No palco, a atriz Heloisa Jorge, atualmente na novela A Dona do Pedaço, interpreta a fase adulta da cantora; Fernanda Jacob vive a fase madura e Di Ribeiro assume o papel de Ivone Lara na infância
Da Redação – Sucesso de público e crítica no Rio de Janeiro, o Espetáculo Musical “Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro” aterrissa agora em São Paulo. A estreia acontece no próximo dia 29 de agosto (quinta-feira), às 20h horas, no Teatro Sérgio Cardoso (Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista).
O Musical retrata a vida e a obra da cantora e compositora brasileira Yvonne Lara da Costa, mais conhecida como Dona Ivone Lara, e carinhosamente chamada de “A Rainha do Samba”.
No espetáculo, a história de Dona Ivone Lara será contada em dois atos que misturam três tempos diferentes, sem ordem cronológica, surgindo em cena com três idades, aos 12 anos, aos 26, e aos 80, épocas que marcaram sua vida, e explicam quem ela foi verdadeiramente.
No palco, o musical conta com 23 atores representando a dança afro, o sincretismo brasileiro e muito samba, do partido alto a sambas enredos retratando não apenas a vida e obra de Dona Ivone Lara, assim como também o empoderamento de mulheres que ao longo do tempo se fizeram presentes como Nize da Silveira, Zaira de Oliveira, Clementina de Jesus, Elizeth Cardoso, Maria Bethânia e Gal Costa
“Iniciamos nossa trajetória pelas lembranças da adolescência, quando Ivone viveu como interna no Colégio Orsina da Fonseca, passando pela vida adulta quando ela se casa com Oscar Costa, filho de uma família tradicional da Serrinha, até atingir a maturidade já consagrada como artista”, declara o idealizador e produtor do espetáculo, Jô Santana.
“Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro” é um espetáculo com samba no pé, poesia na garganta e a linda história de uma heroína brasileira. Uma mulher que foi no miudinho, e encontrou o seu lugar na música popular brasileira, foi guerreira mais nunca deixou de ser uma dama. “São dois atos de muita dança, música e reverência a mulher brasileira. Um espetáculo que nos dias atuais dialoga com a mulher contemporânea”, afirma Jô Santana.
A montagem contou com a importante pesquisa de Nilcemar Nogueira e Desirré Reis; a Direção e Dramaturgia de Elísio Lopes e a Direção Musical de Rildo Hora.
O espetáculo faz parte também do Projeto “Trilogia do Samba”, projeto que consiste na montagem de três espetáculos musicais, “Cartola – O Mundo é um Moinho (2016/2017),visto por mais de 100 mil pessoas, “Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro (2018/2019), lotação esgotada no Rio de Janeiro e Alcione – Marrom, O Musical (2020/2021)”, com Texto e Direção de Miguel Falabella.
SOBRE DONA IVONE LARA:
Dona Ivone foi sem dúvida um referencial para o empoderamento feminino no mundo do samba abrindo espaço para muitas outras mulheres que seguiram dando continuidade a seu trabalho, mas até chegar à liberdade de cantar suas músicas e ao sucesso que a consagrou, nossa estrela teve que vencer muitos desafios na vida.
Assim como muitas mulheres negras, Dona Ivone teve uma vida difícil tendo que associar seus deveres de esposa, mãe e profissional, sobrando muito pouco tempo para se dedicar a sua maior paixão, a música.
Sua história de luta começou bem antes do sucesso como compositora. Yvonne Lara da Costa, seu nome de batismo, teve uma formação musical luxuosa, pois a mãe era cantora de rancho e o pai violonista, e tio materno, Dionísio, com quem ela foi morar após a morte dos pais, tocava violão de sete cordas, e fazia parte do grupo de chorões que reunia Donga e Pixinguinha.
Com ele, Ivone aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba; a descoberta da música no convívio com as professoras Zaíra de Oliveira e Lucília Vilas Boas, e recebeu elogios do marido dela, o maestro Heitor Villa-Lobos. Aos 12 anos, foi presenteada pelos primos e futuros parceiros, Hélio e Fuleiro, com um pássaro “Tiê-sangue”. O nome do pássaro e a expressão “Oialá-oxa”, herdada da avó moçambicana, serviram de inspiração para o primeiro samba de partido-alto: “Tiê, Tiê”.
Por muito tempo as mulheres não tiveram vez no mundo do samba, era comum encontrar mulheres em posições de menos destaque, seja nas cozinhas preparando deliciosos quitutes ou como pastoras, mas nunca como compositoras, pois as composições, o palco e o sucesso eram territórios dominados apenas por homens, e assim sua importância era minimizada. Dona Ivone Lara rompe com os protocolos “machistas” da época e torna-se a primeira mulher a assinar sambas, em especial sambas enredos. Foi pisando “devagarinho” que Dona Ivone foi conquistando seu lugar, e hoje é considerada a maior compositora do samba e da música brasileira. Nenhuma outra mulher teve tantas vozes cantando suas músicas ou gravadas como ela.
Aos 25 anos casou-se com Oscar Costa, filho de Alfredo Costa, presidente da escola de samba Prazer da Serrinha, com quem teve dois filhos, Alfredo e Odir. O marido de Ivone contra a entrada da esposa no mundo do samba, e por 28 anos eles dividiram a vida até a morte dele.
Foi no Prazer da Serrinha onde Ivone conheceu alguns compositores que viriam a ser seus parceiros em algumas composições, como Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira, mas o começo da estrada foi difícil, pois o preconceito não aceitava mulher sambista. Ela compunha, mas quem assinava os sambas era o primo. Entrou para a ala de baianas e ala de compositores da escola de coração, o Império Serrano, e ajudou a compor um dos enredos mais bonitos da história da escola, “Os Cinco Bailes do Rio de Janeiro”.
A música era só mais uma das paixões de Ivone. Com a mesma sensibilidade de sambista, ela também trabalhou como Enfermeira e como Assistente Social especializada em Terapia Ocupacional, e ajudava a cuidar de doentes em clínicas psiquiátricas. Aposentou-se aos 77 anos, e a partir daí passou a se dedicar integralmente a música.
Amadurecida pelas perdas e dores da vida, viúva e batalhadora, Ivone enfrentou o machismo, o racismo, as barreiras por ser pobre, os padrões de uma sociedade que não aceitava uma mulher como compositora, a dura batalha para sustentar seus filhos. E paralelo a isso compôs clássicos do samba como Sonho Meu, Acreditar, Sorriso Negro, Enredo do Meu Samba, entre muitos outros.
CURIOSIDADES
Dona Ivone Lara também trabalhou como atriz, com participação em filmes, e foi a Tia Nastácia em especiais do programa Sítio do Pica-Pau Amarelo.
1977 – Filme A Força de Xangô, interpretando Zulmira de Iansã
1982 – Especial Sítio do Pica-Pau Amarelo, interpretando Tia Nastácia
Ao longo de toda sua carreira musical Dona Ivone Lara lançou 15 CDs e 2 DVDS:
Suas músicas foram gravadas por grandes nomes da nossa MPB, entre os intérpretes que gravaram suas composições destacam-se Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paula Toller, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Mariene de Castro, Roberta Sá, Marisa Monte e Dorina. Uma de suas composições mais conhecidas, em parceria com Délcio Carvalho, foi Sonho Meu, sucesso na voz de Maria Bethânia e Gal Costa em 1978, cujo álbum ultrapassou um milhão de cópias vendidas.
No ano de 2012, foi homenageada pelo Império Serrano, no grupo de acesso, com o enredo Dona Ivone Lara: O enredo do meu samba. Em 2010 foi a homenageada na 21.ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Em dezembro de 2014 foi a homenageada na 19.ª edição do Trem do Samba. Em 2015, entrou para a lista das Dez Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio de Janeiro.
Em 2019 chega aos palcos paulistanos um Musical com 24 atores, dança afro e empoderamento da mulher negra brasileira. Serviço – Musical Dona Ivone Lara- Um Sorriso Negro, estreia dia 29 de agosto, de quinta a domingo até 20 de outubro. Às quintas, sextas e sábados, às 20h; e domingos: às 17h, no Teatro Sérgio Cardoso (Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista, São Paulo) Vendas: ingressorapido.com.br Duração: 135 minutos Classificação indicativa: 12 anos
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