* Murilo Valle – A ONU oficializou o dia 8 de março, desde 1975, como o Dia Internacional da Mulher, em reconhecimento ao significativo processo de lutas, conscientização, organização das mulheres e da sociedade. Muitos foram os avanços, pois, até pouco tempo, as mulheres possuíam limitações de votar, frequentar escolas, se candidatar a cargos políticos dentre outras.
Segundo o IBGE, no Brasil a população das mulheres supera a dos homens em quase 6 milhões e a representatividade no mercado de trabalho traduz-se em responsabilidade por cerca de 40% dos domicílios brasileiros. Face a importância da data, o mês de março caracteriza-se como o mês da mulher, oportunidade em que é salutar exortar sua importância ao longo do processo de construção da sociedade contemporânea.
Nesse contexto, considerando a temática que esta coluna aborda, darei destaque a uma mulher que notadamente merece créditos, sobretudo por, simbolicamente, representar em sua biografia, as conquistas da mulher: RACHEL CARSON.
Rachel Louise Carson (1907-1964) foi uma bióloga marinha, escritora, cientista e ecologista americana. Suas primeiras publicações foram sobre os estudos das espécies e seres vivos que habitavam os mares e oceanos: Under The Sea Wind (Sob o Vento do Mar – 1941), The Sea Around Us (O Mar Que Nos Rodeia – 1951), sucessos a nível nacional e internacional, tendo sido traduzidos para 30 idiomas, entretanto, foi o livro Primavera Silenciosa (Silent Spring, 1962) e outros escritos correlatos, que a tornou referência na área ambiental.
Carson decidiu escrever o livro Primavera Silenciosa questionando o paradigma do progresso científico, que definiu a cultura americana pós-guerra, e o poderoso e muitas vezes negativo efeito que os seres humanos têm sobre o mundo natural. O principal argumento dela, à época, era que os pesticidas possuiam efeitos prejudiciais para o ambiente, uma vez que seus efeitos são raramente limitados às pragas-alvo, mas sim ao sistema como um todo.
Carson acusou a indústria química de disseminar intencionalmente a desinformação e também os funcionários públicos de aceitarem as reivindicações da indústria sem qualquer restrição e/ou crítica. A maior parte do livro é dedicada ao relato dos efeitos de pesticidas em ecossistemas naturais, todavia, quatro capítulos também detalham casos de envenenamento em humanos, câncer e outras doenças atribuídas a pesticidas.
Rachel Carson previu o aumento das consequências negativas futuras, especialmente porque as pragas alvejadas desenvolvem resistência aos inseticidas e, quando os ecossistemas ficam enfraquecidos, tornam-se susceptíveis às espécies invasoras. O livro fecha com um apelo para a necessidade de uma abordagem biótica para controle de pragas como alternativa para pesticidas químicos.
O trabalho de Carson teve um impacto significativo no cenário ambiental, uma vez que ninguém poderia vender a poluição como parte necessária ao progresso e, nesse sentido, o ativismo que ela inspirou foi um dos responsáveis pelo pela força global do movimento ambientalista de base, desde a década de 1960. A criação do Fundo de Defesa Ambiental, 1967, foi o primeiro marco importante na campanha contra o DDT, tendo a organização apresentado ações judiciais contra o governo para “estabelecer o direito do cidadão a um ambiente limpo”, com base nos argumentos e referenciais difundidos por Carson.
Em 1972, o Fundo de Defesa Ambiental e outros grupos ativistas conseguiram obter uma eliminação progressiva do uso de DDT nos Estados Unidos. exceto em casos de emergência. O DDT – diclorodifeniltricloroetano – é o primeiro pesticida moderno, tendo sido largamente usado após a Segunda Guerra Mundial para o combate aos mosquitos vetores da malária e do tifo. No Brasil, só em 2009 o DDT teve sua fabricação, importação, exportação, manutenção em estoque, comercialização e uso proibidos por Lei.
A criação da Agência de Proteção Ambiental (EPA – Environmental Protection Agency), em 1970, abordou outra preocupação que Carson tinha trazido à tona: até então, a mesma agência, USDA, era responsável por regular os pesticidas e promover as políticas junto a indústria agrícola, denotando latente conflito de interesses. Grande parte dos primeiros trabalhos da agência, como a aplicação da Lei Federal de inseticidas, fungicidas e raticidas de 1972, estava diretamente relacionada com o trabalho de Carson.
Tal como Rachel Carson, em nossa região existem inúmeras mulheres que possuem reconhecimento de suas ações em prol das questões ambientais e, nesse contexto, citando Rosa Ramos, Fernanda Longhini, Débora Stefanelli, Eriane Justo, Karin Heleno e Priscila de Oliveira, brilhantes mulheres que reforçam suas convicções no dia-a-dia com posturas éticas e profissionais acerca das ameaças reais ao meio ambiente, cumprimento todas as mulheres que, direta e indiretamente, permitem o estabelecimento de um mundo mais justo e sustentável.
* Professor Murilo Valle é Doutor e Mestre em Geologia pela IGc (Universidade de São Paulo) e coordenador do Curso de Engenharia Ambiental – FAENG (Fundação Santo André). Contato com o colunista pelo e-mail murilovalle@hotmail.com
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