* Raphael Ozawa – Se existe um aspecto que ganhou força nos últimos tempos é o senso de empatia e coletividade. Em meio a maior pandemia das últimas gerações, surgiu uma rede de pessoas com um único propósito: a preservação da vida. O olhar para o próximo, tido sempre como um pressuposto essencial para o funcionamento de qualquer sociedade, parecia ter se perdido na corrida desenfreada por avanços mercadológicos.
Mas, com o inesperado surgimento do coronavírus, em dezembro de 2019, a visão sistêmica para combate e enfrentamento da crise sanitária e financeira voltou-se para questões primordiais de sustentabilidade. Afinal como podemos criar um mundo melhor? Ficou claro que uma das respostas é a busca por soluções para preservação do meio ambiente e outras problemáticas da sociedade.
Pensando nisso, nota-se um fortalecimento da prática de Empreendedorismo Social, com o desenvolvimento de ações capazes de gerar impactos positivos e transformações no mundo. Adotar essa prática no ensino básico é um movimento inerente da revolução que estamos vivenciando na área da educação.
Desde a década de 1980, especialmente quando as iniciativas socioambientais resultaram em negócios rentáveis, o termo Empreendedorismo Social vem ganhando força no Brasil. Nesse período, houve uma queda nos investimentos públicos em programas de assistência social, o que acarretou um crescimento da desigualdade e uma maior participação do setor privado em ações no campo social. Essa movimentação filantrópica passou a ser planejada e monitorada por empresas e cidadãos.
Agora, diante de uma nova realidade, o universo da educação incorpora essa vertente e se propõe a engajar as pessoas desde a infância nesse objetivo, que contempla perspectivas históricas, culturais e sociais, para proporcionar um mundo em que todos tenham acesso a direitos básicos e a uma vida digna.
Mas como implementar o Empreendedorismo Social no ensino básico? O primeiro passo é pensar na educação como uma comunidade formada por grupos diversos e multietários, com crianças de diferentes idades, realidades sociais e étnicas.
O impacto transformacional na educação acontece a partir do momento em que a escola é repensada como um todo em quesitos de locação, papel do professor e trajetória do estudante. Por exemplo, porque não criar um coletivo de mestres, tutores e especialistas de diversas áreas que será responsável por orientar projetos que apresentam soluções sustentáveis? Trata-se da transformação de uma educação conteudista para uma educação com propósito.
Engajar estudantes nesse modelo de ensino requer um trabalho diário para mantê-los informados sobre o que está acontecendo no cotidiano global e regional. Quais são as principais problemáticas mundiais e do país em que vivem? Como a comunidade mais próxima está vivendo? O bairro e arredores da escola estão enfrentando dificuldades? Essas questões interligam os alunos à realidade e, consequentemente, os aproximam de pontos fundamentais para o desenvolvimento humano.
Somado a isso é essencial descobrir os principais interesses e necessidades de cada estudante e oferecer autonomia para que, no coletivo de mestres, colegas e familiares, eles proponham soluções para os principais dilemas socioambientais. A tecnologia e a inovação são peças indispensáveis nesse processo transformacional.
Quem atua na área de educação sabe o quanto é gratificante ver crianças e jovens motivados e envolvidos em um projeto. Ainda mais quando esse planejamento proporciona mudanças significativas para o mundo. Os 17 objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU visam solucionar problemas relacionados à pobreza, fome, desigualdade social e falta de saneamento básico e devem ser atingidos até 2030. As chances de juntos alcançarmos essas metas não seriam muito maiores se ensinarmos nossas crianças, desde cedo, a terem um pensamento crítico, coletivo, solidário e empático?
Mas seria até irônico tentar promover essa mudança significativa considerando apenas o ensino em âmbito privado. Por isso convido vocês a repensarmos a educação como um todo e para todos!
Vamos apoiar as escolas públicas, oferecer consultorias e plataformas inovadoras que proporcionem uma metodologia ativa, gestão participativa e, juntos, construiremos uma educação para um mundo melhor.
* Raphael Ozawa é empreendedor, especialista em tecnologia educacional e CEO da Lumiar Educação.
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