* Claudio Castro – Cinco anos em três meses. O número pode assustar aos mais céticos, porém, essa é a estimativa do desenvolvimento da educação com o quadro da pandemia que se instalou mundo afora entre 2019 e 2020. Desde a Segunda Guerra Mundial, as escolas de todo o mundo não eram fechadas ao mesmo tempo e pelo mesmo motivo.
Essa medida fez com que, especificamente no Brasil, as diferenças entre o público – seja ele federal, estadual ou municipal – e o privado fossem completamente escancaradas e, mais do nunca, enxergou-se que o sistema educacional brasileiro precisa se reinventar. A educação tradicional, que costumava caminhar a passos lentos no processo de digitalização, precisou acelerar, como nunca, sua modernização.
Mundialmente, mais de 1,5 bilhão de alunos e 60,3 milhões de professores de 165 países foram afetados pelo fechamento de escolas devido à pandemia do coronavírus. No Brasil, foram 52,8 milhões de alunos afetados, da educação infantil ao ensino superior. O que antes era um modelo engessado, com aulas tradicionais em sala, chamadas de presenças, provas com fiscais e horários definidos para educação física e recreio, por exemplo, tornou-se um modelo flexível com aulas on-line e gravadas, avaliações que não proíbem consulta e um aumento na interação dos estudantes com professores, seja durante a aula ou em chats dos sistemas de aula. Um modelo de ensino focado no resultado, onde o aluno torna-se responsável por seu aprendizado e as escolas precisam ensinar além das disciplinas tradicionais. Será preciso ensinar sobre gestão de tempo, empreendedorismo, educação financeira, além de desenvolver competências socioemocionais.
Antes do Covid-19 (a.C.) o termo da moda era “Educação 4.0”, em alusão à quarta revolução industrial, guiada pela internet, com digitalização, coleta e análise de dados. Uma iniciativa principalmente do setor privado para impulsionar os resultados do Brasil que, de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nos coloca muito abaixo da média dos 79 países analisados na última avaliação. Em matemática, estamos na 70º posição; em ciências, na 66º; em leitura, somos o 57º. Porém, essa nova tendência caminhava a passos curtos, uma vez que poucas escolas ofereciam condições tecnológicas e estrutura pedagógica para suportar tamanhas mudanças.
A situação em que nos encontramos é difícil e desafiadora. A crise de aprendizagem já percebida em todo o mundo é resultado da ineficácia já presente no ensino presencial [analógico]. Os estudantes se formam nas escolas com déficits significativos em relação ao que deveriam ter aprendido e os impactos de uma educação básica problemática acontecem como uma cascata, prejudicando todos os ensinos posteriores.
Estamos assistindo a uma verdadeira revolução no ensino, onde educadores não apenas precisam, mas estão experimentando novas possibilidades de ensinar. É surpreendente ver como os estudantes, pais e escolas adotaram, efetivamente, um perfil colaborativo no processo de aprendizagem ― e isso é um grande avanço para um dos setores mais resistentes às mudanças advindas das novas tecnologias. É o que chamamos de inovação aberta, com a participação de vários agentes.
Do ponto de vista de formação de professores, será preciso que o ensino superior reveja os currículos dos cursos, uma vez que a incorporação de tecnologias não é trabalhada pela grande maioria das faculdades de Pedagogia na formação inicial dos professores. A revolução que estamos vivendo na educação vai exigir que os profissionais façam uma aplicação bem-feita da tecnologia no seu cotidiano e isso não significa apenas usar a tecnologia para a transmissão das aulas, mas quer dizer que é preciso desenvolver uma proposta e uma prática pedagógica baseada nela.
Não podemos deixar de analisar sob o ponto de vista econômico. A educação nunca mais será a mesma e muitas instituições de ensino não sobreviverão a essas mudanças. Planejamento passa a ser fundamental para que as escolas possam entender esses “novos alunos”, que buscam muito mais que uma formação escolar, mas desejam um projeto educacional inovador, focada nos resultados, com metodologias ativas e um ensino híbrido, que leve o estudante para o ambiente escolar presencial apenas quando for necessário.
Claro que a educação depois do coronavírus (d.C.) não terá uma conversão definitiva do ensino presencial para o virtual. Na era pós-pandemia, mais do que nunca, será necessário estar aliado à tecnologia. Temos que aproveitar este momento para aprender e desenvolver recursos tecnológicos que são essenciais para projetarmos o futuro, que já é presente. Um presente que exige estimular ainda mais o aprendizado e possibilitar, de maneira inteligente, o melhor uso das ferramentas e plataformas da internet.
* Claudio Castro é Empreendedor, Investidor-anjo, CEO e Fundador da Ensinar Tecnologia, Sócio da Pitang Consultoria, Sunrise, Brainy Resolutions, VP de Inovação da Sucesu-PE e do Instituto Êxito de Empreendedorismo
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