Em novo livro, escritor Diego Rates mergulha no realismo mágico para discutir temas como culpabilidade e ineficiência do sistema policial
Se no clássico A Bela e a Fera espanadores, xícaras, bules e relógios de parede ganharam vida para contar uma história de amor, em Os Diálogos de Uma Cena de Crime, do escritor Diego Rates, é a vez das evidências de um assassinato protagonizarem uma narrativa eletrizante envolta em suspense e mistério.
Nesta obra repleta de realismo mágico, a arma usada para matar, as digitais deixadas para trás e o cadáver ganham status de testemunhas oculares de uma execução. Com personalidades marcantes e pontos de vista diferentes sobre o que realmente aconteceu, estes objetos até então inanimados promovem diálogos mórbidos hilariantes.
Naquele exato momento, as evidências se encontravam a caminho da delegacia. Não era tão longe de onde
estavam, no apartamento da cena de crime. O falecido costumava se gabar da boa localização de seu
apartamento, enquanto ainda tinha vida. Agora se gabava um pouco menos. Às vezes a ironia do
destino realmente é muito cruel. “Será que nós já estamos chegando?”, perguntou a Arma.
(Os Diálogos de Uma Cena de Crime, pg. 23)
Inspirado por nomes como Franz Kafka, Dostoievsk e Haruki Murakami, Rates faz de Os Diálogos de Uma Cena de Crime um verdadeiro exercício criativo. Com muita perspicácia, a obra responde questionamentos inerentes do gênero policial como “Quem é o assassino?”, mas alcança o terreno do extraordinário ao elucidar a grande pergunta: “Como as evidências criaram vida?”.
Mesmo lúdica e bem-humorada, a narrativa explora temas relevantes como a ineficiência do sistema policial e a falta de recursos para a investigação e resolução de crimes violentos como os assassinatos. O livro também expõe os padrões de terceirização da culpa para aliviar os criminosos responsáveis.
Sobre o autor – Técnico de Informática, Diego Rates, 22 anos, é um apaixonado por literatura. Inspirado pela obra de Machado de Assis, especialmente “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, escreveu seu primeiro livro “As Últimas Memórias de um Morto-Vivo”. Ele lança agora seu segundo título, “Os Diálogos de Uma Cena de Crime”, e prepara a publicação do inédito “O Homem e a Cópia”.
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