Para a maioria das pessoas em cuidados paliativos, o resgate de seus valores, enquanto sentido da vida, pode aliviar o sofrimento e trazer serenidade para a travessia. O tema está entre os debates que serão realizados no Congresso da SOCESP que começa amanhã
Da Redação – Quando falamos em tratamento de doenças do coração, a lista de tarefas “a cumprir”, se baseia em pilares como medicamentos, alimentação saudável, atividade física, controle da pressão arterial e do diabetes, entre outros. Porém, cada vez mais, os especialistas entendem a relevância da espiritualidade para o acompanhamento de pacientes com cardiopatias, estejam eles em início de tratamento ou fora das possibilidades terapêuticas de cura, já em fase de cuidados paliativos.
Vale lembrar que espiritualidade não necessariamente está ligada a um credo religioso. De acordo com o DEMCA – Departamento de Estudos em Espiritualidade e Medicina Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – SBC, o conceito é mais amplo e envolve um conjunto de valores morais, mentais e emocionais que norteiam pensamentos, comportamentos e atitudes. “A separação entre espiritualidade e religião é uma das mudanças sociológicas do nosso tempo. As instituições religiosas por anos mantiveram hegemonia sobre o cuidado com a espiritualidade e estamos ressignificando isso, nos alinhando a uma nova realidade”, diz Karla Carbonari, psiquiatra em formação e conferencista do 42º Congresso de Cardiologia da SOCESP, que acontece nos dias 16, 17 e 18 de junho, no Transamerica Expo Center, em São Paulo. Durante o evento, Karla irá apresentar a palestra Espiritualidade e Cardiologia.
Pela primeira vez, em 2019, a Diretriz de Prevenção da SBC destacou os benefícios da espiritualidade para o coração. De acordo com o documento, essas pessoas estarão menos vulneráveis diante do estresse, depressão e ansiedade e mais dispostas a praticar exercícios e manter pressão e colesterol em níveis aceitáveis.
O Grupo de Estudos de Cuidados Paliativos da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – analisou dez estudos internacionais identificando de que forma a espiritualidade é integrada aos cuidados dos pacientes com cardiopatias avançadas. Em 60% dos estudos, a espiritualidade é mencionada como recurso de alívio para quem convive com o sofrimento, impactando positivamente na qualidade de vida.
“Você se sente em paz?” foi a pergunta feita em um dos estudos norte-americanos para avaliar o bem-estar espiritual daqueles com insuficiência cardíaca: aproximadamente 1/4 disseram ter pouca sensação de paz. Já uma pesquisa realizada no Quênia encontrou relatos de desconfortos físicos, psicológicos, espirituais e financeiros, além de carência de informações sobre a doença que os acometia. Assim, diante das queixas, ficou claro que se beneficiariam com abordagens holísticas feitas por equipes de cuidados paliativos. Em um estudo realizado no Reino Unido, as abordagens espirituais foram benéficas para pacientes com dores físicas e emocionais. Ter alguém para conversar, o apoio de cuidadores, demonstração de sensibilidade/fomento de esperança e suporte espiritual domiciliar estavam entre os desejos apontados pelos atendidos.
“Quando falamos em casos graves, a cura não é mais um elemento central”, ressalta a psiquiatra. “O aspecto mais relevante diante deste quadro é o alívio dos sintomas e a garantia de um espaço para produção de mudanças, buscando um novo sentido para as limitações que o adoecimento impõe, compreendendo a realidade somática, psíquica, social e espiritual de cada um.” Segundo ela, é preciso oferecer um cuidado que acolha o sofrimento a partir da singularidade. “Cada sujeito precisa ser visto como único naquele momento e o trabalho deve estar focado em restaurar vínculos entre sua essência e o sentido sagrado de sua existência”, completa a especialista, que também é integrante do Grupo de Estudos de Cuidados Paliativos da SOCESP.
Serviço:
42º Congresso de Cardiologia da SOCESP
Data do evento: 16 a 18 de junho 2022
Local: Transamerica Expo Center, São Paulo/SP
# Mais informações para a imprensa
DOC Press (11) 99955-3939 – Vanessa
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