Editora Civilização Brasileira lança a biografia de Frei Betto

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image003Da Redação – Filho de uma tradicional família mineira, com mãe católica e pai avesso aos homens de batina, Frei Betto teve uma infância e adolescência agitadas em Belo Horizonte na década de 60.

Com um primo, se fantasiava de Zorro para entrar na casa dos amigos à noite e assustar as “vítimas”. A dupla fazia dublagens de artistas como Elvis Presley e Maurice Chevalier e chegaram a marcar uma apresentação na TV Italocomi, da qual Frei Betto desistiu.

Sua carreira artística não decolou, mas a paixão pelos livros já era latente e o talento para escrever, também. O adolescente Betto namorava, andava com uma turminha do bairro que aprontava pelas ruas e chegou a ser expulso de uma das escolas onde estudava por se recusar a apresentar um trabalho em francês numa aula.

Foi na mudança para um colégio público, onde estudava à noite e com colegas de várias classes sociais, que Betto começou a mudar. Logo depois, conheceu e entrou para a Juventude Estudantil Católica e percebeu que tinha uma vocação: a religiosa.

Essas e tantas outras histórias saborosas estão na biografia “Frei Betto”, escrita pela jornalista Evanize Sydow e o historiador Américo Freire e publicada agora pela Civilização Brasileira. Os dois revelam detalhes da vida e da obra de Frei Betto, passando por momentos-chave como a descoberta de sua vocação, a militância na educação e na Igreja e o engajamento na luta contra a ditadura no Brasil instaurada pelos militares em 1964. Sua resistência lhe rendeu uma prisão, mas também um dos seus principais livros: “Batismo de sangue”, em que conta a participação dos frades dominicanos do Convento das Perdizes na Aliança Libertadora Nacional e na captura e morte de seu principal líder, Carlos Marighela.

Os autores fizeram longas entrevistas com Frei Betto para o livro e não deixaram temas polêmicos de fora da obra, como o fato do biografado não ter sofrido tortura na prisão por ser sobrinho de um general que tinha ligações com os militares no poder. A controversa saída de Frei Betto do governo Lula, registrada no livro “A mosca azul”, e as críticas que recebeu dos petistas por isso também estão registradas. Os autores mostram como Frei Betto mantinha relações com vários setores da sociedade e também circulava com desenvoltura e tinha bom diálogo com pessoas de classes sociais diferentes.

O livro traz a sua participação na Teologia da Libertação, corrente mais progressista da Igreja Católica, e sua atuação nas greves do ABC paulista, onde estreitou a amizade com Lula, na criação do Partido dos Trabalhadores e nas campanhas petistas à Presidência da República. Revela também seus hábitos simples, sua carreira literária e a sedução que exerce sobre as mulheres. Para Frei Betto, que, segundo a obra, já experimentou o Santo Daime e se consultou com cartomantes, o celibato proporciona a liberdade de poder ter várias amigas, sem o compromisso de um casamento.

A sua vocação para ajudar os amigos e pessoas em dificuldades materiais ou espirituais é uma característica ressaltada na biografia de Frei Betto. Na doença e na morte de Tancredo Neves, por exemplo, Betto era uma presença frequente no hospital e, por ordem de dona Risoleta Neves, viajou no avião que levava o corpo do então presidente para Minas – mesmo com a contrariedade da cúpula militar, recém-saída da ditadura, da qual Frei Betto era considerado um dos inimigos. Muito próximo à família Buarque de Hollanda, batizou uma das filhas de Chico Buarque, Helena, a pedido da própria, com a qual manteve longas conversas sobre religião.

Também foi a religião que o aproximou definitivamente de Fidel Castro, que escreveu o prefácio desta biografia. O brasileiro é autor de um dos maiores best-sellers da história editorial cubana, “Fidel e a religião: conversas com Frei Betto”, no qual o ex-presidente de Cuba afirma, para surpresa dos compatriotas, a necessidade de união entre cristãos e comunistas. Frei Betto acompanhou a visita de dois Papas católicos a Cuba e é uma espécie de consultor e traço de união da Ilha com Roma.

Com depoimentos de escritores, como Luiz Ruffato e Raduan Nassar, e personalidades como o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel e o arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, “Frei Betto – Biografia” revela o significado histórico da vida e do trabalho desse personagem que fez da religião, da política, da literatura e da militância instrumentos para a criação de uma sociedade democrática e plural, que possa acolher todos os cidadãos e diminuir as desigualdades sociais no mundo.

SOBRE OS AUTORES – AMÉRICO FREIRE é historiador, doutor em História Social, professor do CPDOC/FGV, pesquisador do CNPq e autor dos livros Uma capital para a República, Sinais trocados: o Rio de Janeiro e a República brasileira, entre outros. Organizou, com Jorge Ferreira, A razão indignada: Leonel Brizola em dois tempos (Civilização Brasileira, 2016).

EVANIZE SYDOW é jornalista, mestre em História e autora da biografia Dom Paulo Evaristo Arns, um homem amado e perseguido. É consultora especializada nas temáticas ligadas aos direitos humanos.

Ficha Técnica

Descrição: 9788520013007
FREI BETTO – BIOGRAFIA
Américo Freire e Evanize Sydow
Páginas: 472
Preço: R$ 54,90
Editora: Civilização Brasileira / Grupo Editorial Record

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