A importância da boa leitura na formação cultural

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nao-ler* Osmar Junqueira Lima – Um executivo de uma empresa disse que está com gastos elevados e depois falou em quantia ‘vultuosa’. Observe o leitor que o empresário expressou-se mal. O quê deveria ter dito? O executivo deveria ter usado, corretamente, quantia vultosa, que faz grande volume, avultada, volumosa, muito grande, considerável, e não vultuosa, acometida de vultuosidade, carrancudo; muito grave, severo.

Outro emprego que oferece dificuldade para os redatores é com o uso de ‘em vez de’ e ‘ao invés de’: usa-se em vez para indicar substituição, em vez de leite tomou água, em vez de cerveja tomou água; ao invés de indica ação contrária. Observe a redação do jornal Estado de São Paulo de 3 de julho em Imorais honorários que diz: “Ao invés de servir o Estado, o servidor jurídico passa a ser servido pelo Estado”, emprego corretíssimo.

As pessoas que têm qualificação intelectual precisam ter cuidado com a fala e com a escrita. Veja a construção de uma pessoa cheia de boa intenção, quis, talvez, agradar muito, mas cometeu erro primário, observe a frase: “Eu os amo ver juntos”. Falta noção básica da colocação pronominal na frase. Numa frase como esta, a redatora diante de uma locução verbal, com um verbo no infinitivo ‘ver’, usaria corretamente a ênclise. Veja a diferença: ‘Eu amo vê-los’.

Quando estiver diante de uma locução verbal, com o verbo auxiliar no infinitivo, se não houver palavras de valor negativo como advérbios, pronomes relativos, indefinidos, use sempre a ênclise, pronome depois do infinitivo, exemplo: quero vê-los feliz. O leitor ao redigir qualquer texto precisa da companhia de um bom dicionário e de uma boa gramática, na dúvida, consulte a gramática ou o dicionário, devidamente atualizados.

O leitor precisa ter em mente que só escreve bem quem tem o hábito de boas leituras. Em língua portuguesa para aprimorar a escrita podemos citar o Padre Antônio Vieira, ninguém questiona um pleonasmo bem construído do Padre Vieira: “Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três causas: olhos, espelho e luz.” É preciso ler bons autores, Eça de Queirós, Machado de Assis, ler as questões gramaticais dos discursos de Rui Barbosa. Veja a construção de Rui Barbosa num dos seus discursos: “Aos maus não os temos”, o autor inverteu a ordem, preposicionou o objeto direto e deu uma força extraordinária à frase; pleonasmo bem construído.

Há outros autores que servem de referência, Graciliano ramos, estilo seco, sintaxe clássica, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e muitos outros. Quem escreve, quem está sempre em exposição, precisa ter cuidado com o que fala e, principalmente, com o que escreve.

Até a próxima!

* Osmar Junqueira Lima é professor de Português (Literatura e Letras Modernas), ex-coordenador do Curso Objetivo e um dos fundadores da Unidade de Santo André do Objetivo e editorialista do site CliqueABC. Contato com o colunista pelo e-mail professor.osmar.junqueira@gmail.com

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