Não há democracia sem um Senado independente e íntegro

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* Mara Gabrilli – Nós não podemos nos calar diante de um movimento escancarado de cooptação. A presidência da Casa deve ser ocupada por alguém que esteja preocupado com a construção de uma sociedade civil forte

Desde a Roma antiga, o Senado é considerado a assembleia deliberativa mais ponderada, devido à maior experiência política de seus membros. Por essa ótica, o Senado é — ou deveria ser — um contrapeso às decisões — por vezes acaloradas — da Câmara dos Deputados. Espera-se dos senadores, além de poder conciliatório, independência e responsabilidade com a nação. Na prática, contudo, não é o que a sociedade tem presenciado recentemente.

Nesta eleição à presidência do Senado, fica claro que a autonomia da Casa vem perdendo espaço para um rasteiro jogo de interesses. Temos o PT, por exemplo, partido de oposição histórica no Brasil, apoiando o candidato do presidente Jair Bolsonaro. Um cenário que a população não espera de uma Casa que, historicamente, foi norteada pela coerência.

Nesse sentido, apoiar o candidato do governo não irá fortalecer a independência do parlamento que tanto buscamos. Ainda mais neste momento de tantos desmandos e riscos à nossa democracia.

Independência e coragem são qualidades que devemos nutrir entre nossos representantes. Por isso, é com muita convicção que quero votar na senadora Simone Tebet e defender a sua candidatura para a presidência do Senado.

O fato de ser a única e primeira mulher na disputa já é um marco na história do Brasil e do Senado Federal. E isso, por si só, já me orgulha. Mas Simone teve dose extra de coragem para tornar sua candidatura independente quando faltou o apoio de seu partido.

Coragem tem ligação direta com o coração. A palavra tem origem no francês “cour-age”, herdeiro do latim “cordis”, que significa coração como “morada dos sentimentos”. Coragem é a capacidade de agir apesar da intimidação. E nós não podemos nos calar diante de um movimento escancarado de cooptação.

Além disso, ter uma mulher na presidência do Senado estimulará milhares de mulheres pelo país a seguirem lutando pelos seus direitos e a ingressarem na vida pública. As mulheres querem ter voz e serem respeitadas nas tomadas de decisões.

O baixo desempenho de acesso de mulheres às cadeiras do Legislativo e aos cargos de liderança no Executivo levou o Brasil a ocupar o triste 92º lugar, entre 149 países, no ranking que mede disparidades de gênero, publicado pelo Fórum Econômico Mundial. Na primeira edição do estudo, feita em 2006, o Brasil estava em melhor posição: 67º. Perdemos 25 posições e estamos ficando para trás em igualdade de gênero.

É paradoxal, porque esse cenário de poucas mulheres na política não reflete as mudanças da sociedade. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 45% dos lares brasileiros já são chefiados por mulheres. Um movimento que se acentuou muito em anos recentes devido à crise econômica. Só entre 2014 e 2019, quase 10 milhões de mulheres assumiram o posto de gestora da casa. Agora, com a pandemia, com a perda de emprego e redução salarial, mais mulheres estão se tornando as responsáveis por prover a renda de suas famílias.

Lutamos por uma presidência democrática no Senado, que faça política com estratégia e humanidade, que escute a todos e que também esteja preocupada com a construção de uma sociedade civil forte. Somos representantes do povo e a sociedade também precisa ser ouvida nas decisões.

A senadora Simone Tebet comprometeu-se, publicamente, com as pessoas e com o país. Tanto que, nas discussões da reforma tributária, assinou comigo um requerimento para incluir o debate de um modelo que garanta a sustentabilidade e a independência das organizações da sociedade civil sem fins lucrativos. São organizações como as Santas Casas, Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e tantas outras associações que, durante essa pandemia, demonstraram sua grande importância por chegarem a lugares que nem mesmo o Estado foi capaz de chegar, oferecendo saúde, atendimentos e atuando no combate à fome da população mais vulnerável.

Quando jovem, carreguei um pensamento muito comum ao de vários brasileiros: o de que os políticos eram todos iguais, que agiam somente em prol de seus próprios interesses. Mas a vida me ensinou que fazer política é um trabalho apaixonante, que pode, sim, mudar realidades.

Chegou o momento de o Senado Federal mostrar sua independência do governo federal. Vamos eleger a primeira mulher presidente do Senado e refletir a nossa força, ética e sensibilidade para enfrentar, vencer essa crise e fortalecer a nossa democracia.

* Mara Gabrilli é senadora pelo PSDB de São Paulo. Foi eleita para representar o Brasil no Comitê sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU (Organização das Nações Unidas). É publicitária, psicóloga e fundadora do Instituto Mara Gabrilli. Já foi secretária municipal da capital paulista, vereadora da cidade de São Paulo e deputada federal por dois mandatos.

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