* Rodrigo Augusto Prando – Não faz muito, relembrei a frase de Pedro Malan, economista e ex-ministro de FHC, que, no Brasil, até o passado é incerto. Escrevi, há tempos, quando da condenação de Lula na segunda instância, que, dada a sentença, as demais investigações e sua idade, seria pouco provável que ele continuasse viável eleitoralmente, embora fosse capaz de manter a liderança no PT.
Mas, de lá para cá tivemos a eleição de Bolsonaro, seu estilo de presidencialismo de confrontação, uma pandemia com resultados catastróficos para o Brasil e a recente decisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Facchin, que anulou todas as condenações da Lava Jato e tornou, novamente, Lula elegível.
Em campos do Direito e da Política não há ciência exata. Portanto, na dimensão jurídica a decisão do Ministro Facchin será problematizada, corroborada e contestada, por juristas, aqui e alhures. Não tenho, neste texto, a mínima pretensão de adentrar neste terreno e isso se dá por absoluta falta de competência no tema.
Contudo, posso, talvez, arriscar algumas ponderações no campo político acerca do cenário em tela. Há muitos analistas que afirmam – não sem razão – que o lulopetismo e o bolsonarismo, cada um à sua maneira, se retroalimentam dos discursos polarizadores.
Retomando a trajetória política de Lula, sua inserção na vida pública e política, via sindicato, e a fundação do PT, indicam que sua liderança foi, quase sempre, “soberana” no partido. Como afirmava Maquiavel, o estudo da política se concentra naquilo que “é” e não naquilo que “deveria ser”.
Em termos concretos, desde 1989, portanto em toda Nova República, o PT colocou Lula, depois Dilma e Haddad no plano principal das disputas presidenciais. Desta forma, desconsiderar o PT e, agora, Lula, seria desprezar os dados da realidade nas últimas três décadas de política nacional. Em recente pesquisa (07/03/21), o Ipec constatou que cerca de 50% dos entrevistados afirmaram que votariam com certeza ou que poderiam votar em Lula caso voltasse a ser candidato à presidência.
Na referida pesquisa, buscou-se aferir o potencial de voto de nomes para 2022 e, no caso, Lula é o candidato que aparece com maior potencial de voto, seguido de Bolsonaro. A pesquisa, todavia, não desenha cenários de confrontos diretos entre os possíveis candidatos, até porque nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro sempre aparece à frente.
Bolsonaro que sempre manteve uma base fiel de cerca de 30% de apoio vem, aos poucos, perdendo capital político e, provavelmente, a falta de liderança política no enfrentamento da pandemia, elevadíssimo número de mortos, falta de vacinas e confrontos com governadores e prefeitos começam a minar – não a ponto de ruir – os alicerces de sustentação do atual governo.
Será, realmente, que Bolsonaro gostaria de Lula contra ele em 2022? Teriam os argumentos da força da Lava Jato, do desgaste do PT, impeachment de Dilma, da corrupção a mesma eficácia que tiveram em 2018? Pesquisas sempre indicam que o estilo, às vezes, insensível e tosco de Bolsonaro é entendido como alguém autêntico, sincero.
Essa imagem sobreviverá a tudo que disse e fez durante seu governo? Lula, sabidamente, tem liderança, carisma, o dom da oratória e gosta dos debates políticos. Bolsonaro aceitaria debater com Lula? Se já não era fácil para uma candidatura de centro, distante de Lula e do PT e do bolsonarismo, se firmar, agora, com Lula no tabuleiro político tudo muda de patamar.
Por fim, como se comportarão os militares com Lula de volta ao jogo? Manter-se-ão como instituições de Estado ou abraçarão abertamente o projeto de poder bolsonarista?
* Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp de Araraquara
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