Da Redação – Uma pintura rupestre, uma escultura grega outra romana, uma obra de arte medieval, um quadro surrealista, ou ainda uma fotografia do atual cenário da pandemia da COVID-19 no Brasil… O que essas imagens possuem em comum? Pode ser que a princípio nada, mas basta analisarmos o contexto em que foram produzidas para compreendermos as mudanças comportamentais da sociedade que culminaram, inclusive, na atual polarização ideológica em que estamos, bem como na dificuldade em se combater a pandemia atual.
Tudo isso e muito mais é abordado por meio de análises profundas pelo pesquisador acadêmico Jack Brandão, professor universitário e doutor em literatura pela USP. Estudioso da questão imagética há mais de 30 anos, Brandão é diretor do Centro de Estudos Imagéticos CONDES-FOTÓS Imago Lab e uma das principais referências, no Brasil, sobre o estudo da imagem e sua influência na sociedade. Atualmente, o professor promove encontros gratuitos, realizados virtualmente, para pesquisadores acadêmicos das mais diversas áreas, interessados em estudar o poder da imagem e como esta nos influencia sem nos darmos conta.
“Um dos grandes problemas da humanidade está na forma como, muitas vezes, lemos as imagens de modo equivocado, sem nos darmos conta de que foram produzidas por autores com determinada intencionalidade”, afirma Brandão. Assim, em seu laboratório de análise imagética, o professor insere seus pesquisadores em uma verdadeira viagem, visando a aprimorar a leitura crítica de tudo aquilo que nos cerca.
Ao considerarmos os exemplos que abrem esse texto, podemos perceber as variações de leituras imagéticas e comportamentais do ser humano, conforme nos explica Brandão: “Em cada período da história, a imagem possui uma função diferente. Na era paleolítica, o homem retratava animais na caverna porque acreditava adquirir sua força, ou seja, a imagem possuía uma função mítica. Já na Idade Média, os artistas pintavam quadros seguindo determinados modelos estabelecidos, logo, a imagem possuía uma função mimética e de instrução, por exemplo”.
No século XIX, segundo o pesquisador, ocorre o rompimento total do mimetismo e os artistas passam a valorizar a originalidade, ou seja, não reproduzem mais o real, mas o que vem de dentro, a emoção. Até porque, com o surgimento da fotografia, em 1826, a máquina passou a reproduzir aquilo que a obra de arte mimética já reproduzia. Logo, a mão artística se desprendeu dos traços realísticos para produzir outros, dando origem, mais tarde, no século XX, a movimentos como o surrealismo e o cubismo.
Mas, como nos aponta o professor, eis um grande perigo: quanto mais a imagem fotográfica parece estar próxima do real, mais distante ela pode estar, considerando que ela é resultado do olhar do fotógrafo. Este, por sua vez, seleciona o que registrar, excluindo outros elementos. “Não nos esqueçamos de que a não imagem também nos comunica muito, sem contar que quando inserimos legenda em uma fotografia, já condicionamos a interpretação do leitor sobre a foto”.
No cenário atual, marcado pela explosão imagética no espaço virtual, muitos internautas tendem a consumir apenas imagens condizentes com suas crenças, muitas vezes, sem se atentarem para as manipulações empregadas.
A jornalista Mariana Mascarenhas, pesquisadora acadêmica do CONDES-FOTÓS, por exemplo, conta que passou a enxergar o mundo de um modo totalmente diferente, a partir do emprego das imagens, desde que começou a participar dos encontros do grupo. “É assustador perceber como muitas pessoas foram influenciadas pelo poder imagético de tal forma, que se tornaram defensoras da propagação de inverdades e questionadoras de tudo aquilo que levou anos para ser comprovado cientificamente. É o caso do negacionismo, da descrença na ciência e de tantas outras situações que nos auxiliam a compreender o cenário atual”.
A partir das pesquisas desenvolvidas no grupo, a jornalista conseguiu elaborar um estudo aprofundado sobre as mudanças no processo comunicacional desde a Idade Média até os dias de hoje e chegou a conclusões espantosas: “Embora hoje tenhamos acesso a diversos meios imagéticos, seu emprego equivocado está provocando regressos assustadores na forma como lemos as imagens”. O resultado de sua pesquisa será publicado em breve em um livro.
Para conhecer mais sobre o grupo e adentrar nesse universo imagético, acesse: http://condesfotosimagolab.com.br/ ou entre em contato pelo e-mail contato@condesfotosimagolab.com.br
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