* Dom Pedro Carlos Cipollini – A mudança que se dá hoje nas comunicações implica mais que simples revolução técnica. É uma transformação completa do que é necessário para compreender o mundo que nos envolve, e para verificar e expressar a percepção do mesmo. Essas tecnologias podem constituir um modo de resolver os problemas humanos, de promover o desenvolvimento integral das pessoas e criar um mundo governado pela justiça, paz e amor.
A internet é o mais recente e o mais poderoso de uma série de instrumentos de comunicação que, para muitas pessoas ao longo do último século e meio, eliminaram o tempo e o espaço como obstáculos para a comunicação. Ela tem consequências enormes para os indivíduos, as nações e o mundo em geral.
Os novos meios de comunicação são instrumentos poderosos para o enriquecimento educativo e cultural, a atividade comercial e participação política, para o diálogo e a compreensão interculturais. Contudo, esta “moeda” tem também o seu reverso. Os meios de comunicação que devem ser utilizados para o bem das pessoas e das comunidades, podem ser usados também para explorar, manipular e corromper.
Atualmente, a Internet está sendo usada de várias formas positivas, mas a sua utilização imprópria causa também grande prejuízo. As pessoas e a comunidade de indivíduos são centrais para uma avaliação ética da internet. E o princípio ético fundamental é este: a pessoa e a comunidade humana são finalidades e medida do uso dos meios de comunicação social. O bem comum seria outro pilar da ética, como princípio básico para a avaliação das comunicações sociais.
Pessoa, comunidade humana e bem comum, são três parâmetros para se trabalhar a Internet na esteira do processo de globalização. Somente quando estes três princípios éticos são observados, se difunde a solidariedade capaz de unir a humanidade num mundo sem exclusão. Jamais viveremos felizes e em paz uns sem os outros e, menos ainda, uns contra os outros.
A quantidade de informações presentes na Internet, uma boa parte das quais não é avaliada em termos de exatidão e relevância, constitui um problema. É enorme a pressão ideológica e comercial sobre a Internet. Por isso seu uso precisa ser ponderado e orientado por um compromisso decidido em prol da prática da solidariedade ao serviço do bem comum e não a serviço de grupos de interesses, ideologias ou caprichos de aventureiros.
E aqui entra um dos maiores desafios no uso da Internet: as Fake News, informações mentirosas. A mentira na Internet é uma bola de neve que, quanto mais rola, mais aumenta. E como dizia Miguel de Cervantes, “a mentira é tanto melhor, quanto mais verdadeira parece; e tanto mais agradável, quanto mais possui de duvidoso e possível”. É necessária a existência de mecanismos que conferem a credibilidade dos dados veiculados pela Internet.
As Fake News se inserem naquilo que se convencionou chamar de Pós-verdade, um neologismo que descreve a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais ou ideológicas.
Há uma tentativa de conferir legitimidade à mentira com o conceito de “pós-verdade”. Ela resume-se na ideia de que “algo que aparenta ser verdade é mais importante que a própria verdade”. É um modo de direcionar o debate para apelos emocionais, desconectando-se do enfoque da política pública e do bem comum, pela reiterada afirmação de pontos de discussão, nos quais os fatos são ignorados ou distorcidos. É fraude, falsidade ou mentira, encobertas com o termo politicamente correto de “pós-verdade”.
Podemos dizer que o espírito da “pós-verdade” que promove as Fake News é “anti-comunicação”, por sua falta de ética, compromisso com a verdade da informação e ainda, ausência de patriotismo, o qual é busca do bem comum da Nação, com base na verdade dos fatos.
A Bíblia diz que o Diabo é o pai da mentira (cf. Jo 8,14). E o famoso romancista francês Victor Hugo, fazendo eco à Palavra de Deus, assim escreveu: “Mentir é o absoluto do mal. Não é possível mentir pouco. Mentir é o próprio semblante do demônio. Satã tem dois nomes: chama-se Satã e chama-se Mentira”.
Por isso afirma ainda a Bíblia, que não se salvarão os que “amam a mentira e a praticam”(cf. Ap 22,16). É preciso restabelecer o poder da Verdade.
* Dom Pedro Carlos Cipollini é Bispo da Diocese de Santo André
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