* Antília Reis – Na edição desta semana desta coluna Mas que Mundo Cão, deixaremos um pouco de lado a proteção, cuidados e maus tratos ao Mundo Pet para falar de um assunto que vem chamando a atenção de todo o mundo, em especial dos protetores de animais: os maus tratos em parques aquáticos.
Após inúmeras denúncias que alertaram ao publico sobre o abuso e tortura contra animais em parques aquáticos em todo o mundo, passou-se a questionar sobre o porquê manter os bichos longe de seus habitats naturais e em confinamento. Em 2013, o documentário americano Blackfish abalou a indústria dos parques de entretenimento ao levantar acusações contra o SeaWorld, organização que opera 11 parques aquáticos nos Estados Unidos.
O filme conta a trajetória da orca Tilikum, mantida em cativeiro por anos e treinada para o show Shamu, em que ela fazia vários tipos de acrobacias e encenações para divertir a plateia – prática comum no SeaWorld. Segundo o documentário, a baleia foi responsável pela morte de diversos treinadores, violência alegadamente gerada pela vida em aquários.
A produção também entrevista antigos funcionários dos parques que denunciam maus tratos, como tanques pequenos demais para o porte dos animais, alimentação restrita para deixar os bichos mais “ativos” nas apresentações e diminuição de expectativa de vida por estresse.” Na Espanha, Ativistas da ONG SOS delfines conseguiram capturar imagens sobre como funcionam os bastidores de um parque aquático, o Marineland Mallorca. As imagens do treinamento dos golfinhos para que aprendam os números apresentados força as pessoas a repensarem sobre a presença nesses locais.
Frases como: “Slacker, você é um preguiçoso”, “Eu vou jogar o balde na sua cabeça” e “Você é estúpido ou você está fingindo ser?”, são algumas das violências psicológicas que esses animais enfrentam. Comprar o ingresso para esses parques é apoiar esse sofrimento. O flagrante mostra os maus-tratos aos golfinhos praticados por seus treinadores. Os profissionais pulam sobre os animais, os chutam e batem neles com varas. A ONG agora procura as autoridades para agir imediatamente contra o abuso, que além de agredir a constituição local fere os direitos éticos e morais dos animais. As agressões não são apenas verbais, mas também físicas, com socos, chutes ou saltos sobre os golfinhos.
Denúncias envolvendo a crueldade dos bastidores de parques aquáticos não são novidade. Na América Latina o México foi pioneiro em proibir os espetáculos itinerantes com animais marinhos e novas investigações confirmam os maus-tratos constantes que os animais nesses parques tem de enfrentar. Um bom exemplo disso é o caso da Orca Lolita, conhecida como a baleia mais solitária do mundo. Com a ajuda de drones, ativistas em Miami capturaram imagens das condições reais de vida da baleia. Vendo as imagens do cativeiro de Lolita é impossível deixar de pensar: Ela deveria e poderia ser mais feliz vivendo livre na natureza.
No Brasil, quem define as condições para um cativeiro chegar o mais perto possível da realidade na natureza, sem impedir o comportamento natural do bicho, são o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Entre as especificações, estão as dimensões que uma jaula deve ter para certa espécie, quantos animais podem ficar dentro de cada uma delas, que tipo de alimentação eles devem receber, quais temperatura e arquitetura os espaços requerem, como será monitorada a qualidade da água e com quantos biólogos e veterinários cada unidade de zoológico ou aquário deve contar.
As instituições brasileiras são, porém, alvos constantes de reclamações por parte de ativistas, que afirmam que, por requerer muita verba, parte delas dizem conduzir pesquisas, mas, no fundo, não o fazem. Wendell Estol, diretor geral do Instituto SeaShepherd Brasil – defensora da preservação marinha e uma das apoiadoras do Blackfish – compartilha dessa opinião. “No Brasil a maioria dos estabelecimentos nada mais são que depósitos públicos para animais selvagens. Falta investimento para uma melhor estrutura e a fiscalização por parte do governo.
Comumente, vemos notícias de animais em más condições de higiene e até mesmo de saúde, que deveria ser a razão prioritária para mantê-los em cativeiro. O que realmente movimenta tal negócio é a questão financeira.” Estol afirma que aquários e zoológicos são conhecidos, erroneamente, como centros de pesquisa e preservação, que desempenham papel educativo e salvam espécies em extinção.
Famílias que viajam e pagam para ver animais em aquários e em espetáculos, financiam a prisão e dor destes animais.
Como podemos crer que cabe a nós determinarmos o espaço adequado para manter animais que servirão para momentos de diversão a homens, mulheres e crianças? E o pior, acreditar que aquele espaço limitado, gaiola ou aquário, seja um ambiente tão livre e saudável para os animais quanto o seu habitat natural?
Entendam que não é justificável retirar uma orca do oceano, um urso polar do ártico, a girafa da savana africana para diversão humana.
* Antília Reis é advogada, diretora na empresa Antília Da Monteira Reis Advocacia e presidente da Comissão de Proteção da Defesa Animal na Subseção de São Bernardo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SBC)
Tinha muita dó só pelo fato de viverem em cativeiro, maus- tratos assim penalizada, não há nada que se possa fazer?