Empresário ítalo-brasileiro é indicado ao Prêmio Nobel da Paz

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Da Redação – Se o Brasil até hoje não ganhou o Nobel da Paz, não foi por falta de tentativas. Historicamente, essa é a categoria do prêmio que mais recebeu indicações nacionais – e em 2015 não será diferente. Fazendo jus a essa tradição tupiniquim, o empresário ítalo-brasileiro Gaetano Brancati Luigi poderá, em dezembro deste ano, sair de Oslo com um coração cheio de orgulho e seu nome eternizado na história. O motivo? Seu engajamento na promoção da cultura de paz ao redor do mundo.

A história que inspirou o sr. Luigi – como carinhosamente é chamado nos corredores da Associação Comercial de São Paulo, onde bate o ponto diariamente e atua como assessor da presidência – começou em 1949, quando, aos 12 anos de idade, ele deixou a cidade italiana de Orsomarso em busca de dias melhores na América do Sul, após as agruras do pós-guerra.

“Meu pai foi convocado para as forças armadas, o que obrigou minha mãe, de forma heroica, a cuidar sozinha dos filhos”, relata, com um sotaque acolhedor. Luigi desembarcou na Argentina. Vinte anos mais tarde, chegou ao Brasil.

Em 1999, como vice-presidente da ACSP, ele percebeu que o sino da igreja do Pátio do Colégio – que fica em frente à entidade – não tocava. “Eu falei para o padre na época: a igreja não pode ficar sem a campana!”.

Com o apoio da Associação e de um empresário da área de fundição de metais, um sino novo foi instalado na torre do Pátio. No dia da inauguração – no mesmo lugar em que a cidade de São Paulo foi fundada – nascia também, na mente e no coração de Luigi, um ideal. “Quando a luz do Sol bateu no sino e foi refletida nos meus olhos, tive a ideia de criar o Marco da Paz”, relata, emocionado.

E não parou por aí: o monumento foi difundido pelo mundo e está atualmente em 23 localidades, buscando disseminar a cultura de paz e a fraternidade entre os povos. “A ideia surgiu do sentimento de um garoto que passou muitas dificuldades. A credibilidade que o Marco da Paz tem no mundo é muito grande, com projetos de instalação em andamento nos cinco continentes”, relata sr. Luigi.

O Nobel – A altruísta persistência de Luigi em espalhar o sentimento de amor pelo mundo tem chamado a atenção de autoridades e líderes globais. Como resultado dessa obstinação, ele teve seu nome indicado ao Nobel da Paz – a categoria do prêmio em que mais brasileiros são indicados, evidenciando a tradição verde e amarela nessa área.

A ideia de indicar o sr. Luigi ao Nobel é cogitada há alguns anos, mas sempre esbarrou na questão do indicador. Neste ano, sua indicação virou realidade e veio por intermédio do jurista paulista Dircêo Torrecillas, livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP) e membro da Comissão de Direito Constitucional da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de São Paulo (OAB-SP).

Torrecillas faz parte do seleto clube das pessoas que têm o direito de fazer indicações ao Nobel da Paz: membros de assembleias, governos nacionais e cortes internacionais; reitores de universidades; professores de ciências sociais, história, filosofia, direito e teologia; diretores de institutos de pesquisas da paz e de política internacional; ganhadores do Nobel da Paz; diretores de organizações que já receberam o prêmio. Integrantes, ex-integrantes e ex-conselheiros do Comitê Norueguês do Nobel também compõem o grupo.

Antigo conhecedor da história e da batalha de Luigi, Torrecillas não hesitou em indicar o criador do Marco da Paz. “É uma história emocionante, que tem levado a cultura de paz para todas as regiões do planeta. Ele é um merecedor”, diz o jurista.

Em maio deste ano, Instituto Norueguês do Nobel enviou email a Torrecillas, confirmando o recebimento de todos os documentos para nomeação. “A documentação será lida e avaliada e uma decisão será feita se a nomeação é válida ou não”, informa o Instituto. A mensagem também esclarece que a validade da nomeação só é confirmada 50 anos depois de recebida a documentação, por conta de uma cláusula de confidencialidade.

Para Luigi, a confirmação de inscrição já é motivo de muito orgulho e alegria. “O Marco da Paz nasceu com luz própria e sempre contou com o apoio de muitas pessoas nesses anos de luta. Sem o suporte de todos esses amigos, o monumento não teria conseguido resultados tão expressivos”, comemora o indicado.

Ainda que não ganhe o tão cobiçado prêmio, o empresário e cidadão do mundo Gaetano Luigi já faz parte de um rol de grandes compatriotas nomeados: Cândido Rondon, Barão de Rio Branco, Oswaldo Aranha e Raul Fernandes são alguns dos cidadãos brasileiros oficialmente nomeados ao prêmio – com nomeação validada depois de cinco décadas.

Extraoficialmente, Orlando Villas-Bôas, Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Evaristo Arns, Irmã Dulce, Betinho e Helder Câmara também já concorreram.

“É uma realização conjunta. Tenho encontrado muito carinho, amor e respeito em todos os lugares do mundo. Precisamos colocar uma gotinha de amor em nossas mentes para florescer a paz em nossos corações”, conclui Luigi, o missionário da paz.

De acordo com o site do Prêmio Nobel da Paz, neste ano 273 candidatos estão concorrendo, sendo 68 organizações e 205 pessoas. É o segundo maior número de concorrentes da história da premiação, atrás apenas do ano passado, quando houve 278.

Segunda Guerra Mundial

Gaetano Luigi cresceu na Itália durante a Segunda Grande Guerra, convivendo de perto com a fome e o medo – “medo, inclusive, de crescer”, diz ele em referência à necessidade que os governos tinham de recrutar cidadãos que completassem certa idade para compor suas linhas de frente.

Luigi conta que, na época, quando uma criança saía na rua com um pedaço de pão, não hesitava em compartilhar o pouco que tinha com os outros bambinos do bairro.

“Em 1945, quando tocaram os sinos da Europa, anunciando o fim da guerra, foi o renascer da esperança para todos. Os povos saíram às praças, gritando com alegria e vendo renascer aquilo que todo mundo desejava: a paz”.

A imagem marcou de maneira tão profunda o imaginário do então pequeno Luigi, que décadas mais tarde iria se inspirar justamente na figura do sino para conceber a ideia do Marco da Paz.

Hoje, o monumento pode ser visto em países como Portugal, China, Argentina, México, Itália e Uruguai. Além disso, estão sendo instaladas réplicas em outras nações da África, da Europa e da Ásia. Na Itália, há um Marco da Paz em Assis e outro em Orsomarso, cidade natal de Luigi.

Ao lado de colaboradores e apoiadores, ele tem viajado o mundo para semear a cultura da concórdia entre as nações. Por causa dessa sua jornada de perseverança e abnegação, foi recebido em 2011 pelo papa Bento 16, que lhe disse: “Segue o caminho que Deus te deu”.

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