Moradora de Diadema realiza o sonho de estudar aos 77 anos

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Edna Generosa enfrentou dificuldades ao longo da vida, mas nunca desistiu de aprender a ler e escrever; Lugar de Idoso é na Escola visa incentivar, de forma contínua, a escolarização de pessoas na terceira idade

Crédito: Aline MeloFotos: Mauro Pedroso

Da Redação – Edna Generosa de Jesus, moradora de Diadema, nasceu na pequena Acaiaca, em Minas Gerais, região sul do Estado. Na infância, foi proibida de estudar, em uma época em que poucas mulheres tinham acesso às escolas.

Começou a trabalhar muito cedo sem, no entanto, receber os rendimentos do seu trabalho. Casou-se ainda jovem, passou necessidades, frio e fome. Teve cinco filhos, uma das quais faleceu há um ano por conta da Covid-19. E foi apenas aos 77 anos, exatamente no dia 15 de agosto, que pôde realizar o seu grande sonho: entrar em uma escola para estudar.

Dona Edna é uma das estudantes da EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Emeb Cora Coralina, na região central da cidade. Desde maio deste ano, a Secretaria de Educação de Diadema conta com a campanha “Lugar de Idoso é na Escola”, um esforço que envolve a Seduc, a Secretaria de Assistência Social e o Conselho Municipal do Idoso, que definiu como uma diretriz permanente do governo do prefeito José de Filippi Júnior a busca ativa e a inclusão de idosos no processo de escolarização.

“Essa é uma campanha que fazemos em conjunto com outras áreas do governo e que não é apenas de educação, mas também de auto estima, de socialização, tem toda uma dimensão social”, afirmou a secretária de Educação de Diadema, Ana Lúcia Sanches. As projeções sobre o analfabetismo em Diadema, criadas com base no Censo 2010, apontam que cerca de 30 mil pessoas não concluíram os estudos. Destes, a grande maioria está na faixa etária igual ou maior a 60 anos. O programa é uma tentativa de diminuir esses índices, além de proporcionar para os idosos uma possibilidade de interação social. A própria Dona Edna acabou por decidir finalmente entrar na escola após uma crise de ansiedade, ocorrida há poucos meses.

“Sempre quis estudar, mas não foi possível. Quando tive meus filhos, priorizei a educação deles. Era o meu sonho ser professora, como a minha madrinha, então decidi que pelo menos meus filhos iam conseguir”, relembrou. “Inclusive tenho uma filha professora, mas os outros quatro não quiseram. Mesmo assim, todos puderam estudar”, completou. O que ainda impedia dona Edna era o fato de as aulas serem no período noturno.

“De noite não queria. Gosto de estar na minha casa quando está de noite.” Foi quando uma das filhas recebeu um informativo sobre as aulas no período vespertino, das 13h às 16h30, na Emeb Cora Coralina. “Pedi para ela ir me matricular, mas não tinha vaga. Fiquei muito triste. Falei para ela ir de novo, que em nome de Jesus, eu ia conseguir. Nem que tivesse que ficar sentada na porta da escola, dia e noite, com um caderninho, só anotando o que o professor falasse”, declarou.

Não foi preciso que Dona Edna fizesse a sua vigília educacional, ela conseguiu a vaga e no dia 15 de agosto pôde participar da sua primeira aula. “Quando minha filha ligou avisando que eu consegui a vaga, até pulei da cama. Chorei, ri, ajoelhei e agradeci a Deus”, contou, emocionada. “Nem consegui dormir quase uma semana até que fosse o grande dia. E foi como sempre sonhei. Foi a coisa mais linda, ver uma professora na minha frente, que me dá atenção e que me ajuda quando tenho dificuldade”, pontuou.

A professora de Dona Edna, Joelma Correia, elogia muito o desempenho e esforço da estudante. “Ela é tímida, mas é muito interessada. Vai muito bem em matemática, se integrou muito bem com os outros estudantes, mesmo tendo entrado há poucas semanas, enquanto as aulas tiveram início no começo do ano”, afirmou. A Emeb Cora Coralina tem 160 dos cerca de 2.000 estudantes da EJA na cidade, que conta com turmas em 15 escolas e seis núcleos em comunidades.

E quem pensa que Dona Edna planeja parar por aqui, está enganado. “Dei o primeiro passo. Agora quero me formar. Tinha dois pensamentos, ser professora ou advogada. Decidi que vou estudar direito, para lutar pelos direitos das mulheres, das crianças e dos adolescentes”, concluiu. Como diria o cantor e compositor Milton Nascimento, conterrâneo de Dona Edna, “sonhos não envelhecem”.

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