* Gabriel Clemente – No cenário de radicalização política que vivemos há tempos, notam-se muitas tentativas explícitas de desqualificação da mídia, sobretudo da grande imprensa.
Indubitavelmente, é fato que a dita imparcialidade é uma utopia. Inegável. Afinal, jornalistas são humanos e, como tais, têm as suas próprias convicções.
Dessa forma, claro que opiniões, comentários, sempre vêm com uma dose de viés, tendências, por razões que dispensam explicações. No entanto, fatos não se contestam. Afinal, fatos são, sempre e tão somente, fatos, acontecimentos.
Causa alguma ‘estranheza’ quando muita gente, com o intuito de ‘proteger’ as suas preferências, tenta, a todo custo, macular alguns veículos de comunicação social.
Analisando-se, como exemplo, a polarização insana na qual o país está mergulhado há muito tempo, nota-se que determinadas emissoras, mídias digitais e jornais são atacados diuturnamente, eleitos ‘alvos preferenciais’, apenas quando interessa. Isso desperta uma miscelânea de ironia, sarcasmo e indignação que, na verdade, reflete extrema incoerência.
Na época da dupla PT/MDB, que nos governou durante 16 anos, a grande imprensa, sem exceção, sempre denunciou os crimes cometidos pela gestão, nos notórios escândalos do ‘Mensalão’, ‘Aloprados’, ‘Petrolão’ (Lava Jato) entre outros. Como já dito anteriormente, fatos são, simplesmente, fatos e não se contestam.
Agora, por que, para alguns, de repente, essa mesma mídia não presta mais? Ué? Só por que também denuncia os erros deste governo?
O papel da imprensa é denunciar, fiscalizar. Todo o restante é propaganda. Claro que ações e números positivos também devem ser noticiados, levados ao conhecimento da população, mas a essência da atividade jornalística é investigar e revelar o que há de errado, de modo a conscientizar o público.
Quem quiser ler apenas aquilo que convém que busque mídias ‘comprometidas’ com quem só quer publicidade mediante remuneração ou troca de favores, o tão conhecido fisiologismo. Simples.
O que é inaceitável é criticar apenas quando as circunstâncias são desfavoráveis. Afinal, onde está a coerência? O populismo cria verdadeiras ‘torcidas organizadas’, dispostas a tudo para proteger e enaltecer os seus ‘ídolos’ que, às vezes, revelam-se muito vulneráveis.
Por razões óbvias, as principais pautas da ‘agenda setting’ da mídia focam a crise mundial da Covid-19 e o governo. O que há de errado nisso ? Afinal, esses são os assuntos de maior relevância no momento. Ou não ? Quem estiver insatisfeito, que vá procurar outra programação. O leque é grande, amplo, sobretudo agora, com vários pacotes de canais por assinatura e streaming.
Não espere que a imprensa fará propaganda do seu ‘ungido’, ‘escolhido’. Essa não é a sua função original, precípua.
Entenda que jornalismo não é panfleto de campanha política.
* Gabriel Clemente é jornalista graduado pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Atuou como repórter da Rádio ABC, assessor de imprensa político e assistente de Comunicação Institucional do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA).
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