaby, que causou polêmica ao não cumprimentar o israelense Or Sasson, após o embate entre eles, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, se manifestou neste sábado (13) para explicar o que motivou a sua atitude. De acordo com o atleta, nenhum protocolo estabelecido pela Federação Internacional de Judô foi quebrado, já que ele não é obrigado a cumprimentar o rival após o duelo. Ainda segundo Shehaby, por todos os conflitos históricos que envolvem Egito e Israel, ele não poderia apertar a mão do adversário.

* Wilson Moço é jornalista, com passagens pelos jornais Diário do Grande ABC nas funções de repórter e editor-assistente de Esportes, de Política e de Setecidades, além de redator da Primeira Página; Gazeta Esportiva, como chefe de reportagem e editor-assistente; Bom Dia ABCD, como editor; ABC Repórter, como editor; e Revista Livre Mercado, como editor-executivo, além de atuar na Secretaria de Comunicação das Prefeituras de Santo André e São Bernardo. Contatos com o autor e colunista pelo e-mail wilsonmoco53@gmail.com

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